Do centro histórico até Sete Rios, passando pelas Avenidas Novas, poucas seriam as zonas de Lisboa que escapariam aos efeitos de uma arma nuclear como a que foi testada por Pyongyang este domingo. O impacto direito de uma ogiva de 60 quilotoneladas em Lisboa teria um número de mortos estimado de 52 mil, sem considerar os efeitos indiretos. Essa é a conclusão que é possível retirar da ferramenta online Nukemap, criada pelo historiador nuclear norte-americano Alex Wellerstein, que permite combinar dados sobre os efeitos de uma arma nuclear com os mapas disponibilizados pelo Google Maps — tornando possível determinar o impacto de uma detonação em qualquer cidade do mundo. Wellerstein alerta, porém, que estimativa de mortes pode não ser a mais rigorosa.

No caso de uma arma como a que terá sido testada pelo governo da Coreia do Norte no passado domingo, os efeitos seriam sem dúvida arrasadores em locais como Lisboa, Porto ou Coimbra — mas também em cidades maiores como Paris ou Londres, que seriam parcialmente afetadas. Não é certo qual a dimensão concreta da arma testada por Pyongyang, mas mesmo utilizando as estimativas mais conservadoras — cerca de 60 quilotoneladas, segundo o a autoridade meteorológica da Coreia do Sul — a dimensão destrutiva desta bomba seria enorme.

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O teste nuclear norte-coreano foi o mais potente alguma vez levado a cabo pelo país e crê-se que terá sido pelo menos três vezes mais forte do que a bomba atómica lançada sobre Hiroshima. Se a bomba testada chegar às 120 quilotoneladas estimadas por alguns, como a NORSAR (grupo norueguês que monitoriza testes nucleares), este será um teste oito vezes mais forte do que a bomba atómica utilizada pelos norte-americanos em 1945.

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Alex Wellerstein, professor do Stevens Institute of Technology em Nova Jérsia (EUA), decidiu criar esta ferramenta em 2012, dizendo que espera ajudar a tornar a ameaça nuclear algo “mais pessoal”, sobretudo para aqueles que nasceram depois do fim da Guerra Fria. “Quando os meus estudantes veem que a bomba H [bomba de hidrogénio, que pode ser 50 vezes mais forte do que a bomba atómica] destrói toda a região metropolitana e que há milhões de mortos e feridos, oiço logo um som da audiência e percebo que lhes acertei em cheio”, explicou o professor ao Independent em 2015.

“Os estudantes hoje em dia quase não conseguem conceber o que são as armas nucleares e o que estas podem fazer, por isso criei o Nukemap para ajudá-los a calibrar o seu receio.”

O site, que se baseia num modelo matemático usado pelo governo norte-americano nos anos 60 e 70, permite ainda obter uma estimativa do número de mortos e feridos provocados pela bomba no local escolhido (apesar de o criador avisar que esta é apenas uma estimativa) e permite visualizar o raio de ação da arma consoante as suas quilotoneladas. Em 2015, o Observador já tinha verificado qual seria o impacto do lançamento de uma arma nuclear como a bomba atómica de Hiroshima em várias cidades.

E se caísse em Lisboa uma bomba atómica com o mesmo efeito daquela lançada em Hiroshima?

Este raio de ação calcula, contudo, apenas os impactos diretos de uma arma deste tipo. Como o próprio Wellerstein escreveu, num artigo do jornal The Guardian de 2015, “para além de matarem milhões de pessoas”, este tipo de armas “podem alterar o clima global de tal forma que venham a reduzir drasticamente a produção de culturas agrícolas”.