O primeiro jogo entre FC Porto e Moreirense realizou-se a 19 de abril de 2003, ainda nas Antas. E os dragões recordaram esse momento nas redes sociais durante a semana, naquelas imagens antigas a que ninguém consegue ficar indiferente. Na época seguinte, ambos os conjuntos voltaram a encontrar-se à 28.ª jornada, de novo com José Mourinho e Manuel Machado no banco e um tal de Sérgio Conceição, que tinha regressado de Itália, a ser titular na ala direita do ataque portista. Nos dois encontros, os visitados venceram mas tiveram de sofrer.

13 anos depois, Manuel Machado voltou a orientar os cónegos no reduto azul e branco, mas desta vez Sérgio Conceição chegou-se um pouco mais para o lado como quem ataca para a baliza onde costumam estar os Super Dragões, coisa de uns meros passinhos, e trocou a ala direita colado à linha pelo banco. E este FC Porto, já agora, continua a ser ganhador como o de Mourinho mas está a atravessar um momento ao nível daqueles que a equipa teve para vencer com o Special One no plano nacional e europeu (Taça UEFA e Liga dos Campeões). Aliás, é de tal forma que ainda vai arranjar problemas a Ricardo Carvalho.

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E quem é Ricardo Carvalho? Não, não falamos de Ricardo Alberto Silveira Carvalho, o central campeão europeu de clubes e seleções que ainda joga, aos 39 anos, na China. Neste caso, referimo-nos a Ricardo Manuel Vasconcelos Carvalho. Quem? O diretor de campo do FC Porto. E porquê? Porque a forma como os dragões passaram a jogar com Sérgio Conceição alterou as medidas do relvado e retirou uma baliza. Se a Liga se apercebe, vai ser uma chatice e chegará de certeza um castigo.

Ficha de jogo

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FC Porto-Moreirense, 3-0

3.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Manuel Oliveira (AF Porto)

FC Porto: Casillas; Maxi Pereira, Felipe, Marcano, Alex Telles; Danilo, Óliver Torres; Corona (Hernâni, 67′), Brahimi (Otávio, 46′), Marega e Aboubakar (Layún, 83′)

Suplentes não utilizados: José Sá, Diego Reyes, Herrera e André André

Treinador: Sérgio Conceição

Moreirense: Jhonatan; Pierre Sagna, André Micael, Abarhoune, Rúben Lima; Alfa Semedo (Neto, 46′), Bruno Ramires, Rafael Costa; Ernest (Cádiz, 46′), Ronaldo Peña (Frédéric Maciel, 70′) e Arsénio

Suplentes não utilizados: Victor Braga, Iago Santos, Alan Schons e Koffi

Treinador: Manuel Machado

Golos: Aboubakar (18′, 21′ e 77′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Neto (68′) e Sagna (87′)

Mas o que é que isto quer dizer em concreto? Significa basicamente três coisas, as mesmas que fizeram toda a diferença no encontro deste domingo: 1) o FC Porto faz questão de alargar ao máximo o seu jogo, com variações rápidas de flanco para conseguir colocar os alas ou mesmo os laterais em situações de 1×1 para cruzamento para a área; 2) a pressão alta exercida em bloco permite que a linha defensiva esteja pouco atrás do meio-campo, não permitindo que o adversário saia com bola e limitando o fluxo da partida a uma só baliza: a adversária; 3) como os adversários acabam por ser “empurrados” para a sua área, há momentos em que os dragões chegam a colocar seis unidades nessa zona para finalização, como aconteceu aos 35′ após cruzamento de Alex Telles.

Assim, o campo não tem 105×68 para os dragões, conforme regulamentado, mas sim 68×105 e apenas com uma baliza, aquela que Jhonatan defendeu (Casillas foi um espetador VIP que acompanhou no relvado as incidências, fazendo apenas uma intervenção a remate de Arsénio aos 86′). E logo aos três minutos, o guarda-redes dos cónegos fez a primeira grande intervenção, com Maxi Pereira (a única surpresa no onze, rendendo Ricardo Pereira na lateral direita da defesa) a lançar longo e Felipe a cabecear mais alto.

O FC Porto dominava por completo, criava zonas de pressão altíssimas que colocavam um Moreirense com poucas ideias num colete de forças, mas também não criava grandes oportunidades de perigo. Quando criou, marcou. E em dose dupla, pelo suspeito do costume, Aboubakar: aos 18′, na sequência de uma boa variação do centro de jogo, Alex Telles ficou com espaço na esquerda para cruzar à vontade para a cabeça do camaronês; aos 21′, no seguimento de uma jogada que teve tentativas prévias de Marega e Óliver Torres antes do toque final para a baliza.

O ascendente azul e branco era de tal forma notório que, aos 30′, foi Danilo a ficar perto do 3-0. E como? Ganhando mais uma bola perto da área do Moreirense, quando os cónegos tentavam sair com bola controlada, e arriscando o remate de fora da área para grande intervenção de Jhonatan. Ainda antes do intervalo, oito dos onze jogadores do FC Porto já tinham rematado à baliza, o que mostrava bem a variedade de recursos dos visitados.

No segundo tempo, Otávio entrou para o lugar de Brahimi (que treinou condicionado durante a semana e apresentou queixas nos minutos iniciais da partida), mas o FC Porto caiu em termos globais por ter apresentado menor intensidade nas zonas de pressão e mais lentidão da circulação da bola. Talvez fosse desgaste físico, talvez fosse um período de menor inspiração, mas a verdade é que, durante 20/25 minutos, o Moreirense conseguiu ir sustendo as ofensivas dos azuis e brancos, mesmo sem conseguir qualquer expressão no ataque.

Mas esta fase era como uma moeda e também tinha a outra face: os comandados de Manuel Machado foram caindo no plano físico, ao ponto de, com meia dúzia de jogadas mais rápidas, voltarem as situações de perigo. E os golos: já depois de uma bola na trave de Marega, Aboubakar aproveitou um corte de Marcano que foi cair nas costas da defesa visitante para avançar para a baliza e disparar sem hipóteses para o primeiro hat-trick como dragão.

O resultado estava feito, o encontro terminou e o campo voltou a ter as dimensões normais: 105×68. Mas durante 90 minutos pareceu ter 68×105. Assim, o FC Porto juntou-se a Benfica, Sporting e Rio Ave na liderança da Primeira Liga, continuando sem sofrer golos neste arranque de temporada. E nem foi preciso ter barba rija como pedia Sérgio Conceição, bastou apenas manter o pelo na venta na forma de abordar o encontro em termos táticos.