Nem parece que já passaram seis anos desde que a Arminho começou a folhear os primeiros cadernos. Dentro da oficina, tipografia, ilustração e encadernação continuam a completar-se, tal como nos primeiros tempos. João Rodrigues e Raquel Silva trabalham sem pressas e, mesmo com uma marca que há muito galgou fronteiras, só fazem o que realmente lhes dá prazer. “Somos só os dois e não temos uma logística rotineira. Trabalhamos ao sabor das nossas ideias e em função do que temos vontade de fazer”, afirma Raquel, de 27 anos. João é um ano mais velho. Conheceram-se nos corredores da ESAD (Escola Superior de Artes e Design), nas Caldas da Rainha, e a sintonia dura até hoje. Ele de Portalegre, ela de Viseu, em 2011 juntaram mais do que os trapinhos. Havia um gosto em comum pela arte aplicada ao papel. Ainda o revivalismo não era a febre que hoje se vê, já os dois corriam pequenas papelarias e alfarrabistas em busca de cadernos antigos. As folhas, por muito amareladas que estivessem, eram mantidas intactas. Só as novas capas, muitas ilustradas, eram acrescentadas a estes objetos de estacionário com história.

Raquel Silva e João Rodrigues criaram a Arminho em 2011 e continuam a ser os únicos a trabalhar na oficina da marca © Divulgação

Em 2011, terminam o curso e montam o atelier de tipografia, no Porto. Precisavam de maquinaria pesada e de ferramentas já em desuso. O que não encontraram por cá, em lojas de antiguidades e feiras de velharias, mandaram vir de Inglaterra e da Alemanha. Quando já ninguém se dava ao trabalho de compor palavras e frases, tipo a tipo, João e Raquel começaram a fazê-lo. “Quando acabei o curso, já trabalhávamos, por isso nunca chegámos a entrar no mercado de trabalho. Entretanto, a marca foi crescendo e passado um ou dois anos já estávamos a viver só do atelier”, conta Raquel.

Muito mais do que produzir cadernos em série, a Arminho foi crescendo para outros territórios. Vieram os posters, com uma inspiração direta na ilustração científica, e mais tarde os herbários, pequenas placas de madeira gravadas, pensadas para pressionar um bloco de folhas. Lá dentro, há espaço para dezenas de espécies botânicas. Da mesma forma que a natureza desafia João e Raquel a irem mais longe, também há uma curiosidade inerente ao génio criativo do casal que os faz deitar mãos a novos materiais. Falamos do recente interesse de João pela cerâmica que resultou numa coleção de frascos e canecas, já esgotada, em perfeita harmonia com os outros produtos da marca. Depois, há as ideias que nascem dentro do atelier, mas cuja produção recorre a outras mãos-de-obra. É o caso das mochilas em lona, dos óculos, feitos artesanalmente numa fábrica portuguesa, e da mala Vaculum, inspirada nas caixas de metal usadas pelos botânicos no século XVIII. Foi desenhada pela Arminho e produzida por um latoeiro do Norte.

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Já os cadernos, vão-se reinventando. A cada nova edição, são feitas alterações no design, num processo moroso durante o qual o mesmo objeto chega a passar seis e sete vezes pelas mãos dos artesãos. É preciso juntar os carateres, imprimir cada capa. O preceito repete-se com as folhas, uma a uma, sempre que os cadernos são pautados ou têm qualquer outro grafismo. Agrafar, cortar e “cantear” são as tarefas seguintes. As utilizações também se diversificaram e o universo Arminho já não é só composto por meros blocos de notas. Existem páginas específicas para esquemas de tricot, cadernos de jardinagem, para receitas de culinária, listas de compras e diários de viagem.

Através de máquinas e carateres antigos, a marca utiliza uma velha técnica da tipografia © Fotografia retirada do Facebook

Em seis anos, a Arminho cresceu. Em Portugal, pode ainda não ter chegado aos ouvidos da maioria, embora tenha alguns pontos de venda, mas há muito que estes objetos seguem para lojas em todo o mundo. É nos Estados Unidos, na Austrália e no Norte da Europa que estão os principais clientes e os picos de vendas acompanham as referências em blogs e publicações ligadas ao design. Em 2012, João e Raquel viram o seu trabalho em destaque na Etsy. A plataforma mundial escolheu a Arminho como uma das marcas do momento e o impacto foi imediato. “As coisas foram crescendo de uma maneira controlada. São as pessoas e as lojas a virem ter connosco. Nunca quisemos estar em todo o lado e saturar a nossa imagem. Não queremos industrializar aquilo que fazemos”, conclui Raquel.

Em janeiro, a Arminho mudou de poiso. Já vai no terceiro, sempre condicionada pela quantidade e pelo tamanho das ferramentas e máquinas. Depois do Porto, uma quinta em Viseu. “Para nós sempre fez sentido estar perto da natureza”, admite Raquel. Os planos são ambiciosos e, se se concretizarem, vão levar o slow design até ao patamar seguinte. “Gostávamos de trazer mais as pessoas para este ambiente”, completa. Cursos? Workshops? Residências? O casal ainda está a cozinhar a ideia, sempre sem mãos a medir, nunca com pressa.

Nome: Arminho
Data: 2011
Pontos de venda: loja online
Preços: 4,50€ a 120€

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