É mais um episódio de violência no estado de Rakhine, no norte da Birmânia (Myanmar), desta vez na fronteira com o Bangladesh. De acordo com a agência Reuters, registaram-se duas explosões no local esta segunda-feira, acompanhadas do som de tiros. A fronteira entre os dois países é atualmente um ponto de tensão, já que têm passado por ali milhares de pessoas — são muçulmanos da minoria étnica Rohingya, vítimas de violência na Birmânia de maioria budista.

O êxodo de cerca de 87 mil pessoas, segundo as estimativas das Nações Unidas (ONU), tem ocorrido desde o dia 25 de agosto, quando um grupo de rebeldes da minoria muçulmana atacou dezenas de postos policiais. A resposta do exército birmanês fez mais de 400 mortos e motivou milhares a atravessar a fronteira até ao Bangladesh.

As explosões desta segunda-feira poderão ter sido provocadas por uma mina terrestre, que terá sido pisada por uma mulher, de acordo com informações divulgadas à Reuters por guardas da fronteira. No entanto, o porta-voz da líder birmanesa Aung San Suu Kyi, Zaw Htay, fez questão de dizer que era impossível determinar quem terá colocado aquela mina na zona de fronteira. “Quem pode dizer com toda a certeza que essas minas não foram colocadas por terroristas?”, perguntou.

ONU apela a Suu Kyi para que intervenha

Esta segunda-feira, a relatora especial das Nações Unidas para os direitos humanos, Yanghee Lee, declarou a situação na Birmânia como “muito grave”. “A líder de facto precisa de intervir”, declarou Lee, referindo-se a Aung San Suu Kyi, que apesar de ser formalmente Conselheira de Estado, ocupa um cargo que na prática é muito semelhante ao de um primeiro-ministro. “É isso que esperaríamos de qualquer governo, que proteja toda as pessoas dentro da sua jurisdição”.

Também Malala Yousafzai, a menina laureada com o Nobel da Paz em 2014, apelou a Suu Kyi para que se pronuncie sobre o tema. Até à data, a líder birmanesa não tem falado sobre os Rohingya, uma minoria étnica composta por mais de um milhão de pessoas a viver no país e que dizem ser vítimas de perseguição étnica.

Para além das mortes e dos milhares em fuga, muitos Rohingya terão tido as suas habitações destruídas. Segundo a Human Rights Watch, só numa única aldeia mais de 700 casas terão sido arrasadas. Os mais de 87 mil Rohingya que terão fugido da Birmânia nos últimos dias são já em número muito superior aos cerca de 65 mil que fugiram do país entre outubro de 2016 e janeiro de 2017, na sequência de uma operação militar levada a cabo pelo exército do país contra a minoria.

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