A Porto Editora já suspendeu a venda dos cadernos de atividades acusados de terem exercícios mais fáceis para raparigas do que para rapazes e de seguirem preconceitos discriminatórios — e “vai transmitir às livrarias e demais pontos de venda essa indicação”.

A editora explica ainda, num comunicado, que “acolhe” a proposta da Comissão para trabalhar com as autoras do dois livros para rever os exercícios que possam ser considerados discriminatórios e vai sugerir “o agendamento de uma reunião de trabalho com a brevidade possível”.

“A Porto Editora acolhe a proposta da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género para trabalhar em conjunto com as autoras dos blocos de atividades que originaram a polémica, no sentido de rever os exercícios que possam ser considerados discriminatórios ou desadequados. Para tal, a Porto Editora vai sugerir o agendamento de uma reunião de trabalho com a brevidade possível.”

A editora volta a afirmar “que as edições em causa não foram trabalhadas sob qualquer perspetiva discriminatória ou preconceituosa, a qual é absolutamente contrária aos valores que norteiam a sua atividade editorial desde sempre”.

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Esta decisão surge pouco tempo depois de a CIG – Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género ter recomendado que os cadernos de atividades da Porto Editora fossem retirados dos pontos de venda, considerando que os livros acentuam “estereótipos de género” e apresentam “diferentes graus de dificuldade em algumas das atividades propostas para rapazes e raparigas”.

“Face ao exposto, a CIG, por orientação do ministro Adjunto [Eduardo Cabrita], recomendou à Porto Editora — tendo em conta o seu relevante papel educativo — que retire estas duas publicações dos pontos de venda.”

A decisão da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género segue uma recomendação do ministro Adjunto Eduardo Cabrita

A comissão disse estar disponível para “colaborar na revisão dos conteúdos das mesmas” para “eliminar as mensagens que possam ser promotoras de uma diferenciação e desvalorização do papel das raparigas no espaço público e dos rapazes no espaço privado”.

Num comunicado enviado pelo gabinete do ministro Adjunto, a comissão diz ter feito uma “avaliação técnica dos conteúdos de dois Blocos de Atividades dirigidos a crianças dos 4 aos 6 anos” e considerou que a Porto Editora “acentua estereótipos de género”.

“Esta editora, ao optar por lançar duas publicações com atividades que diferenciam cores, temas e grau de dificuldade para rapazes e raparigas, acentua estereótipos de género que estão na base de desigualdades profundas dos papéis sociais das mulheres e dos homens.”

A título de exemplo, a CIG destaca a “promoção do contacto com o exterior (campo, árvore, ancinho, águia, etc.)” no livro dirigido aos rapazes, enquanto que na publicação para as raparigas “a atividade apresenta cinco objetos, todos eles ligados a atividades domésticas (leite, manteiga, iogurte, alface e maçã)”.