A empresa de combustíveis Prio está a promover a criação de uma rede nacional de recolha de óleos usados com a instalação de oleões nos postos de combustível, mas também em outros locais. O investimento de três milhões de euros tem um duplo objetivo: aumentar a reciclagem deste tipo de óleos, que no uso doméstico é quase residual, mas também obter mais matéria prima nacional para a produção de biocombustíveis.

A empresa de combustíveis já é o maior produtor de biocombustíveis a partir de óleos alimentares usados, disse ao Observador Emanuel Proença, administrador da Prio que reconhece que o nível de reaproveitamento deste produto é muito baixo em Portugal. O projeto lançado em março deste ano procura inverter esta situação, que não é inédita do mercado nacional, e tirar partido de um produto que pode ser usado para fabricar combustíveis, substituindo importações, de petróleo ou de outros óleos alimentares que são utilizados na produção do biocombustível.

Estão já instalados 39 oleões nos postos Prio em 11 distritos de Portugal, dos quais cinco são avançados, e o plano prevê a instalação de mais 40 destes equipamentos até ao final do ano. A empresa quer ser o principal coletor de óleo alimentar, apostando na instalação de mais de 605 oleões a nível nacional até 2020.

Segundo Emanuel Proença, a Prio é o produtor que usa mais óleos alimentares na produção de biocombustível, representando cerca de 70% da produção total, quando a percentagem dos produtores concorrentes não será superior a 40%.

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No entanto, uma parte deste óleo tem de ser importado porque a reciclagem deste tipo de resíduos em Portugal é muito baixa. Este défice foi recentemente assinalado pela associação ambientalista Zero que avançou estimativas de que anualmente são despejados 35 mil toneladas de óleos alimentares no esgoto. Nas contas da Zero, se estes óleos fossem utilizados no biocombustível poderiam gerar negócios de 28 milhões de euros.

Os revendedores de combustível têm de incorporar 7,5% de biodiesel no gasóleo, em cumprimento das metas definidas a nível europeu. Esta percentagem deverá subir de forma gradual até 2020, ainda que este ano o Governo tenha suspendido o incremento previsto para atenuar o impacto do aumento do imposto petrolífero no preço do gasóleo.

Para o administrador da Prio, a entrada dos óleos usados no circuito da produção de combustível poderá representar até centenas de milhões de euros de poupanças em importações. Mas não é apenas uma questão económica.

Mais de metade dos óleos alimentares usados vão para o esgoto, alerta Zero

O envio de 35 mil toneladas, o correspondente a 60% dos óleos usados — estimativas da Zero com base em dados de 2015 — para os coletores de esgotos domésticos é mais do que um desperdício. Cria “problemas nas estações de tratamento de águas residuais” e pode prejudicar os ecossistemas marinhos, sublinha a associação ambientalista. Segundo a Zero, a menor taxa de reciclagem se verifica ao nível doméstico, embora o setor da restauração, cafés e hotéis, seja o principal gerador de óleos alimentares que ficam por reutilizar.

Para vencer a resistência dos particulares à reciclagem dos óleos alimentares, a Prio está também a oferecer garrafas concebidas para recolher este produto e que se distinguem por um gargalo mais largo, o que facilita o processo de recolha. Nos primeiros cinco meses, foram entregues já mais de cinco mil garrafas, estando prevista a entrega de mais 20 mil a 40 mil este ano. Para implementar a rede nacional, a empresa fez parcerias com vários agentes, desde autarquias, associações e outros recolhedores.

A Prio produziu no ano passado 50 milhões de litros de biodiesel e diz estar entre os três maiores produtores europeus. Para além da produção de biocombustíveis, a empresa tem vindo a crescer no retalho de combustíveis e a rede deverá atingir 250 postos ainda este ano. A marca aposta numa oferta low-cost, mas disponibiliza também produtos aditivados a um preço mais baixo. A Prio, acrescenta Emanuel Proença, tem cerca de 10% da quota no mercado de distribuição de combustíveis e conta instalações logísticas em Aveiro, onde está instalada a unidade de produção de biocombustível.

A Prio foi lançada pela Martifer e atualmente é controlada pelo fundo Oxy Capital.