Benjamin Clementine, Ty Segall e Foals. Estes eram os cabeças de cartaz do último dia do Vodafone Paredes de Coura, que recebeu a maior enchente de todo o festival (mais de 27 mil pessoas). As apostas estavam todas na banda de Yannis Philippakis, mas a melancolia de Clementine acabou por levar a melhor, arrebatando todos os corações da plateia. Foi ele o responsável pelo melhor concerto do dia e, quem sabe, de todo o Paredes de Coura.

Benjamin Clementine entrou em palco descalço como é seu costume. Sentou-se ao piano e começou por tocar “By Ports of Europe” (um dos novos temas que tem vindo a apresentar), acompanhado por um coro de vozes femininas e pelo som de um cravo, instrumento que optou usar no novo lançamento por ser “europeu”, como explicou durante a tarde numa breve conferência de imprensa. “Obrigado, Portugal!”, agradeceu no final do tema, em português, arrancando a primeira grande ovação da noite.

A setlist original da atuação no Paredes de Coura, divulgada junto da imprensa, mostrava um alinhamento recheado de outros novos temas, mas Clementine acabou por optar por um caminho diferente. Apesar da boa receção de músicas como “God Save The Jungle” ou “Phantom of Alepoville”, que integram o novo álbum I Tell A Fly (que chega às lojas a 15 de setembro), o músico apercebeu-se de que eram os temas antigos os mais desejados. “Acho que já não preciso de tocar mais o novo álbum”, disse sorridente.

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O músico britânico interpretou alguns dos temas que compõem o seu novo álbum de originais, I Tell A FlyO tema escolhido para a viagem ao passado foi “Condolence”, que transformou num momento particularmente bonito de interação com o público. Depois de pedir que apagassem “todas as luzes” em palco, convidou o público a expulsar os seus demónios, cantando de olhos fechados. “Vamos cantar as condolências ao medo e às inseguranças”, disse, numa referência ao refrão da música. “Parece que fomos feitos para ter medo, mas não vamos ter medo! Fechem os olhos e cantem!” Depois de ensinar os fãs a cantarem o refrão passo a passo, acompanhou-os de pé em cima do palco, longe do piano. À beira do palco, de mãos no ar, sorria de orelha a orelha, como uma criança pequena. Estava feliz, e isso notava-se na forma como repetia frases como “tão bonito” e procurava puxar pelo público.

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Sempre comunicativo, Benjamin Clementine respondeu aos repetidos estrondosos aplausos do público com a humildade que lhe é característica. Dois anos depois de ter vencido o Mercury Prize e de se ter tornado numa estrela (e numa das mais brilhantes), o músico parece ainda ter dificuldades em acreditar no que lhe aconteceu. Apesar do seu ar imponente e da altura de gigante, em cima do palco, assemelha-se mais a uma criança que, apesar de entusiasmada, não consegue evitar sentir-se assustada. Do outro lado, porém, não existem dúvidas: a atenção que tem vindo a receber é mais do que merecida. Porque Clementine é todo ele música, emoção.

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A despedida fez-se com “Adios”, tema já antigo que elevou a um outro patamar durante a atuação deste sábado. “Às vezes vejo anjos, sabem? Mas acho que já vi anjos que cheguem por hoje…”, disse, referindo-se ao público e esboçando um dos muitos sorrisos da noite. “Porque os anjos cantam, sabem? Eu não imitá-los, mas tento…” Não sabemos se havia algum especialista em música de anjos na plateia, mas uma coisa podemos ter certeza: este sábado, Benjamin Clementine voou alto e conseguiu tocar nas estrelas.

Depois das lágrimas, o rock

Ty Segall sabe bem como é que isto se faz. Afinal, já anda nestas andanças desde 2008, altura em que atirou aos primeiros projetos musicais, sempre em nome próprio. Compositor, produtor e músico prolífico, o norte-americano conta com uma lista de lançamentos quase interminável à qual acrescentou recentemente um novo álbum homónimo (o primeiro lançamento, datado de 2008, chama-se precisamente Ty Segall), apenas um ano depois de Emotional Mugger.

O concerto deste sábado no Paredes de Coura foi uma demonstração de rock à moda antiga (com pregos incluídos e tudo), sem compromissos, com guitarradas potentes e aquela pitada de grunge que cai bem em qualquer lado. Atirando temas uns atrás dos outros, sem qualquer descanso, Segall mal teve tempo para trocar umas palavrinhas com o público. O primeiro “olá” só chegou quando o concerto ia mais do que a meio, quando o músico pediu à multidão que erguesse o punho fechado no ar e gritasse “Sam! Sam!”, durante o refrão de “Candy Sam”, tema do Emotional Mugger. Mas será que as palavras eram mesmo precisas? Claro que não. A guitarra de Ty Segall falou por si, abrindo caminho para o último concerto da noite: Foals.

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Nos últimos anos, os Foals tornaram-se uma presença mais ou menos constante nos festivais portugueses. Estiveram no Super Bock Super Rock em 2014 (quando ainda era no Meco), no NOS Alive em 2016 e regressaram agora para a 25ª edição do Paredes de Coura. Uma vez que a banda britânica não lança nada de novo desde 2015, pode-se dizer que a setlist não tem variado muito de todas as vezes que por cá têm tocado. Além de temas de What Went Down (o tal álbum de 2015), como “Mountain At My Gates” ou “Snake Oil”, que abriram o concerto, houve clássicos como “Spanish Sahara” (que já vai com sete anos de idade) ou “Red Socks Pugie”, do primeiro disco, Antidotes (2008).

O vocalista Yannis Philippakis, conhecido pelas atuações enérgicas que chegam até a incluir stage diving, esteve imparável como sempre, elogio que é também válido para a restante banda. O público, que tinha tomado o gosto pelo crowd surfing em Ty Segall, fez o favor de continuar com o mosh duro na linha da frente. Para o final, ficaram os temas da praxe: “What Went Down” e “Two Steps,Twice”, seguidos de “muito obrigado” e uma foto com o público, para mais tarde recordar.

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A atuação dos britânicos era a última desta edição no palco principal do festival e, por essa razão, a organização decidiu guardar uma surpresa para o público. No final do concerto, cantaram-se os parabéns ao Paredes de Coura, que comemora este ano a sua 25º edição, enquanto uma chuva de papéis coloridos caía sobre a multidão. Foram lançadas 25 bolas vermelhas insufláveis e no ecrã gigante apareceram as palavras: “Para sempre”. Parabéns cantados, o público seguiu para o palco secundário para as after-hours. No Palco Vodafone.FM atuaram Thrones + The Shine (às 2h) e Nuno Lopes (às 2h45), que já tinha passado pelo festival anteriormente como DJ.

O Paredes de Coura regressa à Praia Fluvial do Taboão em 2018, entre os dias 15 e 18 de agosto. Até lá, prometemos morrer de saudades.