A Nintendo está diferente. Mantém-se a mesma, mas está mudada em algumas coisas: mais madura e adaptada aos tempos modernos, para melhor ou pior. Um dos aspetos mais notáveis é a liberdade que tem sido dada às suas propriedades intelectuais. Já temos jogos Nintendo fora das suas plataformas como Super Mario Run, outros que fogem bastante à sua fórmula clássica, como Breath of the Wild e agora a possibilidade de jogar um spin-off de Mario desenvolvido e publicado pela Ubisoft, o gigante francês que, entre outros jogos, nos deu a saga Assassin’s Creed.

Mario + Rabbids Kingdom Battle é o resultado dessa ligação entre duas propriedades intelectuais de companhias diferentes, num género novo a ambas. O jogo, apresentado na última edição da E3, recorre a um enredo simples e lógico (algo nem sempre normal no universo destes seres orelhudos), criado a partir da fusão entre dois mundos distintos.

Em resumo, o objetivo é ajudar Mario a salvar o reino e fazer com que tudo volte à normalidade. Ou seja, um dia normal para o canalizador mais famoso do mundo. Apesar de estar num ambiente cheio de personagens estranhos, qualquer visitante habitual do Mushroom Kingdom vai sentir-se em casa, mesmo que a companhia seja um pouco… diferente que o habitual.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O que é totalmente fora do normal, mas que funciona perfeitamente, é ver Mario e companhia de armas na mão num jogo de estratégia por turnos. A sua inspiração nos geniais XCOM é inegável, a imitação é aqui a melhor forma de homenagem e é, por isso também, uma ode a um dos melhores jogos de estratégia por turnos alguma vez feitos. Aqueles que o conhecem vão entrar na mecânica facilmente, apesar de um ou outro pormenor exclusivo. Quem não conhece tem aqui uma boa porta de entrada para esse universo, pois é mais simplificado e não sofre do peso impiedoso da ação da sorte como XCOM.

Apesar de ser mais simples e não perdermos “soldados” permanentemente, isso não faz dele um jogo mais fácil. A componente tática, a avaliação do terreno e tentativa de prever os movimentos inimigos como num jogo de xadrez, são presença constante no jogo. E conforme vamos avançando na história, com cenários e adversários cada vez mais complexos, não vai haver suor nervoso e engolir em seco até garantir que a jogada foi bem sucedida como no jogo que inspira este, mas está sempre uma pequena tensão no ar.

Como outros jogos de turnos, sofre de “somaisumtite”. Só mais um turno, só mais uma missão, só mais uma hora de sono perdida. Há jogos com um nível de ação difícil de largar, mas outros, como este, devido ao seu ritmo pausado, fazem-nos ignorar a passagem do tempo, puxando-nos pouco a pouco, migalha a migalha, para uma floresta de onde temos dificuldade em sair. Além das batalhas, temos puzzles, exploração, desafios e segredos que nos fazem voltar a jogar vezes sem conta.

Mario + Rabbids: Kingdom Battle tem a familiaridade e jogabilidade coesa típica de um Mario assim como a qualidade que Nintendo já habituou os seus fãs, e tem também a complexidade tática de um XCOM um pouco mais leve, sem a pressão de morte permanente e com a parvoíce adorável dos Rabbids, numa mistura que não devia funcionar teoricamente, mas o resultado é absolutamente delicioso.

Não é o jogo do ano porque 2017 tem sido generoso, mas está sem dúvida no nosso top 10. Como é um estilo de jogo muito específico, arriscamos dizer que é um título obrigatório para a Switch mas apenas para fãs de jogos de estratégia por turnos, fãs de Mario e/ou Rabbids, ou para quem se queira iniciar nestes tipo de jogos. Para todos os outros, é apenas muito “aconselhável”. Muitos vão achar simplista ou infantil e, provavelmente, demasiado “lento” ou “parado”.

A Nintendo realmente mudou, compreendeu que para ter uma nova consola de sucesso (a Switch) é preciso um grande número de bons jogos logo no arranque. Neste capítulo, tem sido uma aposta ganha.

João Machado, Rubber Chicken