A venda ambulante de café nas ruas Luanda, logo às primeiras horas de manhã, tornou-se numa forma de vida para muitos jovens angolanos, que chegam a levar para casa 45 euros por semana, mesmo que sonhando com novas oportunidades.

Servido sempre quente, um copo custa 100 kwanzas (50 cêntimos de euros) e é tomado na rua, por vezes à porta do trabalho, e apesar de a crise ter reduzido as vendas, cada um destes jovens pode servir por dia mais de 40 cafés.

São na sua maioria jovens raparigas, facilmente identificadas com copos descartáveis pendurados, caixa de café instantâneo, um quilograma de açúcar e uma garrafa térmica nas mãos, circulando por Luanda.

“Independentemente do dia, por vezes podemos vender duas caixas de café, que equivalem a 4.000 kwanzas [20 euros], uma vez que em cada caixa tem 20 pacotes que são 20 copos de café”, explicou à Lusa Domingas Fernandes, que há um ano tira deste negócio o seu sustento.

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A jovem vendedora, de 23 anos, afirma ter muitos clientes, uns mais exigentes que preferem café com leite, obrigando a cobrar por este serviço 200 kwanzas (um euro) cada copo.

“Este negócio veio ajudar muitas pessoas, uma vez que o emprego está difícil”, explicou, realçando que circula por Luanda de segunda a sexta-feira.

“Por semana ganhamos 9.000 kwanzas [45 euros]. Com o que ganho já dá para fazer alguns gastos para a família”, conta ainda.

No centro da capital angolana, Getilde Panzo, 16 anos já leva 10 meses a fazer a pé o percurso entre os bairros do Sambizanga e da Mutamba, para poder garantir comida à casa onde vive com a mãe.

Sem possibilidades financeiras para ir à escola, Getilde Panzo confessa que chega a vender por dia uma caixa de café com 20 pacotes. “Por semana ganho 9.000 kwanzas. Estamos com poucos clientes, apesar de estarmos em período de frio onde normalmente há mais clientes”, confessa.

Noutra zona de Luanda, Jéssica Nelito diz fazer negócio por conta própria já lá vão dois anos, mas admite que as vendas reduziram significativamente devido ao número crescente de vendedores.

“Nesse tempo de frio aumentou o número de vendedores de café e estamos com dificuldades de poder vender duas caixas completas, que é a nossa média diária”, conta a jovem, de 25 anos.

Ainda assim, o negócio do café na rua serve para levar comida para casa: “Estamos aqui a lutar pela vida porque não temos emprego. Temos os gastos de casa, estamos a ajeitar-nos para não morrermos de fome”.

O período entre as 05:00 e as 11:00 é o mais favorável para a venda ambulante de café quente nas ruas de Luanda, conforma conta Fernanda Nascimento, outra destas vendedoras.

“Podemos vender por dia 30 a 40 pacotes de café, que equivalem a 40 copos de café no valor de 100 kwanzas cada. E como tudo, temos dias de boas vendas e noutros nem tanto”, apontou.

Com ano e oito meses de experiência a vendedora de 29 anos recorda como decorriam as vendas anteriormente.

“Agora estamos sem lucros porque na cidade aumentou o número de vendedores, antigamente poderia vender 3 caixas e agora apenas duas caixas que são 40 pacotes ou menos”, recordou.

Mas ainda assim, há semana adiantou em que as vendas são satisfatórias onde podem ser vendidas entre 10 e 12 caixas de café que equivalem a 200 ou 240 copos de café por semana.

“Somos pagos por semana 9.000 kwanzas. Temos um responsável que nos contratou para vender café e com esse bocadinho conseguimos fazer alguma coisa em casa”, conclui.