Já há um nome para suceder a Travis Kalanick e, apesar de não ser fácil de pronunciar, é um nome bem conhecido no meio tecnológico nos EUA. Dara Khosrowshahi, de 48 anos, é presidente da Expedia, uma empresa norte-americana ligada aos portais de viagens online que fomentou, por exemplo, a marca TripAdvisor. Nasceu no Irão e emigrou para os EUA com apenas quatro anos, como refugiado após a revolução no país de origem, um dos países aos quais Donald Trump quis banir a entrada de pessoas assim que chegou à presidência dos EUA.

A informação ainda não foi confirmada oficialmente, mas está a ser dada como certa por vários jornais da especialidade. Khosrowshahi era um dos três nomes mais falados para o lugar, além da presidente da Hewlett Packard, Meg Whitman — que disse logo em junho que não sairia — e o atual presidente da General Electric, Jeff Immelt — que se noticiou este domingo que também estava fora da corrida, por não ter suficiente apoio entre os acionistas da Uber.

A expectativa é que a escolha deste gestor de 48 anos coloque um ponto final ao período de indefinição e conflito interno entre os oito membros do conselho de administração da Uber, uma empresa cuja imagem tem sofrido nos últimos anos, com denúncias de sexismo e assédio sexual entre as várias polémicas em torno da empresa, enquanto era liderada pelo fundador Travis Kalanick (que está a ser acusado de fraude por um dos principais acionistas da Uber).

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Khosrowshahi começou a carreira na banca mas rapidamente foi parar à norte-americana IAC Travel, uma empresa que viria a autonomizar as operações de viagens online sob a marca Expedia (e a nomear o gestor para liderar a nova empresa, em 2005). Uma das principais marcas da Expedia era a TripAdvisor, comprada quando ainda era muito pequena aos seus fundadores e fomentada pela IAC/Expedia — a TripAdvisor viria, por sua vez, a ser autonomizada e vendida em bolsa.

A boa gestão e os resultados obtidos na Expedia valeram a Dara Khosrowshahi a distinção de “Empresário do Ano”, pela consultora EY, na região Pacífico-Noroeste dos EUA, em 2013. É visto como um dos iraniano-americanos mais influentes nos EUA e integra o conselho de administração da empresa dona do The New York Times, desde 2015.

Um imigrante vindo do Irão, Khosrowshahi não tem escondido o seu desdém pela presidência Trump — sobretudo desde que o magnata lançou o chamado muslim ban poucos dias depois de tomar posse, tentando impedir a entrada nos EUA de pessoas provenientes de uma lista de países, incluindo o Irão.

“É importante ter fronteiras seguras, mas ao mesmo tempo não podemos esquecer como é que chegámos até aqui. Somos um país feito pela imigração”, disse numa entrevista ao Financial Times, no início deste ano.

Aquilo que alguns norte-americanos não compreendem é quão forte é a marca do sonho americano. Eu sou um exemplo de quão forte essa marca é. E, agora, o nosso presidente está a tentar tirá-la de algumas pessoas, pessoas de determinadas origens e de determinadas crenças religiosas. Julgo que isso é triste e vai contra aquilo que os nossos fundadores quiseram construir”.

Poucas semanas depois da chegada ao poder de Donald Trump, durante uma conferência telefónica com analistas da Expedia, Khosrowshahi disse, meio a brincar, que “esperemos chegar todos vivos ao final do próximo ano” — isto numa resposta a um analista sobre as perspetivas de lucros da empresa no médio prazo.

Ainda assim, a chegada ao poder de Donald Trump é vista pelo empresário como um sinal de alerta — que mostra que os empresários ligados às novas tecnologias estão “desligados” do mundo real, e foi esse “mundo real” que elegeu o magnata para presidente.