O ex-Presidente da República timorense José Ramos Horta mostrou-se esta segunda-feira otimista que o próximo Governo, liderado pela Fretilin, poderá ter elementos “emprestados” de vários partidos, incluindo os líderes do CNRT e PLP, Xanana Gusmão e Taur Matan Ruak.

“Precisamos de um governo forte e estável e nada melhor que ter pessoas como Mari, Taur e Xanana, cada um numa área estratégica”, disse José Ramos-Horta em declarações à Lusa em Díli.

Nós os timorenses conseguimos encontrar soluções para algumas situações aparentemente complexas e difíceis. Passados alguns dias de ânimos mais exaltados, de exceções, vem o realismo, o apelo ao país, o sentido de responsabilidade de cada um”, afirmou.

O líder timorense falava à Lusa depois do Presidente da República, Francisco Guterres Lu-Olo, se ter reunido com os líderes dos dois partidos mais votados, Mari Alkatiri, secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), e Xanana Gusmão, presidente do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT).

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Horta disse que foi uma iniciativa “louvável” do chefe de Estado e que todos ficaram “felizes por os três se reunirem”, especialmente porque há “questões institucionais e políticas, independentemente da solução governativa, que se têm que resolver”.

Em concreto, disse, “a recondução de Xanana Gusmão e restante equipa” à frente das negociações com a Austrália sobre as fronteiras marítimas e, consequentemente, sobre o impacto que isso terá no projeto de desenvolvimento da costa sul, conhecido como Tasi Mane.

Questionado sobre as opções de governação, Ramos-Horta considerou “improvável” que o CNRT venha a formar coligação com a Fretilin mas possível que o partido “empreste” elementos para o Governo ou para instituições públicas, com um cargo para Xanana Gusmão.

A conclusão do processo do Mar de Timor abre grandes perspetivas do desenvolvimento da costa sul, do projeto de Tasi Mane, que é a grande visão e determinação de Xanana Gusmão. Sendo assim, é de todo o interesse o envolvimento pleno de Xanana Gusmão na futura governação”, disse.

“Como membro do executivo, mas com um estatuto que condiz com a personalidade de Xanana Gusmão, de ser ex-chefe de Estado, ex-primeiro-ministro, fundador do país e o grande arquiteto do projeto Tasi Mane e outros, para a modernização do país. Esse cargo poderia ser uma função do género de alta autoridade para o desenvolvimento da costa sul, subjacente ao gabinete do primeiro-ministro”, defendeu.

No caso do PLP, Ramos-Horta admite que caso não avance a possibilidade de coligação, o partido também poderá “emprestar” elementos seus para o Governo.

“A preferência de Mari Alkatiri tem sido a participação plena do PLP na governação do país. Pessoalmente acho que Taur Matan Ruak, uma pessoa credível e rigorosa, faria um bom duo com Mari Alkatiri, como vice-primeiro-ministro ou como ministro coordenador para algumas áreas”, disse.

Sobre o seu próprio papel no futuro, Ramos-Horta disse ter já indicado a Mari Alkatiri que continua disponível para “apoiar em quaisquer modelos ou condições que em conjunto” acharem ideal.

Posso estar incluído na governação, continuar fora, mas sempre a colaborar e a apoiar”, disse.

A Fretilin deverá reunir-se na quarta-feira com a liderança do PLP e do KHUNTO, partidos que formalmente convidou para formar uma “plataforma de governação”, podendo ainda reunir-se com a direção do Partido Democrático (PD), na quinta-feira.

Recorde-se que a Fretilin elegeu 23 deputados nas legislativas de 22 de julho, mais um que o CNRT, com o PLP a eleger oito, o PD sete e o Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) cinco.