O debate mal tinha começado e o fio condutor já era claro: os principais problemas da capital são a mobilidade e a habitação. A necessidade de adaptar Lisboa à grande afluência de turistas ocupou a segunda parte de um debate a que nem Madonna escapou. Durante 90 minutos, Fernando Medina, Assunção Cristas, Teresa Leal Coelho, Ricardo Robles e João Ferreira estiveram esta quarta-feira a debater as suas propostas para a cidade, na SIC.

As prioridades de Fernando Medina, atual presidente da autarquia e candidato pelo PS são três: prosseguir o dinamismo económico da cidade e resolver os problemas dos transportes públicos e do acesso à habitação. João Ferreira, candidato pela CDU, assegura que “houve setores da base económica da cidade que entraram num declínio profundo”. Ricardo Robles, pelo BE, vai no sentido da última prioridade: “O principal problema é a habitação”.

Para Assunção Cristas, candidata pelo CDS, “a grande questão é a mobilidade, a segunda questão é a da política social”. “A população está muito envelhecida e há poucas famílias com crianças”, apontou ainda. Teresa Leal Coelho, candidata pelo PSD, defende que principal problema é a perda de população. “Entre um quinto a um quarto da população de Lisboa tem mais de 65 anos”, destacou.

“A Habitação nunca foi uma prioridade da câmara em 10 anos de PS”, defende Teresa Leal Coelho

Um terço do debate foi dedicado à questão da habitação. Fernando Medina garantiu que “a câmara neste mandato comprou mais património do que aquele que vendeu”, acrescentando que destas compras 40 milhões de euros foram para o lançamento do programa das rendas acessíveis.

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O programa é usar o património que a Câmara tem para construirmos habitação acessível para as classes médias. Durante anos, a prioridade foi a habitação social. Hoje, a prioridade é a habitação para as classes médias”, explica Medina.

Ricardo Robles defende que o programa de habitação acessível a que Medina se refere “é a pior solução” para a capital e que “a venda de património foi uma das piores medidas” do atual presidente da autarquia. “Quando eu tiver 75 anos e Fernando Medina tiver 75 anos, ainda estarão a cobrar rendas”, disse o candidato do BE. Teresa Leal Coelho também critica a atuação da câmara municipal na habitação, acusando-a de ser “um especulador imobiliário”.

Assunção Cristas chamou a atenção de que “se há partido que trabalhou na habitação para a classe média foi o CDS” mas João Ferreira contestou a sua afirmação: “Não há quem mais tenha feito para pôr em causa o direito à habitação em Lisboa”, referindo-se à candidata pelo CDS.

20 novas estações de metro? “É realista”, diz Assunção Cristas

O atual presidente da câmara de Lisboa reconhece a existência de um problema na mobilidade que, para ele, “só pode ser resolvido com um forte investimento em transportes públicos”. João Ferreira defendeu a necessidade de se olhar para este problema a uma “escala metropolitana”.

Assunção Cristas vai nesse sentido acreditando ser “realista” a construção de 20 novas estações de metro: 13 até 2025 e mais sete até 2030. “Lisboa não tem uma rede de metro adequada às população que serve”, disse. Ricardo Robles não lança um número mas considera que é necessário “investir onde não há transportes públicos”, destacando principalmente a zona ocidental de Lisboa que “é constantemente esquecida”.

Fomos fazer as contas e percebemos que as estações de metro tem crescido a uma razão de 1,3 por ano. O que propomos é 1,5 por ano. É incrementar um bocadinho”, explica Assunção Cristas.

Fernando Medina considera que o serviço público de transporte foi destruído pelo governo anterior e aponta: “O que separa Paris de Lisboa é a percentagem de deslocações feitas com carro“.

A propósito de estacionamento, Assunção Cristas defende uma EMEL amiga dos residentes já que as “políticas de habitação que olham para os moradores com carinho passam por políticas de estacionamento. Teresa Leal Coelho olha para a EMEL como “um banco para financiar este capricho de reverter a concessão da Carris”.

“A Madonna não veio para Lisboa para ficar uma hora dentro do carro”, diz Teresa Leal Coelho

Fernando Medina considera que “o turismo é bom” porque é “um dos grandes responsáveis pela recuperação do emprego e da economia”. “A resposta não são menos turistas, são mais transportes”, realça o atual presidente da Câmara que não exclui a necessidade de se “adaptar a cidade a uma realidade nova”. Assunção Cristas também defende a importância do turismo mas “obviamente que tem de haver gestão urbana”, disse.

Limitar o alojamento local é uma proposta defendida por João Ferreira e por Medina que realça a importância de não haver “presença excessiva do alojamento local” em bairros históricos da capital. “Alugar casas exclusivamente a turistas é turismo habitacional e tem de ter quotas”, defende Robles, acrescentando que é necessário separar o alojamento local do turismo habitacional”. Já Teresa Leal Coelho, apesar de reconhecer a importância do turismo, reconhece que os habitantes de Lisboa são a prioridade.

Tenho a certeza que Madonna não veio para Lisboa para viver num T2. Madonna não veio para Lisboa para ficar uma hora dentro do carro para levar os filhos à escola. [Madonna] terá com certeza dinheiro para comprar um T2. Não sei se Fernando Medina sabe quanto custa hoje um T2″, reflete Teresa Leal Coelho.

Na última parte, os candidatos trouxeram a debate os temas que mais os preocupam. Robles diz-se uma pessoa que gosta muito de viajar e por isso o turismo preocupa-o. Para o candidato, “o turismo está a crescer e para crescer precisa de regras” que são: limitar o número de hotéis no centro da cidade e o alojamento local. “Alugar casas exclusivamente a turistas é turismo habitacional e tem de ter quotas”, acrescenta ainda.

O que podem esperar os lisboetas de cada um dos cinco?

De Fernando Medina, podem esperar um “campanha pela positiva, de debate pela cidade”. “Temos que nos preparar para os problemas que ainda não estão resolvidos e para os novos problemas”, considerou o autarca. João Ferreira quer trazer para o centro do debate aqueles que são os grandes problemas da cidade de uma forma que não seja um ‘ver quem dá mais'”. “Habitação, mobilidade e transparência na gestão de recursos” serão as prioridades de Teresa Leal Coelho, que defende que “as pessoas estão em perigo na cidade de Lisboa”. É também nas pessoas que Assunção Cristas se concentra ao dizer que procura “olhar para a cidade esquecida e para a cidade dos idosos que vivem sozinhos em casa, das famílias que não têm uma creche para pôr os seus filhos”. Ricardo Robles promete uma “campanha que trata com seriedade os problemas” de Lisboa: habitação, transportes e transparência.

Cristas defende 50% de desconto nas tarifas EMEL para moradores de Lisboa

Esta quarta-feira, dois dos candidatos já tinham apresentado os respetivos programas de candidatura. A candidata do CDS-PP Assunção Cristas procura “facilitar a vida aos moradores da cidade”, criando mais zonas de parqueamento, atribuindo gratuitamente os primeiros 20 minutos de estacionamento aos residentes e um desconto de 50% para moradores nas tarifas da EMEL.

O candidato do PS à Câmara de Lisboa e atual presidente da autarquia, Fernando Medina, focou o seu programa no alojamento. Medina pretende assim “assegurar o equilíbrio entre alojamento local e alojamento permanente” nos bairros históricos da cidade. O candidato apresentou ainda duas medidas: um novo regime fiscal para os arrendamentos de longa duração e a construção ou reabilitação de mais 6 mil casas com “renda acessível à classe média.