O papa Francisco apelou este domingo, na Colômbia, ao fim da “cultura da morte” para consolidar a paz, após os acordos assinados com as últimas guerrilhas do país para terminar com mais de meio século de conflito armado.

“À cultura da morte, da violência, respondemos pela cultura da vida, do encontro”, declarou o sumo pontífice no decurso da quarta missa celebrada durante a sua permanência na Colômbia e que decorreu em Cartagena de Índias (norte), última etapa da visita de cinco dias.

Francisco afirmou que no processo de pacificação da Colômbia “não se podem esquecer as pessoas”, num discurso onde aproveitou para emitir uma mensagem sobre a forma como deve avançar o processo de paz no país latino-americano.

Numa referência ao complexo processo de pacificação no país e “onde se observa uma delicada harmonia entre a política e o direito”, o papa assinalou que “não se podem esquecer as pessoas”.

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Na homília celebrada perante centenas de milhares de fiéis concentrados na área portuária de Contecar, onde chegou de helicóptero, o papa disse que a paz “não se alcança com o desenho de marcas normativas e arranjos institucionais entre grupos políticos e económicos de boa vontade”.

Desta forma, aconselhou, é preciso incorporar nos “processos de paz a experiência de setores que em muitas ocasiões, têm estado ausentes, para que sejam precisamente as comunidades que desenhem os processos de memória coletiva”.

Num país fortemente polarizado e com elevado nível de crispação política na sequência dos acordos entre o Governo do Presidente Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), Francisco explicou que não se deve construir “um projeto de uns poucos para poucos ou uma minoria esclarecida ou testemunhal que se aproprie de um sentimento coletivo”.

Trata-se de um acordo para viver juntos, de um pacto social e cultural”, disse, citando a exortação “Evangelii Gaudium”.

Num discurso mais centrado no tema do processo de paz iniciado na Colômbia após a assinatura dos acordos de paz e as recentes negociações com o Exército de Libertação Nacional (ELN, a segunda guerrilha colombiana), Jorge Bergoglio também assinalou que “as profundas feridas da história precisam necessariamente de instâncias onde se faça justiça, se dê possibilidade às vítimas de conhecer a verdade, que os danos sejam devidamente reparados e existam ações claras para evitar que se repitam esses crimes”.

O papa voltou também a citar “esse escritor tão de vós, tão de todos [Gabriel García Márquez]” ao afirmar que “este desastre cultural não se remedeia nem com chumbo, nem com prata, mas com educação para a paz, construída com amor sobre os escombros de um país crispado onde nos levantamos cedo para continuar a matar-nos uns aos outros”, não deixando de criticar a passividade de alguns setores católicos.

O pontífice também pediu para rezarem “pelo resgate de aqueles que estiveram errados e não pela sua destruição, pela justiça e não pela vingança, pela reposição da verdade e não pelo esquecimento”.

Francisco frisou ainda que a paz estável e duradoura na Colômbia passa por garantir “o bem comum, a equidade, a justiça, o respeito da natureza humana e das suas exigências”.