Há uma espécie de maldição que caiu nos últimos seis anos sobre o vencedor da Supertaça de Espanha: quem ganha o troféu, nunca consegue ser campeão no final da temporada. É certo que só mesmo os malucos das estatísticas se poderiam lembrar disso, mas quem visse a primeira parte do primeiro grande clássico oficial da temporada entre Barcelona e Real Madrid poderia mesmo achar que as equipas levam mesmo isso a sério. Mas foi só mesmo na primeira parte: o resto do encontro foi fantástico e com dois grandes protagonistas: Gerard Piqué e Cristiano Ronaldo. Mas já vamos a esse particular que marcou o Clássico.

Recuemos ao último ano em que isso não aconteceu: 2011. Ainda se recorda desse jogo em Camp Nou? Quase de certeza que não. Mas foi um jogo eletrizante que terminou 3-2 para os catalães (2-2 em Madrid) com golos de Iniesta, Ronaldo, Messu (dois) e Benzema que teve três expulsões (Marcelo, David Villa e Özil). E se dissermos que foi aquele jogo em que houve confusão entre treinadores? Assim já é capaz de soar qualquer coisa: foi nesse dia que Tito Vilanova terá provocado José Mourinho e o português pegou-se com o espanhol perante o olhar impávido e sereno de um senhor de bigode que se tornou notícia a partir desse momento.

Francesc Satorra, que ficou conhecido como o ‘The Observer’ ou ‘O homem do bigode’, foi nomeado como uma das personalidades do ano por causa desse episódio. Trabalha há três décadas no clube, sendo responsável por tudo o que se passe nos corredores de Camp Nou e de outros pormenores logísticos como as fichas de jogo. É raro aparecer, mas surgiu naquele dia à hora errada no local errado. Teve dezenas de solicitações para entrevistas, nunca quis falar e permanece a fazer o seu trabalho, de forma discreta.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Esta noite, além de Satorra, o único bigode que se viu em Camp Nou foi mesmo o do Real Madrid, que venceu por 3-1 na estreia oficial de Ernesto Valverde no comando do Barcelona. É certo que em determinados momentos, sobretudo na primeira parte, até parecia haver uma espécie de pacto de não agressão entre os dois rivais. Oportunidades? Quase nada: uma (ou mais uma, porque este miúdo é um génio) jogada fabulosa de Isco com um remate ao lado (18′), uma saída rapidíssima de Navas a fazer a mancha aos pés de Messi (33′), uma defesa de recurso de Ter Stegen a um tiro forte de Gareth Bale (37′) e mais nada. Mas a segunda parte veio mudar por completo esse filme.

Os merengues começaram praticamente a ganhar e com um auto-golo de Gerard Piqué (50′). A época ainda mal começou, mas não há mesmo nada que corra bem ao central que há uns tempos escreveu que o amigo Neymar ficava no Barcelona quando, afinal, já sabia que se ia embora (pelo menos disse isso ontem, em conferência de imprensa). A certa altura, o internacional espanhol, um dos futebolistas mais ativos no Twitter e que não perde uma oportunidade para ‘picar’ o Real, veio criticar todo esse universo das redes sociais.

“Vivemos num mundo em que as pessoas estão tristes e gostam muito de criticar. O melhor exemplo são as redes sociais, onde todo o mundo expressa a sua raiva e tristeza. Vejam a forma como se critica o Ney [Neymar], o seu pai e os seus amigos. Aqui toda a gente julga, mas se têm um salário ou uma comissão por algo, é porque fazem um trabalho e o clube aceita. Quantos de vocês que estão aqui são competentes e, por mais dinheiro, trocariam o Sport pelo Mundo Deportivo ou o As pela Marca? Se for um futebolista, é um ‘pesetero'”, exclamou.

As coisa não andam fáceis para o central que no ano passado somou polémicas atrás de polémicas: as críticas aos árbitros e ao presidente da Liga de Futebol, os comentários aos sorteios do Real Madrid na Champions, a despedida da seleção espanhola, uma conferência de imprensa onde se ‘atirou’ aos jornalistas, as farpas à TVE. E há uma pessoa que também não ajuda nada a melhorar esta maré do espanhol: Cristiano Ronaldo, o melhor do mundo que ‘se quedou” em Madrid.

O avançado português esteve no bom, no ótimo e no mau: entrado aos 58′ para o lugar de Benzema, foi uma peça fundamental na estratégia das transições rápidas de Zidane, apontou um golo fabuloso que fez o momentâneo 2-1 (80′, já depois do empate de Messi de penálti três minutos antes, por uma falta “forçada” de Navas sobre Luis Suárez) e viu o segundo cartão amarelo (tinha visto o primeiro por tirar a camisola nos festejos, muito falados pelas parecenças com a forma como Messi festejou no ano passado no Santiago Bernabéu) por uma alegada simulação de penálti que não existiu, mesmo que se possa admitir que Umtiti não fez falta sobre o português (83′). Quanto muito, poderia ter sido pelo pedido de falta, mas até aí seria excesso de zelo. Pior: deu depois um pequeno empurrão ao árbitro…

https://www.youtube.com/watch?v=rObu7HsaKkQ

https://www.youtube.com/watch?v=ZkHe8Vx3eEA

Asensio, em cima do 90′, acabou por fazer o 3-1 final de uma partida onde o Barça criou algumas oportunidades mas nunca revelou aquela harmonia habitual em termos ofensivos, numa transição rápida que terminou com um fantástico remate ao ângulo sem hipóteses para Ter Stegen. Como Del Bosque tem vindo a dizer, este miúdo vai ser mesmo o futuro da seleção espanhola. E na próxima quarta-feira terá a missão de “fazer” de Ronaldo, que irá ser castigado depois de uma expulsão em Camp Nou que ainda vai dar muito que falar. A não ser que os catalães acreditem que quem ganha a Supertaça falha o Campeonato…

https://twitter.com/TeamCRonaldo/status/896851353871495168

P.S. E para juntar as peças todas do puzzle, Neymar anda todo contente da vida no PSG, tendo marcado um golo e feito uma assistência para Cavani no triunfo por 3-0 dos parisienses frente ao Guingamp.