As imagens, quando começaram a circular, vinham acompanhas com o aviso: “estas imagens podem chocar os espetadores mais sensíveis”. Numa rua estreita da cidade de Charlottesville, no estado norte-americano de Virgínia, um carro preto acelerou contra um grupo de pessoas que estavam a manifestar-se contra a marcha de extrema-direita que foi organizada durante o fim-de-semana nesta cidade universitária.

Veloz, avançou sobre os contra-manifestantes, que tinham sido desviados para ali pela polícia para evitar que as duas marchas entrassem em confronto. As imagens mostram pessoas projetadas por cima do carro e outras que foram abalrroadas quando o condutor fez marcha-atrás para sair da rua.

O homem ao volante era James Alex Fields Júnior, um jovem de 20 anos, com ligações conhecidas à extrema-direita e que foi detido pelas autoridades, sem possibilidade de liberdade através do pagamento de fiança. Está acusado de homicídio em segundo grau, atropelamento seguido de fuga, falha em assistir feridos e intenção de provocar ferimentos. Heather Heyer, uma conhecida ativista local pela diversidade racial, de 32 anos, sucumbiu aos ferimentos provocados pelo atropelamento.

O jovem é originário do estado do Kentucky, tendo depois mudado para o seu próprio apartamento, em Maumee, Ohio. A imprensa local conseguiu encontrar a mãe, Samatha Bloom, que garantiu que, no dia anterior, pediu ao filho que protestasse de forma “pacífica”. Segundo o jornal Toledo Blade, a mãe de Fields comentou que o filho tinha amigos afro-americanos e que pensou que a demonstração fosse de apoio a Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos, que, na sua opinião, “não é um supremacista”.

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A cadência de informação sobre Fields inundou as redes sociais e vários foram os meios de comunicação norte-americanos que tentaram prestar informação sobre a personalidade deste homem e sobre a razão porque se decidiu por uma forma violenta de protesto. Na página do Buzzfeed surgiram registos do seu nome como membro do Partido Republicano o que, por seu lado, provocou a reação de outros militantes que consideraram ofensivo ligar as ações de Fields ao partido.

Também o seu perfil de Facebook, que entretanto foi apagado, foi reproduzido em diversas publicações na internet. Algumas das fotografias que estavam disponíveis no mural desta rede social mostram um jovem com clara filiação na extrema-direita. Além de imagens de Adolf Hitler, também existiam várias fotos relativas ao grupo Vanguard America, uma associação supremacista branca cujo lema é “sangue e solo”, do ““blut und boden” alemão, uma alusão à defesa da pureza da raça.

https://twitter.com/VanguardAm/status/894240174137384960

A Liga Contra a Difamação descreve a Vanguard America sublinhando a especial atenção ao recrutamento de jovens nas universidades e falando num esforço “sem paralelo” em outra organização de extrema-direita nos Estados Unidos. A organização nega que Fields fizesse parte das suas fileiras. O grupo tem cerca de 200 membros em 20 estados e os seus panfletos exploram temas com títulos como “Imagina uma América sem Muçulmanos” ou “Fascismo: O Próximo Passo para a América”. O líder, Dillon Irizarry, já disse que o futuro do fascismo é a juventude.

Carro colide com manifestantes durante os protestos de extrema-direita em Charlottesville. Há uma morte confirmada

Um tio de Fields disse ao Washington Post que o pai do jovem tinha morrido num acidente de viação, relacionado com o consumo de álcool antes do nascimento de James Fields. “Aos 18 anos, ele pediu-me o dinheiro que o pai lhe tinha deixado num fundo e foi essa a última vez que o vi”, disse, sob anonimato, acrescentado que Field “não era muito simpático, era bastante apagado” nas reuniões de família.

Derek Weimer, ex-professor de História de Fields, disse ao The Cincinnati Enquirer conhecer as tendências neo-nazis de Fields, que ficaram claras num trabalho que ele fez para a sua disciplina em que se notava um “encantamento com a ideologia”. Weimer ressalvou, porém, que Fields estava “desiludido, um pouco perdido”, mas que era “muito inteligente”.

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Desde cedo que Alex Fields tinha demonstrado interesse em ingressar no exército, o que acabou por acontecer em agosto de 2015. No entanto, escreve o New York Times, menos de quatro meses depois o seu período no ativo terminou abruptamente. O professor Weimer disse, contudo, que Fields tinha sido afastado por “problemas psicológicos” e que isso, “conjugado com as ideias que defendia”, rapidamente se transformou na “receita para o desastre”.