Não há nada mais elogioso mas ao mesmo tempo mais nocivo do que colocar alcunhas com nomes de grandes jogadores a miúdos que começam a dar os seus primeiros passos. Um exemplo prático: sabe quantas vezes já ouvimos falar no “novo Messi”? Façamos as contas – Dybala (hoje na Juventus) e Erik Lamela (Tottenham), os mais cotados; Lucas Patanelli (Independiente, com pré-contrato com o Barcelona), Lee Seung-Woo (Barcelona B), Guido Vadalá (Boca Juniors), Juan Iturbe (Tijuana) ou Ryan Gauld, o pequeno escocês contratado pelo Sporting em 2014 e que tem andado de cedência em cedência sem conseguir afirmar-se em Alvalade (está agora no Desp. Aves).

Gabriel Barbosa, de 21 anos, está neste patamar mas com outro termo de comparação: Neymar. Aqui até com mais bases de sustentação do que nos casos supracitados: fez toda a formação no Santos, onde conseguiu marcar mais de 600 golos; estreou-se na equipa principal com apenas 16 anos; tornou-se campeão olímpico ao lado do astro do PSG no último Verão. No entanto, o primeiro ano na Europa, ao serviço dos italianos do Inter, acabou por ser uma época para esquecer, com apenas um golo em dez jogos. No Benfica, o avançado procura uma segunda vida.

Gabigol, alcunha que ganhou na formação santista, começou no futsal (como Neymar) e foi detetado pelo olheiro Zito (como Neymar), que o convidou para ir fazer testes ao Santos após um jogo onde a sua equipa, o São Paulo, ganhou 6-1… com seis golos seus. Vingou e, com apenas 14 anos, já era objeto de extensos trabalhos da imprensa brasileira, que lhe atribuía “a inteligência de Ganso, a habilidade de Neymar e a velocidade de Lucas” pelas palavras de Wagner Ribeiro (curiosamente, empresário de Neymar).

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Nessa altura, com apenas 14 anos, já levava 413 golos entre futsal e futebol, sendo o grande destaque da Copa do Brasil Sub-15. “Pelo posicionamento talvez seja mais parecido com o Ganso, só que a finalização torna-o um pouco mais próximo do Neymar e do Robinho. É uma mescla”, argumentava Emerson Ballio, treinador da equipa Sub-15 do Santos, na reportagem feita pelo Globoesporte.

“Gosto de mostrar o meu estilo em campo. Fazer chapéus, ‘cavadinhas’, sempre tranquilo e alegre, e vou para cima dos adversários sem medo. Gosto de entrar em campo e jogar à bola. Fora de campo, divirto-me sempre e saio com os meus amigos; em campo a coisa é séria mas não perco a alegria de criança. Sei da responsabilidade que tenho e é importante às vezes ficar mais calado, mais concentrado. A cobrança veio cedo mas é por conseguir jogar bem à bola e ajudar a minha equipa”, comentou o prodígio, destacando também a importância das conversas com a psicóloga

Era o novo fenómeno da Vila e aos 16 anos, com mais de 600 golos apontados e um contrato com uma cláusula de rescisão de 50 milhões de euros, fez a estreia pelos seniores do Santos. E com outra particularidade ligada a Neymar. Ou melhor, duas: o primeiro encontro oficial que fez coincidiu com o último do avançado brasileiro antes de ir para o Barcelona, num acordo onde os catalães garantiram também o direito de preferência de Gabigol.

Internacional nas várias camadas jovens do Brasil, continuou a destacar-se no Santos e ganhou o Campeonato Paulista em 2015 e 2016, sendo nesse último ano convocado para fazer dupla com Neymar no ataque da seleção olímpica em plenos Jogos do Rio de Janeiro: após dois nulos com África do Sul e Iraque, bisou na goleada por 4-0 frente à Dinamarca e manteve a titularidade nos encontros seguintes com Colômbia (2-0), Honduras (6-0) e Alemanha (1-1, 5-4 g.p.) que permitiram à equipa quebrar o jejum de títulos na prova.

No dia em que fez 20 anos, o avançado foi apresentado como reforço do Inter, a troco de cerca de 30 milhões de euros (o anúncio foi feito a par do português João Mário, que rumou também nessa altura aos transalpinos). No entanto, a primeira temporada não correu da melhor forma e marcou apenas um golo, em fevereiro, diante do Bolonha. Assim, o empréstimo acabou por surgir como solução natural para ganhar balanço e voltar a ser Gabigol, em ano de Campeonato do Mundo para o qual o Brasil já garantiu qualificação.