Podemos ser seguidores fiéis, gostar um bocado, achar piada ou simplesmente ter curiosidade, mas este sábado está garantidamente a ser marcado pelo milionário combate de boxe entre Floyd Mayweather e Conor McGregor. Podemos querer travar uma luta complicada contra o sono, saber apenas quem são estas figuras excêntricas que nos estão a entrar como nunca pelos olhos através da TV ou do mundo digital ou fazer as contas ao que se poderia fazer com tanto dinheiro, mas há qualquer coisa que nos atrai esta noite para aquele mundo. Mas o boxe é muito mais do que isso: é um desporto de paciência, de autocontrolo, de competitividade, de originalidade.

É quando se entra neste contexto entre o imaginário e o real, entre a parte desportiva e o mero entretenimento, que podemos acreditar que de vez em quando o mundo vira ao contrário. E quando pensamos que Seferovic, esse mesmo Seferovic que pica sempre o ponto desde que chegou ao Benfica com golos em todos os jogos, tinha feito apenas um passe certo em 60 minutos e para o guarda-redes Bruno Varela, está tudo dito. Desinspiração individual? Esqueça isso, era mesmo desacerto coletivo: os encarnados não tiveram uma única oportunidade até aos 60 minutos. Nem sequer um remate enquadrado com a baliza à guarda de Cássio.

Ficha de jogo

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Rio Ave-Benfica, 1-1

4.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Rio Ave, em Vila do Conde

Árbitro: Hugo Miguel (AF Lisboa)

Rio Ave: Cássio; Nadjack, Marcelo, Marcão, Bruno Teles; Pelé, Tarantini; Óscar Barreto (Nuno Santos, 74’), Francisco Geraldes (Pedro Moreira, 86’), Rúben Ribeiro e Guedes (Karamanos, 82’)

Suplentes não utilizados: Rui Vieira, Gabrielzinho, João Novais e Nélson Monte

Treinador: Miguel Cardoso

Benfica: Bruno Varela; André Almeida, Luisão, Jardel (Lisandro López, 15’), Eliseu; Filipe Augusto, Pizzi; Rafa (Raúl Jiménez, 79’), Cervi (Zivkovic, 62’), Jonas e Seferovic

Suplentes não utilizados: Júlio César, Samaris, Krovinovic e Diogo Gonçalves

Treinador: Rui Vitória

Golos: Lisandro López (60’, p.b.) e Jonas (66’, g.p.)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Óscar Barreto (31’), Filipe Augusto (55’), Nadjack (64’), Tarantini (66’), Marcelo (90+4’) e Zivkovic (90+4’)

Mas vamos então dividir a coisa e falar da primeira parte. Que valeu por um ou dois rounds, no máximo. Por demérito do Benfica? Sim. Mas sobretudo por mérito do Rio Ave, que apresenta uma proposta de jogo que qualquer adversário tem dificuldade em “comprar”: um futebol positivo, um leque de opções ofensivas com transições rápidas que consegue colocar muitas unidades nos corredores laterais, um artista da bola que comanda um jogo como quem lê um livro (Francisco Geraldes, aquele miúdo que foi “apanhado” com Saramago na pré-época antes de ser emprestado pelo Sporting ao Rio Ave, o clube que achou ser melhor para evoluir).

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À exceção de um cruzamento remate que fez voar Varela feito pelo inevitável Francisco Geraldes (5′) e de uma bola de golo que Guedes atirou por cima na área (22′), não houve praticamente perigo. E não tivesse sido uma bola de Jonas sem perigo ao lado e um outro disparo desviado na defesa vila-condense, o Benfica teria saído para o intervalo com um redondo zero naquele item onde é inevitável ter qualquer coisa para ganhar: os remates. Só foram iguais num ponto: a intensidade com que se entregaram ao jogo. Algumas vezes, bem à margem das leis.

O segundo tempo não trouxe grandes alterações e Guedes voltou a rondar a guarda da defesa encarnada, após cruzamento da esquerda de Bruno Teles (58′, um minuto depois de um remate de Cervi ao lado). Seriam estes os mesmos intérpretes do primeiro golo do encontro, mas com papéis secundários: Lisandro López não se soube proteger do desvio de Bruno Varela para a frente, levou de forma infeliz com a bola que saiu na direção da própria baliza e o Benfica sofria um verdadeiro murro no estômago (60′).

Aqui, e como no boxe, há dois caminhos: ou vai para cima do adversário vingar-se ou fica de tal forma combalido que começa a andar aos ziguezagues sem norte. No meio desta pergunta, foi o Rio Ave que deu a resposta naquele que foi o grande erro individual que puniu todo o coletivo: Hugo Miguel considerou que o agarrão de Marcão sobre Jonas foi ostensivo (e vamos ouvir falar muito sobre este lance durante a semana, acreditem) e, de penálti, o ’10’ fez o 1-1 e isolou-se na liderança dos melhores marcadores.

O Benfica tinha andado 65 minutos a tentar perceber como é que poderia encostar os visitados às cordas e a chave dessa manobra foi entregue de mão beijada. Aí, e só aí, os comandados de Rui Vitória foram à procura do KO ou do TKO. Estiveram perto, muito perto, por Rafa (70’) e Seferovic (75’), mas Cássio estava lá. Depois foi o milagreiro do costume em Vila do Conde, Raúl Jiménez, a tentar, chocando novamente no guarda-redes brasileiro (87’). Mas pelo meio Nuno Santos colocou Varela em sentido com um remate a rasar o poste (77’).

No final dos 12 rounds do combate, houve um empate técnico. Porque se o Benfica teve ganchos suficientes para chegar ao KO depois de fazer a igualdade, também é verdade que o Rio Ave foi marcando pontos atrás de pontos na luta pela forma como abordou a partida de forma positiva e teve as melhores oportunidades até aos 65′.

Agora, para um e para outro, um conselho: como estão isolados na liderança da Liga, aproveitem a madrugada com o ‘Combate do Século’. Amanhã é outro dia e, em caso de vitória de FC Porto e Sporting, sem a liderança pela primeira vez este Campeonato.