Caem (leia-se: na enfermaria) como tordos. Há muito que o Benfica tem um problema (ou azar? — problema é certamente) com lesões, um problema que Rui Vitória tem resolvido trocando de “Maneis” (citando o antecessor Jesus) sem que o Benfica se ressinta nos resultados. Há quatro habituais titulares que estão no “estaleiro” do Seixal entre tratamentos e ginásio. Júlio César tem uma tendinopatia na perna esquerda. Grimaldo uma lesão muscular na perna direita e Fejsa, também na perna direita, um traumatismo. A lesão muscular de Mitroglou é na coxa esquerda. E ainda há Zivkovic com um traumatismo, também na coxa, mas a direita e não a esquerda. Não sabem os adeptos (o boletim clínico estranhamente não o diz) quando os voltarão a ver. Se lhes sentem a falta? Talvez não. Este sábado à noite, não.

Varela quase não teve o que fazer na baliza — e foi o “espetador” com o lugar com melhor vista no estádio –, entre uma fífia ou outro e passes mal medidos Eliseu lá atinou, Seferovic continua a “molhar a sopa” no lugar que fora (assim, dificilmente voltará a sê-lo) de Mitroglou, e até Filipe Augusto (que tinha a missão de substituir Fejsa e a quem a pré-época não correu particularmente bem) disse “presente” a trinco: sessente e nove passes acertados é obra. E depois há os outros, os do costume, Pizzi, Salvio, Jonas, a quem a enfermaria não tem visto e que preencheram a Luz de assistências (Pizzi), dribles (Salvio) e golos (hat-trick de Jonas). Sim, os que não estão na enfermariam também são bons.

Priiiii, escutou-se do apito reluzente de Rui Costa, a bola rolou até fora do circulo de meio-campo, mas rapidamente (em somente dois minutos, nem tanto) lá retornaria. Livre à direita, Pizzi cruza para a pequena área, Jonas escapa ao empurra-puxa de Gonçalo Silva e cabeceia, sozinho, para o primeiro golo da noite na Luz. Tudo simples. Talvez demasiadamente simples. O brasileiro ultrapassa Mats Magnusson e, com oitenta e oito golos, é o segundor melhor goleador estrangeiro da história do Benfica — Cardozo é o melhor com cento e setenta e dois.

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Só por uma (!) ocasião o Belenenses procuraria o golo em todo o encontro. Foi pouco depois do golo do Benfica (nove minutos) por Diogo Viana. Fífia de Eliseu à esquerda, o passe (tinha falhado cinco até então, metade dos que tentou) é uma “desmarcação” para Viana, que se isola, entra na área e remata cruzado, defendendo Varela para a frente. A bola sobre para Roni à entrada da área, o brasileiro não remata, perde demasiado tempo e acaba por desmarcar Yebda mais à esquerda, mas o cruzamento que se seguiu para a dentro da área não chegou a ninguém do Belenenses… nem do Benfica. Saiu pela linha lateral no lado oposto.

Jogava-se à rabia na Luz — e os visitantes nem sentiam o couro à bola. O Benfica insistia, o Belenenses resistia, a bola sobrou aos vinte e oito minutos para Salvio à entrada da área e o argentino (mais em jeito do que força) meteu a bola na “gaveta” — leia-se: o canto superior direito da baliza de Muriel. Tudo começou num canto à direita, Pizzi cruzou para área, Luisão cabeceou e o guarda-redes do Belenenses fez uma defesa miraculosa, Cervi tentou a recarga e não conseguiu, Filipe Agustou também tentaria e tal como Cervi não o conseguira, até que a bola chegou à entrada da área e Salvio. O resto é talento.

O Benfica quase não precisava de acelerar para importunar a defesa do Belenenses. Nem precisava tão pouco de circular a bola qual “abre-latas” — a defesa dos do Restelo apresentava, fora os laterais, três centrais mais o trinco Yebda. E aos trinta e três minutos, o Benfica foi direto ao que interessa, o golo. A bola estava na defesa do Benfica, é prontamente colocada na frente, Jonas salta mais alto do que Gonçalo Silva a meio-campo e toca-a de cabeça, acabando por isolar Seferovic. O suíço correu, correu e, chegado à área, escolheu o lado a descoberto na baliza a bateu Muriel. Nas últimas duas temporadas, no Eintracht, Seferovic marcou somente quatro golos. Em 2015/16 precisou de trinta e cinco encontros para o conseguir; em 2016/17 precisaria de vinte. Esta só precisou de quatro. E continua a contar…

O intervalo não chegaria sem um valente brrrrruuuaaaaa nas bancadas — e a defesa do Belenenses a meter água. Gonçalo Silva estava disparatado desde o começo. E continuou. Com muito a quem passar aos quarenta e dois minutos, entregaria a bola a Jonas a meio-campo, o brasileiro viu Muriel adiantado na baliza e, logo dali, rematou. Acertaria no poste.

A segunda parte foi mais aborrecida do que a primeira. Não o que o Benfica não tentasse que a contagem se avolumasse, mas ora Muriel defendia como podia, ora o ataque do Benfica não atinava com a direção. Os últimos seis minutos valeram por quarenta e três minutos menos efusivos. Eis a cronologia: aos oitenta e oito minutos, Jonas desmarca Jiménez na direita, o mexicano entra na área e prontamente remata cruzado. O poste esquerdo do Beleneneses (Muriel estava batido) negou-lhe o festejo. Aos noventa, se antes foi Jonas quem assistiu Jiménez, agora é o mexicano quem assiste o brasileiro. O passe é “redondinho” e deixa Jonas isolado à entrada da área. Mas a receção orientada no peito — rematando depois à “gaveta” de canhota sem deixar a bola tocar a relva — é de um futebolista como há poucos em Portugal.

No derradeiro de quatro minutos de compensação, Jiménez desmarca Pizzi à direita, o português cruza para o poste mais distante, onde Jonas surge a encostas de carrinho. Mão cheia de golos na Luz, hat-trick do “Pistolas”. Mais: Rui Vitória tem o melhor arranque de sempre no Benfica: quatro jogos, quatro vitórias, doze golos marcados e somente dois sofridos.