Em ano de eleições autárquicas, o Observador convidou os leitores a enviarem, através deste formulário, denúncias relativas a promessas dos seus presidentes de câmara que ficaram por cumprir. Das centenas de informações que nos continuam a chegar, escolhemos as mais relevantes e publicamos, até às eleições, os resultados.

Onde?

Município de Alcanena, distrito de Santarém. É um município com 14 mil habitantes que se divide em sete freguesias.

Quem?

Fernanda Asseiceira, presidente da Câmara de Alcanena eleita pelo PS. Lidera a autarquia ribatejana desde 2009 e este ano é novamente candidata para um terceiro mandato.

Fernanda Asseiceira nos cartazes de campanha para as eleições deste ano

Qual foi a promessa?

Inaugurar o Museu do Curtume de Alcanena. Neste caso não se trata de uma promessa de campanha eleitoral, mas sim de um compromisso assumido enquanto presidente da câmara. O edifício do museu está pronto desde 2008, resultado da requalificação de um edifício histórico da vila, mas nunca abriu. O caso é já uma das maiores controvérsias do município, uma vez que a data de abertura tem sofrido múltiplos adiamentos e até hoje as portas continuam fechadas.

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As obras arrancaram ainda no mandato do anterior presidente da autarquia, integradas num projeto que pretendia levar um museu a cada freguesia do concelho. Na vila de Alcanena, decidiu implementar-se um museu dedicado ao curtume, já que é ali que é produzida grande parte do couro em Portugal. A recuperação de um antigo edifício no centro da vila para implementação do museu foi feita com apoio de fundos europeus. No total, a obra de requalificação do edifício rondou os 1,7 milhões de euros.

Um ano depois da conclusão da obra, Fernanda Asseiceira ganhou as eleições e assumiu a liderança da autarquia. No primeiro mandato da socialista, o museu não foi inaugurado por falta de fundos para o manter aberto. Tudo mudaria em 2013: duas semanas antes das eleições autárquicas, em setembro desse ano, a câmara municipal assinou um protocolo com o Instituto Politécnico de Tomar, com a Associação Portuguesa dos Industriais de Curtumes e com o Centro Tecnológico das Indústrias do Couro, e assumiu pela primeira vez uma data para a inauguração do museu: setembro de 2014, por ocasião do centenário do concelho, como relatou o jornal O Ribatejo. O momento foi considerado o “abrir de portas simbólico do museu”.

Em setembro de 2014, nada feito. Como se lia no jornal O Torrejano, o museu não abriu nem viria a abrir naquele ano. De acordo com a publicação, a decisão foi comunicada numa reunião de câmara em que a presidente, Fernanda Asseiceira, admitiu que o museu já não abria naquele ano e anunciou nova data, maio de 2015.

Mais um salto no tempo até maio de 2015 e o museu continuou encerrado. De acordo com a notícia do jornal O Mirante, que na altura denunciou que a abertura foi “uma vez mais adiada”, a presidente da câmara justificou a decisão com o “grande esforço despendido com as comemorações do centenário do concelho e à falta de financiamento comunitário para o projeto museográfico”. O centenário do concelho era, recorde-se, o pretexto para a abertura do museu em 2014.

Fernanda Asseiceira (à direita) durante uma visita ao Museu do Curtume com a presidente da Ciência Viva, Rosalia Vargas, para “reforço da componente científica” do museu (Fotografia: CM Alcanena)

Qual é o ponto de situação?

O museu continua encerrado, mas para já a autarquia não se comprometeu com mais prazos. Apenas um “talvez” pelo meio: em 2016, a presidente da Câmara disse ao jornal O Mirante que a autarquia continuava à procura de financiamento (depois de ter visto a candidatura ao financiamento comunitário do PRODER recusada) e que esperava que o museu pudesse abrir por altura da Expopele de 2017. Não aconteceu. A feira decorreu em junho deste ano e o museu continua fechado.

O desenvolvimento mais recente foi a notícia, já este ano, da preparação de uma candidatura no âmbito do quadro comunitário 2020 para abertura do museu nos próximos anos, como escreve também O Mirante. A presidente da câmara esteve no museu com a presidente da Ciência Viva, Rosalia Vargas, e promoveu uma avaliação do espólio que já lá se encontra. Mas não há indicação de data para a abertura da exposição.

Qual a justificação da autarquia?

Contactada pelo Observador, a câmara municipal de Alcanena não quis responder às questões colocadas sobre o assunto, nomeadamente sobre os motivos que levaram ao incumprimento do compromisso assumido em 2013 e aos esforços empenhados na abertura do museu. O gabinete da presidente da autarquia limitou-se a enviar uma breve nota em que esclarece que o projeto “está a ser avaliado no que diz respeito à sua implementação“, acrescentando que já estão aprovados “os Projetos Museológicos e Museográficos”.

Em resumo, depois de ter assumido o compromisso e falhado três datas de abertura, a autarca preferiu voltar atrás e tem um projeto menos ambicioso: encontrar fundos e abrir o museu quando possível. E conta com a reeleição este ano para o fazer, como disse ao jornal O Mirante em 2015: “Estou cá para continuar para o próximo mandato, se tiver saúde, e por isso quero ter vários projetos para concretizar”.