Arranca, dribla, arranca, pára, arranca, dribla.

E remata também. Para quem nem ponta-de-lança é, o “garoto” faz também golos em barda: 105 em quatro temporadas na Catalunha; quatro em outros tantos jogos desde que chegou ao Paris Saint-Germain. Com Neymar sobre o relvado não há futebol de travo sensaborão. Unay Emery acolheu-o em Paris no Verão e esfrega por certo aos mãos de contentamento; Ernesto Valverde esfrega-as, sim, mas de preocupação: é que sem o brasileiro o Barcelona (mesmo com Messi, mesmo com Suárez ou Dembélé…) não é a mesma coisa.

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FC Porto-Chaves, 3-0

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Rui Oliveira

FC Porto: Casillas; Layún, Felipe, Marcano e Alex Telles; Danilo, Óliver Torres, Corona (Soares, 45′) e Brahimi (André André, 82′); Marega e Aboubakar (Otávio, 77′)

Suplentes não utilizados: José Sá, Reyes, Ricardo Pereira e Hernâni

Treinador: Sérgio Conceição

Chaves: Ricardo; Paulinho, Domingos Duarte, Nikola Maras e Djavan (Jorginho, 80′); Jefferson, Bressan (Tiago Galvão, 63′) e Pedro Tiba; Davidson, William e Perdigão (Elhouni, 63′)

Suplentes não utilizados: António Filipe, Nuno André Coelho, Rúben Ferreira e Filipe Melo

Treinador: Luís Castro

Golos: Aboubakar (49′), Soares (86′) e Marega (88′)

Ação disciplinar: Óliver Torres (53′) e Djavan (64′)

Na antevisão do receção do Porto ao Chaves, Sérgio Conceição afirmaria na sala de imprensa, gracejando: “Fiquei preocupado quando soube que o Neymar veio cá ao Porto [em escala para depois seguir para Paris e assinar pelo PSG], tinha de o encaixar na equipa — e não seria fácil”. Na verdade, e mesmo não sendo Neymar para o “bolso” portista, faz falta a Sérgio (o treinador nunca escondeu que queria mais “dois ou três jogadores” no fecho do mercado) quem arranque, drible, arranque, pare, arranque, drible. E remate também.

Quanto aos dribles, Corona e Brahimi tentaram, sim, mas sempre atabalhoadamente, esbarrando sempre ou quase sempre com um defesa do Chaves e perdendo a bola. Remates? Não havia como fazê-los. Não com perigo. Não na primeira parte. Porquê? É simples. Apesar de o Porto ter teoricamente dois avançados (Aboubakar e Marega) na frente, a palavra “frente” aqui é apenas um eufemismo. Na primeira parte, até à meia hora, Aboubakar recebeu três vezes a bola e tentou seguir com ela para a baliza. Não conseguiu seguir. Mas isso nem é o mais importante; o importante é que as recebeu… a meio-campo. Quanto a Marega, tocou mais vezes na “menina”, 22, mas foi desmarcado por um opositor ou simplesmente errou o passe em metade delas.

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Não explica tudo – o Porto assumiu o jogo desde o início até ao derradeiro minuto da primeira parte e chegou a ter quase 80% (!) de posse de bola –, mas explica o empate a zero ao intervalo (o Chaves esteve quase sempre recolhido à defesa e Casillas teve o melhor “lugar” para assistir ao jogo no Dragão), sendo a primeira vez que os portistas não chegam à vantagem ao descanso esta época.

Insatisfeito, Sérgio Conceição deixou Corona no balneário ao intervalo e fez entrar Tiquinho Soares. À falta de Aboubakar ou Marega na grande área, esta seria de Tiquinho. Seria mas acabou por não ser. E ainda bem. É que foi a partir da lateral direita (onde foi encostado) que o brasileiro conduziu (59’) a bola, entregou-a depois em Brahimi ao centro, o argelino deixou-a seguir um pouco mais para dentro, para Aboubakar, que a recebeu, driblou Paulinho (os rins da flaviense ainda estão certamente mal-tratados…) à entrada da área, rematando em seguida de pé esquerdo para a baliza. A bola ainda resvalou no lateral do Chaves e traiu Ricardo. Foi o quinto golo do camaronês esta época no campeonato.

A vantagem de ler uma crónica se não assistiu ao jogo é apenas esta: não precisa de saber o que se passou até aos 85’ – não, não se passou absolutamente nada de relevante; foi um marasmo de ideias e de chances de golo. Mas aos 85’ Tiquinho Soares voltou a ser útil ao Porto. Duplamente. Depois de um cruzamento de Layún à direita, Soares cabeceia na área e a bola só não segue para a baliza do Chaves (também não seguiria com perigo ou direção, diga-se) porque o central Maras a corta com o braço esquerdo. Priiiii, penalty no Dragão! Na conversão, bola para a direita, Ricardo também para lá cai e defende, mas defende para a frente e Soares, na recarga – foi também ele quem bateu um pouco displicentemente o penalty –, faz o segundo golo da noite. O brasileiro estreia-se a marcar esta época. Curiosamente, o seu último golo havia sido precisamente ao Chaves… em abril.

Estava resolvido o jogo – se não foi até aí que o Chaves incomodou Casillas, não seria com a desvantagem em 2-0 que o iria conseguir –, o Porto assumia a liderança em igualdade pontual com o Sporting, mas ainda havia mais um golo para contar antes de Rui Oliveira apitar para o final. Aos 88’, Óliver conduz a bola pela esquerda, ergue a cabeça, olha em volta, vê Marega na área a pedir a bola ao segundo poste, coloca-a lá redondinha e o maliano, de primeira, desvia terceiro golo.

O resultado foi bom, a exibição não. Se calhar Sérgio Conceição até tinha onde encaixar Neymar…