Cerca de 24 horas depois do atentado de sexta-feira no metro de Londres, que feriu pelo menos 29 pessoas, era notícia a detenção de um primeiro suspeito, um rapaz de 18 anos, que se preparava para sair do Reino Unido por via marítima, e foi apanhado pela polícia na zona de partidas do porto de Dover, a 130 quilómetros da capital. Logo a seguir, a Polícia Metropolitana confirmou a evacuação de várias centenas de casas na cidade de Sunbury-on-Thames, a 24 quilómetros de Londres, devido a buscas numa moradia na Cavendish Road. Parecia tudo normal, a estranheza veio depois, quando se percebeu que a casa em questão pertencia a um casal de reformados, ele com 88, ela com 71 anos.

Ronald e Penelope Jones, os donos da casa, não quiseram falar à imprensa mas sabe-se que o casal tem recebido temporariamente, desde há 40 anos, inúmeras crianças e adolescentes, em regime de acolhimento temporário. Não há para já confirmação por parte das autoridades de que os jovens detidos no âmbito da investigação ao atentado (às últimas horas de sábado foi preso um segundo suspeito, de 21 anos) tenham sido recebidos em casa dos Jones.

Ainda assim, ao The Sun, Alison Griffiths, uma conselheira do condado de Surrey, garantiu que nesta altura o casal só tinha dois jovens em casa, um de 18, outro de 22 anos. “Eles são um dos grandes pilares da nossa comunidade, fazem um trabalho que não há muito mais gente a fazer”, disse.

Desde 1970, o casal, que tem seis filhos biológicos, já recebeu 268 crianças — algumas, pelo menos 8, garantiram alguns vizinhos aos meios de comunicação locais, refugiadas vindas de zonas em conflito, como Síria, Iraque e Eritreia.

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Uma das moradoras na Cavendish Road, Serena Barber, de 45 anos, confirmou que são dois os rapazes atualmente sob a custódia dos Jones e afiançou que um deles tinha sido interrogado pela polícia no início do mês de setembro. “Tem havido muitos problemas com um dos rapazes. O outro é bastante sossegado”, disse a vizinha, que também garantiu que os dois jovens são de nacionalidade síria.

Penelope e Ronald Jones já tinham sido notícia em 2009, quando foram agraciados, pela própria Rainha Isabel II, com a Excelentíssima Ordem do Império Britânico, pelos serviços prestados à comunidade, nomeadamente através do acolhimento de menores.

Na altura, Penelope explicou à BBC por que motivo recebeu, com o marido, quase três centenas de crianças e jovens em casa: “Fazêmo-lo porque é gratificante. Abrimos os nossos corações às crianças. Fazemos tudo o que podemos para ajudar todas as crianças que vêm até nós”.

Também admitiu que nem sempre foi fácil — aliás, decidiu começar a ser mãe de acolhimento temporário depois de trabalhar com jovens em prisões. O primeiro rapaz que recebeu, em dezembro de 1970, tinha 16 anos e um historial de transgressão: “Se não estava a ser chamada à esquadra, estava a pôr-lhe pensos e a desinfetar-lhe feridas“.

Apesar de ter sido um arranque particularmente difícil, os Jones não desistiram: “Uns anos depois decidimos que estávamos prontos para receber outra criança. Gosto de poder ajudar as outras pessoas, só isso”. Em 2009, explicava Penelope, ainda sabia do paradeiro de grande parte dos filhos: “Tento manter-me em contacto com eles. Alguns foram adotados. Quando fazem anos, mando-lhes postais — é uma família muito alargada”.

Ronald e Penelope continuam impossibilitados de regressar a casa, onde ainda decorrem buscas.