O Sporting realizou esta manhã o último treino antes do encontro frente ao Steaua e Alan Ruíz pode ter sofrido uma recaída ou uma nova lesão impeditiva de jogar à noite. Em qualquer uma das hipóteses, e em condições normais, seria integrado na convocatória outro elemento com características ofensivas. Que existe, como Gelson Dala ou Mattheus Oliveira. Ou, no limite, um médio defensivo, como Palhinha ou Petrovic. Mas não, de repente foi anunciado que Fábio Coentrão, tinha ficado de fora por questões técnicas, entrava nos 18. E até foi titular.

Ficha de jogo

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Sporting-Steaua, 0-0

Primeira mão do playoff da Champions

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Felix Brych (Alemanha)

Sporting: Rui Patrício; Piccini, Coates, Mathieu, Fábio Coentrão (Iuri Medeiros, 86′); Battaglia, Adrien (Bruno Fernandes, 67′); Gelson Martins, Acuña, Podence (Doumbia, 60′) e Bas Dost

Suplentes não utilizados: Salin, Tobias Figueiredo, Jonathan Silva e Bruno César

Treinador: Jorge Jesus

Steaua: Florin Nita; Enache, Ionut Larie, Momcilovic, Júnior Morais; Mihai Pinilii, Ovidiu Popescu; Filipe Teixeira, Florin Tanase (Achim, 83′), Catalin Golofca (William Amorim, 67′) e Denis Alibec (Harlem Gnohéré, 90′)

Suplentes não utilizados: Stanciouiu, Pleasca, Dennis Man e Lucian Filip

Treinador: Nicolae Dica

Golos: nada a registar

Ação disciplinar: cartão amarelo a Pintilii (32′ e 80′), Piccini (56′), Acuña (63′), Tanase (64′), Popescu (70′), Battaglia (82′), Bruno Fernandes (84′), Doumbia (86′) e Larie (89′); cartão vermelho por acumulação a Pintilii (80′)

Surpresa, opção de recurso ou circunstância inesperada, a verdade é que Jorge Jesus arriscou no bluff. Era uma cartada importante para os leões, não só em termos de temporada mas também a nível de reconhecimento europeu, como o próprio treinador defendeu antes do encontro. Mas o que se viu? É que o conjunto verde e branco não tinha sequer um par (de médios) para ir a jogo. E foi essa falta de ideias e dinâmica no corredor central que acabou por secar os reis e os ases que a equipa apresenta nas posições mais avançadas e que ficaram na manga de uma defesa bem estruturada e com blocos baixos.

O Sporting começou a tentar colocar todas as cartas na mesa em termos ofensivos, numa entrada semelhante à que tinha registado frente ao V. Setúbal. É certo que o Steaua ainda conseguiu por duas vezes sair com algum critério em transição, mas o domínio dos leões era completo com muitos cantos, um remate ao lado de Podence e um disparo de Piccini enquadrado com a baliza mas à figura do guarda-redes romeno.

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Percebia-se pelo posicionamento do corpo dos médios do Steaua o que estavam ali a fazer: com bola, vinham para trás para fugir das zonas de pressão verde e brancas; sem bola controlada, era toquezinho para o lado duas ou três vezes até ficarem sem a bola. No entanto, no plano defensivo, os visitantes sentiam-se cada vez mais confortáveis em termos de posicionamento e ocasiões claras para golo, nada.

Acuña, desmarcado na área por Podence numa diagonal, atirou rasteiro ao poste na melhor oportunidade do Sporting na primeira parte (23′). Era curto, sobretudo percebendo-se a diferença de qualidade e valia entre os dois conjuntos. Mas o Steaua ainda tinha um trunfo por jogar, aquela cartada que pode fazer a diferença. E que por pouco não fez: em três minutos, Alibec, que já tinha disparado um míssil à baliza de Rui Patrício, viu o campeão europeu de seleções negar-lhe o golo aos pés (29′) e depois ainda tentou um chapéu com perigo… do meio-campo (31′).

Nada corria bem aos comandados de Jesus, que mesmo quando tentavam sacar uma carta nova da manga, como aconteceu num livre estudado aos 44′, nem iam a jogo para colocar em perigo a baliza dos romenos. Com os corredores laterais a tentarem espevitar o jogo, através de Gelson Martins e Acuña, o Sporting tinha um problema central que anulava o melhor de três cartas: Battaglia, que fazia jus ao nome e ia tentando recuperar bolas quase na área do Steaua, dava o mote para haver uma maior intensidade no jogo, mas pecava no critério na primeira fase de construção; Adrien, sempre em inferioridade no meio-campo, nunca conseguiu transportar bola nem entrar nas habituais triangulações que os leões promovem no setor ofensivo; e Podence estava refém da falta de profundidade no ataque, perdendo-se sem bola entre linhas.

A segunda parte manteve as mesmas características. Ou quase: a partir do momento em que entraram Doumbia e Bruno Fernandes em campo, as unidades ofensivas do Steaua já tinham dado o berro em termos físicos, pelo que se jogava muito e cada vez mais no meio-campo dos romenos. Mas muito e cada vez mais sem critério, a forçar por zonas obstruídas, a arriscar cruzamentos apenas com a presença de Dost sozinho na área. Já mal se pensava: era ir sacando cartas à espera que alguma fizesse um par, um trio, uma sequência, qualquer coisa. E no meio de tanta ansiedade, Enache ainda falhou isolado o golo… pelo lado de um esgotado Coentrão (77′).

Pintilii, aos 80′, viu o segundo amarelo e deixou os visitantes reduzidos a dez (a quantidade de cartões mostrados durante o encontro foi qualquer coisa inexplicável), mas nem assim o Sporting conseguiu encontrar a jogada mais ou menos perfeita que levasse ao golo. E até mesmo num lance de grande confusão na área do Steaua, a mão de Nita ainda conseguiu tirar a bola do espaço de Dost, anulando a última hipótese de quebrar o 0-0 (90+1′).

O Sporting não perdeu nada e joga daqui a uma semana, na Roménia, a passagem à fase de grupos da Champions. Mas, no rescaldo da partida, também deve colocar as cartas todas na mesa e perceber o que falta: capacidade de fluir jogo na primeira fase de construção, capacidade de jogar entre linhas e conseguir criar superioridade em terrenos mais avançados, capacidade de acelerar em triangulações para servir Bas Dost. Sendo que, com Bruno Fernandes em campo, metade do problema fica resolvida; o resto, chama-se William. Ou as características de William. Battaglia e Adrien são bons jogadores, mas juntos chegam a anular-se e, separados, não conseguem fazer o que o número 14 faz.