“Una-Negra Sedução”

Quando tinha 13 anos, Una envolveu-se com um vizinho adulto. A relação foi descoberta, o homem foi preso, julgado e condenado a quatro anos de cadeia. Quando saiu, desapareceu do mapa. Quinze anos depois, Una (Rooney Mara), vai à procura dele e encontra-o a trabalhar num fábrica. Peter (Ben Mendelsohn) mudou de nome, de cidade, de vida, casou. Una não o quer denunciar na praça pública, não quer vingança. Quer saber apenas porque é que ele a abandonou naquela noite, há 15 anos, numa pensão à beira-mar. Porque ela amava-o. O dramaturgo Peter Harrower adaptou à tela a sua peça “Blackbird”, primeira realização de Benedict Andrews, decidida e ousadamente distante das situações feitas e das personagens-tipo das fitas sobre pedofilia, e mais próxima da intrigante complexidade que por vezes caracteriza as relações íntimas, atirando-as para lá das balizas do que está estabelecido ser legal e moral. Andrews recorre a flashbacks e a algumas distrações laterais para evitar que a fita se torne teatral demais e Mara e Mendelsohn canalizam toda a vulnerabilidade, inquietação, confusão de sentimentos e ambiguidade das suas personagens. Uma palavra ainda para Ruby Stokes, perfeita na jovem Una.

“O Futebol”

Apesar do título, de se passar em São Paulo, durante o Campeonato do Mundo de Futebol de 2014, e do realizador, Sérgio Oksman, ser brasileiro, quase não há bola nenhuma neste filme. Oksman esteve ausente do Brasil durante 20 anos, radicando-se em Espanha, e provém de uma família em que o pai saiu de casa era ele ainda jovem. Trabalhando em estreita colaboração com o espanhol Carlos Mugiro, serve-se do futebol, e do acontecimento que é o Mundial, para encenar uma ficção biográfica contígua com o real, sobre o reencontro e a sua tentativa de reaproximação com o pai. E que aqui (e ao contrário do que sucedeu na realidade) uma circunstância dramática acaba por contrariar. “O Futebol” é um filme melancólico, contraído e elíptico, em que os frustrantes encontros entre Sérgio, o filho, e Simão, o pai, são pautados pelos jogos que se disputam nesses dias, mas deles ficam apenas relances nas televisões. E nem a histórica e humilhante derrota do Brasil frente á Alemanha por 7-1 acaba por ter registo no seu recatado sismógrafo emocional.

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“Sorte à Logan”

Steven Soderbergh regressou ao seu Sul natal para rodar uma comédia de ação que é a versão rústica dos seus filmes da série “Ocean”, também centrada num assalto altamente arriscado e improvável. Só que tudo o resto está virado do avesso. Em vez de um luxuoso casino de Las Vegas, o alvo é uma pista de corridas da NASCAR em dia de competição, os assaltantes usam “jeans”, t-shirts e macacões e não “smokings” e fatos Armani, e em vez de bem-falantes, suaves e sofisticados, são operários, empregados de bar veteranos do Iraque, cabeleireiras, calaceiros profissionais ou estão na cadeia e têm que ser tirados de lá para executar o golpe.E não falta inteligência e astúcia aos “cérebros” deste assalto. Só que a escondem por detrás de um laconismo e uma lentidão muito sulista, que os fazem parecer aquilo que não são. Channing Tatum, Adam Driver, Daniel Craig e Riley Keogh interpretam os principais papéis. “Sorte à Logan” foi escolhido pelo Observador como filme da semana, e pode ler a crítica aqui.