Pepe Brix, fotógrafo documental português, é o autor deste artigo, sexto da história “Este Verão Portugal é Mini”

Há muito tempo que a beleza da região algarvia se propagou pelas redes internacionais de agenciamento turístico, atraindo uma imensidão de gente, sobretudo nos meses de verão. Apesar da incursão maciça, algumas das praias selvagens da Costa Vicentina mantêm-se assim mesmo, selvagens. Numa intenção clara de manter viva a principal razão pela qual tanta gente a começou a procurar, a zona costeira de Sagres mantém-se autêntica, fiel à memória dos seus antepassados, rica em mato raso e caminhos de terra que se subdividem para nos levar às mais espantosas praias.

As de acesso mais fácil são naturalmente as mais visitadas e, como seria de esperar, aquelas que não escaparam às concessões dos negócios de verão. Praias essas que levantam no ar um cheiro característico de verão. Um cheiro a mar e sol que se intensifica na pele dos banhistas, coberta de protetor solar.

Haverá sempre quem prefira escapulir-se de toda essa algazarra e procurar lugares mais calmos. Contudo, há também quem aproveite a procura turística dessas praias que se estendem ao longo de Sagres para arranjar um trabalho de verão, combinando o útil e o agradável e passar um verão pacato nessas magníficas praias.

Uma das atividades mais exploradas nos meses de verão e que transformam profundamente a atmosfera das praias, impondo-lhes um novo ritmo, são as escolas de surf. Com um crescimento abrupto do número de escolas durante os últimos anos, hoje são já mais de quarenta em toda a região do Algarve. A corrida das escolas às praias é tal que obrigou a que novas medidas de gestão fossem implementadas, para garantir que tudo aconteça de forma organizada e sem incidentes. Cada escola fica afeta a uma determinada praia, e apenas ali pode operar durante todo o verão. Uma medida que ajuda a garantir que o espaço existente chegue para todos (banhistas, surfistas e aspirantes) sem que se fira o âmago dessas belas praias.

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Oriundos das vilas e cidades vizinhas, crescidos e criados perto do mar, alguns amantes do surf aproveitam as férias de verão para ingressar no frenesim das escolas de surf em Sagres. É tão bonito ver como partilham o conhecimento que têm com todos os forasteiros que chegam sedentos de ondas, desejosos de sentirem, finalmente, a magia de usarem uma massa de água, que se formou a muitas milhas de distância, no meio do oceano, e “dropá-la” com uma prancha nos pés.

Muitos dos instrutores que trabalham nas redondezas conhecem-se bem e nutrem uma amizade que cresce de verão em verão. Nas horas mortas, ou sempre que o mar se levanta, tornando-se demasiado forte para os iniciantes, eles esquecem o trabalho por momentos e varrem a costa à procura das melhores ondas.

Longe de qualquer preocupação, seguem sorridentes numa carrinha só, cheia de pranchas e apetrechos de surf. A música ajuda a manterem-se ligados e a elevar esse sentimento de verão e de liberdade ao seu expoente máximo. Assim que chegam à praia, os olhos perdem-se no azul, enquanto procuram as linhas que se formam no mar e que lhes indicam se valerá ou não a pena descer a falésia e vestir o fato de surf. Descalços, felizes, com os rostos besuntados de protetor solar e com os cabelos já queimados do sol e do sal da época, fazem o seu caminho de prancha de baixo de braço até às tão esperadas ondas.

Sagres tem, de facto, o melhor de todos os mundos para oferecer a quem procura umas férias inspiradas pela filosofia de vida do surf. Filosofia esta que não acaba quando a prancha é pousada em terra. À noite, na pacatez da vila, a música que quebra o silêncio das ruas, convida-os a prolongar o dia e a regá-lo com mais uma Mini e muito boa disposição. Amanhã, o mar cedo dirá se retomarão as aulas ou, se uma vez mais, apanham uma das suas carrinhas para juntos irem em busca das melhores ondas.

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