“De referir que o clube A [Desp. Chaves], no final do jogo, ofereceu à equipa de arbitragem uma lembrança regional sem valor comercial (…) No final do jogo, o delegado do SL Benfica ofereceu a cada elemento da equipa de arbitragem uma camisola do clube”, escreveu Jorge Sousa no relatório. “Correu uma longa distância vindo na minha direção, gritando em forma de protesto: ‘Agora já marcas falta, mas para nós não marcas nada’”, disse Fábio Veríssimo sobre o cartão amarelo mostrado a Tomané aos 50 minutos do encontro entre o Tondela e o FC Porto.

No seguimento do clima de guerrilha que se adensou na última temporada na Primeira Liga, a Federação não só avançou com o vídeo-árbitro para todos os encontros como passou também a divulgar os relatórios de jogo. Ou seja, e a partir de agora, não só os lances de maior relevo numa partida são escrutinados com recurso às novas tecnologias como o que se passou em campo passa a ser do domínio público. O que acrescenta? Por exemplo, através do que escreveu Rui Oliveira, percebeu-se o porquê da expulsão do presidente do P. Ferreira na receção ao Desp. Aves já depois do final do encontro.

“Nos acessos ao balneário, no final do jogo, o Sr. Presidente do clube A [P. Ferreira] dirigiu-se a mim protestando o tempo de compensação dado na segunda parte do jogo, onde lhe pedi para ter calma. Ato contínuo, o Sr. Rui Seabra tentou entrar no meu balneário, não o conseguindo fazer. De seguida, o AA1 [Paulo Vieira] dirigiu-se ao mesmo, voltando a pedir calma e dizendo ‘aceitamos a sua opinião’, ao que o Sr. Presidente do P. Ferreira respondeu ‘É a minha opinião o car*****’. Ouvimos de seguida um estrondo fora do balneário. Considerei este comportamento irresponsável, por isso considerei expulso o Sr. Rui Manuel Proença Seabra”, defendeu.

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Mas o que tem afinal um relatório de jogo? Os nomes da equipa de arbitragem, os delegados nomeados, a ficha e os dados do jogo, a constituição do banco de suplentes com respetivas funções de todos os elementos, os responsáveis pelo controlo anti-doping, a nomeação do diretor de campo, de segurança e de imprensa, eventuais protestos feitos por algum dos clubes, a explicação das advertências (nomeadamente o porquê de cada um dos cartões amarelos ou vermelhos) e as ocorrências do encontro. Com a particularidade de passarem a ser discriminadas as eventuais ofertas simbólicas feitas no final das partidas.

“Quando nos preparávamos para abandonar o estádio, o delegado do clube A [Boavista] ofertou uma garrafa de Vinho do Porto e cada um dos elementos da equipa de arbitragem”, escreveu Luís Ferreira após o Boavista-Rio Ave, que os axadrezados perderam por 2-1 na segunda ronda da Primeira Liga.

Outro dos pontos muitos abordados tem a ver com os atrasos nas entradas e reentradas em campo das equipas, com devidas justificações que possam ou não ter sido dadas pelos capitães ou responsáveis dos conjuntos em causa. No V. Setúbal-Moreirense, na primeira jornada, o atraso deveu-se à assistência médica ao árbitro auxiliar Bruno Venâncio, como também consta no relatório de jogo disponibilizado pela Federação. O Benfica-Sp. Braga, também da ronda inaugural, foi o único jogo até ao momento onde um árbitro, neste caso Carlos Xistra, fez menção ao rebentamento de um petardo e ao arremesso de uma garrafa de plástico com alguma água para o terreno “com o objetivo de acertar no árbitro”.

Estes relatórios de jogo acrescentam-se agora às deliberações do Conselho de Disciplina da Secção Profissional da Federação, que já antes eram divulgadas em termos públicos. Aí, todas as incidências ocorridas em cada um dos jogos são sancionadas, havendo a explicação do porquê de cada uma das decisões.

Alguns exemplos da primeira jornada: o Benfica teve de pagar 2.449 euros na receção ao Sp. Braga por comportamento incorreto do público, nomeadamente permanência de materiais pirotécnicos no recinto, arremesso de uma garrafa de plástico, deflagração de tochas e flash lights e rebentamento de petardos; ao FC Porto chegou uma sanção de 1.990 euros por atraso na reentrada em campo, permanência de materiais pirotécnicos no recinto, comportamento incorreto do público com cânticos ofensivo, rebentamento de petardo e deflagração de pote de fumo; o Sp. Braga foi sancionado com 383 euros de multa por cânticos incorretos e ofensivos contra o adversário; e o Desp. Chaves foi punido com 459 euros por entoarem “gatuno” em coro e repetidamente para o árbitro.

Mais tarde, mas ainda relativo à ronda inaugural, Portimonense e Boavista foram também punidos com multas de 612 e 1.148 euros, respetivamente, depois de ter chegado o Relatório de Policiamento Desportivo da PSP. Recorde-se que adeptos dos dois clubes envolveram-se em confrontos físicos que seriam depois travados, tendo ainda havido registo de arremesso de cadeiras e derrube de uma rede de proteção.

Na segunda jornada, Benfica e FC Porto voltaram a ser os clubes mais punidos pelo comportamento dos seus adeptos em Chaves e em Tondela, mas também V. Guimarães (arremesso de uma garrafa de água), P. Ferreira e Desp. Aves (cânticos ofensivos) foram multados na sequência dos seus encontros.