O Papa Francisco inicia na quarta-feira uma viagem à Colômbia, durante a qual fará um apelo para que o país consiga uma “verdadeira reconciliação” na sequência dos acordos de paz entre o governo e a guerrilha das FARC.

A visita ao terceiro país mais populoso da América Latina (48 milhões de habitantes, pelo menos 70% dos quais católicos) surge, finalmente, depois de várias notícias nesse sentido, sempre desmentidas pelo Vaticano. Francisco sempre disse que não se deslocaria à Colômbia até que houvesse uma garantia de paz.

Em novembro, o Governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) assinaram um novo e definitivo acordo de paz (um primeiro acordo foi rejeitado em referendo pelo povo colombiano), pondo fim a 52 anos de guerra civil no país.

Em fevereiro iniciou-se o processo de desmobilização da guerrilha (que tem sofrido alguns percalços, embora menores) e em finais de junho os observadores da ONU comprovaram a entrega das armas por parte das FARC. A 16 de dezembro, o Vaticano acolheu e organizou uma reunião inédita entre o Presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e o líder da oposição, o ex-presidente Álvaro Uribe.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na ocasião, Francisco apelou ao “diálogo sincero” perante o “momento histórico” que vive a Colômbia. Ainda assim, tanto Juan Manuel Santos como Álvaro Uribe se mantiveram firmes nas suas posições quanto ao acordo de paz: o presidente aplicou o acordo tal como ele está e Uribe pretendia alterações para impedir a concessão de imunidade para todos os guerrilheiros das FARC.

Apesar do contexto, o Vaticano reitera que a visita de Francisco à Colômbia não tem conotações políticas. “Ele não vai com a intenção de dar um apoio político ao presidente, mas sim para impulsionar o povo colombiano a colaborar na construção do país, com paz, irmandade e justiça”, explicou o bispo colombiano José Octavio Ruiz Arenas, citado pela agência EFE após uma conversa com jornalistas em Roma.

Já o vice-presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina, o professor e ativista uruguaio Guzmán Carriquiry Lecour, considerou à EFE que o tema principal da viagem de Francisco será “a reconciliação”, já que na Colômbia – um país marcado por uma “cultura de violência” – os acordos de paz criaram uma “fortíssima polarização em todos os setores da sociedade”.

De acordo com a EFE, o momento-chave da visita papal à Colômbia será um grande encontro de oração pela reconciliação nacional, na sexta-feira, na cidade de Villavicencio (capital do Departamento de Meta). O evento — que se realiza num departamento que albergava alguns dos maiores bastiões da guerrilha — contará com a presença de grupos de vítimas e participantes no conflito armado.

O Vaticano clarificou que o Papa não terá um encontro formal com as FARC, mas que membros da guerrilha — agora desmantelada — poderão marcar presença na oração pública. Também ali, Francisco deverá fazer uma referência a outro conflito na região, a vizinha Venezuela.

O departamento de Meta marca o início das planícies orientais colombianas (que se estendem até à fronteira venezuelana) e o Papa aproveitará a sua presença em Villavicencio para apelar à paz e ao diálogo naquele país. De acordo com o bispo Ruiz Arenas, o Papa Francisco poderá aproveitar a passagem por Medellín, no penúltimo dia da sua visita, para fazer uma referência ao problema do “narcotráfico”, um dos estigmas da Colômbia.

Em Bogotá, numa missa em que são esperadas 500 mil pessoas, a mensagem do Papa será centrada na “defesa da vida”, indicou, por seu lado, o cardeal Rubén Salazar, arcebispo da capital colombiana.