“Foi magnífico! Podemos matar 32 todos os dias”. Assim reagiu o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, depois de mais uma operação policial em Bulacan, um distrito ao norte da capital, Manila, ter feito 32 mortos na madrugada de terça-feira. É a noite mais negra desde que a campanha contra as drogas de Duterte começou em força, em junho do ano passado, logo depois de ter sido eleito, mas não é uma tragédia nova. Já na madrugada de quinta-feira mais 26 pessoas morreram.

Desde que Duterte chegou ao poder mais de 7,000 pessoas caíram vítimas desta luta do presidente das Filipinas contra o tráfico de droga — segundo a polícia, 3.000 terão morrido em ações policiais e os restantes assassinados por ‘gangs de justiceiros’, os chamados ‘esquadrões da morte’, cuja violência Duterte nunca repudiou. A Human Rights Watch já denunciou a situação várias vezes, e fala em crimes contra a humanidade cometidos com a conivência do presidente que já prometeu aos seus militares e polícias que não serão julgados por matarem traficantes de droga.

O coronel Erwin Margarejo, porta-voz da polícia de Manila descreveu as mais de 100 operações que decorreram deste o início da semana como operações “grandes, que só se fazem uma ou duas vezes” e frisou, como já o tinha feito a polícia de Bulacan, que a polícia só disparou porque os suspeitos se recusaram a cooperar com as autoridades.

A retórica incendiária do presidente das Filipinas também não é novidade mas a questão é entender até quando a comunidade internacional ficará a observar nas margens. Rodrigo Duterte não permite a entrada de observadores ou investigadores na área dos recursos humanos e, recentemente, pressionado pelas organizações não-governamentais a por um fim a esta campanha, disse que “um dia” iria “investigar os grupos de direitos humanos por conspiração” ameaçando ativistas com a morte. “Se estão a obstruir a justiça, então matamo-los, que é para eles verem o que é direitos humanos”, disse.

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A Human Rights Watch já denunciou esta ameaça. O vice-diretor da operação da ONG na Ásia, Phelim Kin, quer que Duterte seja investigado por instigar à violência contra os ativistas filipinas pelos direitos humanos e disse que estas palavras são equivalentes a “desenhar nas costas de pessoas corajosas, que lutam para proteger os direitos e a dignidade dos filipinos, um enorme alvo”.

“A nossa investigação à ‘luta contra as drogas’ nas Filipinas demonstra que a polícia, como rotina, mata suspeitos de tráfico a sangue frio e depois encobrem os seus crimes colocando drogas e armas nos bolsos dos mortos”, disse Peter Bouckaert, o diretor de emergências na mesma organização.

Os grupos armadas de homens encapuçados, alerta também o mesmo relatório, trabalham em conluio com a polícia, já que as autoridades nunca disparam contra nem prendem estes ‘vigilantes’.