Quando se conheceram, Elisa e Valentina tinham duas coisas em comum: Itália, o país onde nasceram e cresceram, e a arquitetura, o curso que escolheram para fazer carreira. A ideia de arregaçarem as mangas, vestirem o avental e porem as mãos na massa (literalmente) era qualquer coisa de impensável. Mas trocaram-lhes as voltas. Elisa apaixonou-se por Lisboa, o segundo amor português depois do Porto, e Valentina veio para trabalhar na Trienal de Arquitetura. A dada altura, as saudades de casa falaram mais alto, que é como quem diz: faltava-lhes aquele aconchego da comida italiana. Juntaram-se a Paulo e Irene, outros dois italianos a viver em Lisboa, e começaram a fazer os primeiros jantares caseiros, reservados a amigos.
Mesmo sem grandes dons culinários, o bichinho de levar os jantares para a rua começou a dar sinais. “Começámos a organizar um ou dois eventos por mês, todos em torno da culinária italiana mais tradicional, aquela das nossas avós e mães, e escolhíamos lugares pouco explorados em Lisboa, ali entre a Mouraria e o Intendente”, conta Elisa.
A Mani in Pasta arrancou em outubro de 2014 e o que começou por ser um consolo pessoal transformou-se numa missão de levar a cozinha italiana mais típica aos lisboetas. “Há muitos italianos na cidade e os próprios portugueses queriam conhecer melhor a verdadeira cozinha italiana, para lá do spaghetti e da pizza“, completa Elisa. Durante mais de um ano foi o que fizeram e correram meia Lisboa. Passaram pela Associação Renovar a Mouraria, pela Casa dos Amigos do Minho, pelo Rés-do-Chão e pelo Café Tati. Uns dias eram dedicados ao famoso aperitivo à italiana, outros tinham direito à refeição completa, fosse almoço ou jantar.
Da ideia de dar algumas especialidades a provar passaram aos workshops de pasta fresca, uma oportunidade para quem não queria só comer, mas também aprender a fazer. Foi o grande sucesso da Mani in Pasta. A farinha de trigo duro vinha diretamente de Itália e permitia-lhes fazer várias massas apenas com água. Para qualquer um dos quatro, eram os sabores da infância, o da massa e o dos vários tipos de pesto. Chegaram mesmo a ter mais de 10 pessoas a pôr as mãos na mesma massa. A mugnaia, massa típica de Abruzzo, região do centro de Itália, é feita assim mesmo, a muitas mãos. O evento teve o nome de Forchetta Pop e, depois de Lisboa, já foi a Milão.
Mas cozinhar começou a saber a pouco. “Sempre gostámos do processo criativo. Nos eventos, pensávamos também nos cartazes, na forma como íamos dispor as coisas. Queríamos mais e foi aí que fizemos alguns sacos para vender nos eventos e ajudar a associação. Sempre à volta da comida, claro”, conta Elisa. Dimmi cosa mangi e ti dirò chi sei (Diz-me o que comes e dir-te-ei quem és) foi a primeira frase gravada. O sucesso foi imediato. Pouco tempo depois, Elisa e Valentina ficaram sozinhas à frente da associação. Mudaram-lhe o estatuto, deixaram cair a parte do “sem fins lucrativos” e arrancaram em força com os acessórios.
Hoje, são eles que lhes tomam a maior parte do tempo. Depois dos sacos vieram as t-shirts, mais tarde as mochilas, os panos de cozinha, os aventais, e este ano chegaram as toalhas de praia para dar as boas vindas ao verão, toalhas essas também bastante apetecíveis para os dias de piquenique. O método de estampagem não podia ser mais tradicional. A dupla fez os seus próprios carimbos e a partir daí foi só dar largas aos trocadilhos. Tette Bicottate, Tonno Subito e Sono di Strutto são alguns dos mais populares — impossíveis de traduzir para português –, das dezenas que estampam todos os dias no atelier, em Lisboa.
Na gaveta estão ainda umas quantas peças para lançar agora no outono. Falamos de posters, individuais de pano e dos bibes que Elisa e Valentina usam para cozinhar, feitos no mesmo padrão das toalhas de mesa que estamos habituados a ver em restaurantes italianos. Em fevereiro, foram convidadas para fazer a montra do Dia dos Namorados da Fabrica Features, a loja que ocupa o último piso da Benetton, no Chiado. No Porto, contam com um ponto de venda de alto gabarito, a loja de Serralves. Mas não é em Portugal que a Mani in Pasta tem mais saída. Cerca de 70% das vendas são para Itália, onde há seis lojas a venderem estes produtos. Fora da Europa, só mesmo São Francisco, onde dois restaurantes também vendem os sacos e as t-shirts, com expressões dedicadas aos vinhos.
O tempo para cozinhar é que não é muito. Valentina mudou-se para Barcelona, onde continua a dedicar tempo ao projeto. A dupla não perde os jantares e os workshops de vista, mas o design não dá tréguas. Para Elisa, agora com 32 anos, sair de Portugal está fora de questão. Lisboa já é uma casa e Itália que fique lá no sítio dela — com um pezinho dentro deste atelier, vá.