O Trojan Horse Was a Unicorn (THU) “cresceu demasiado” e para o ano pode não caber em Troia. Quem o diz é André Lourenço, o setubalense de 36 anos que lançou aquele que hoje classifica como “um evento único a nível mundial” de entretenimento digital. Entre 18 e 23 de setembro, há mais de 900 pessoas no Centro de Congressos de Troia, para ouvir vários nomes da industria e — quem sabe — encontrar uma oportunidade de trabalho. Há 16 estúdios de animação que vão estar a recrutar no THU.

O fundador explica ao Observador que não é certo que o THU vá sair do país, porque o Governo está empenhado em manter o evento que esgotou em nove dias no país, mas a verdade é que as condições em que está a decorrer a edição de 2017 do THU já “não são suficientes para aquilo que é o crescimento bruto” do evento.

“Somos um país pequeno, que não tem capacidade para acompanhar o crescimento do THU”, afirmou André Lourenço, acrescentando que o evento precisa de “um sítio que possa acolher mais pessoas, onde conseguimos ter apoio para construir instalações que aqui não temos e que queremos construir, como um food court [um sítio só para a venda de comida], mais auditórios, tendas”, afirmou.

Quem tem feito mais pressão para levar o THU para fora de Portugal é Malta, admite André Lourenço. “Há uma comitiva de sete pessoas do governo de Malta que chega hoje à meia-noite. E nós vamos lá, para fazer a última visita, em outubro”, diz o fundador do THU, salvaguardando que a secretária de Estado do Turismo, Ana Godinho, e a secretária de Estado da Indústria, Ana Lehmann, estão a “fazer o máximo que podem” para manter o evento no país.

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Questionado sobre se existe outro sítio em Portugal (que não Troia), que possa receber o THU, André Lourenço diz que não. Mas acrescenta que a reunião com o Governo só deve ocorrer lá para novembro. “Vamos reunir toda a informação para validar tudo o que estivemos a fazer. Sabemos que o governo quer apoiar o evento, mas aqui é uma questão de escala. Parece-me que Portugal não tem a escala necessária para manter o THU em Portugal”, afirmou.

Na edição que arranca esta terça-feira, entre os oradores, destaque para o sócio de André Lourenço, Scott Ross — que em 1993 fundou a produtora Digital Domain com James Cameron e Stan Winson, tendo sido responsável pelos efeitos especiais do icónico Titanic –, Brad Lewis — o realizador e produtor resonsável pela produção do filme de animação da Pixar “Ratatouille” e corresponsável pelo “Carros 2”, também da Pixar — ou Erick Oh — ilustrador em filmes independentes e na Pixar, tendo participado na animação dos filmes “Divertida mente” e no “À procura de Dory”.

Há um unicórnio da animação à solta em Troia. E esteve quase para se ir embora

Os bilhetes para o THU esgotaram em nove dias. Custavam 702 euros e incluíam o passe para os seis dias do evento. André Lourenço explica que este ano há mais portugueses e brasileiros no THU, mas que os participantes vêm do mundo todo, com destaque para os que chegam a Troia vindos de Espanha, Reino Unido, França e Polónia. O investimento feito na edição de 2017 foi de 1,4 milhões de euros.

“Tornámo-nos num festival global na área do entretenimento de media. Conseguimos fechar o ciclo todo este ano. Juntámos todas as pessoas que desenvolvem produtos, que os gerem, juntamente com os ‘marketeers’, os programadores, os artistas, todas as pessoas que trabalham na indústria. Finalmente, juntámos estas pessoas todas”, explica André Lourenço. E acrescenta: “Agora sim, somos um evento único a nível mundial”.

O THU nasceu em 2014 para cerca de 120 pessoas (oradores incluídos), mas foram menos de 50 aquelas que compraram bilhete. Na edição seguinte, em 2015, eram cerca de 400 as pessoas que compunham o evento de Troia, mas não as suficientes para fazer do THU um evento financeiramente sustentável e André Lourenço anunciou que não tinha condições para mantê-lo em Portugal. Foi aí que o ex-secretário de Estado da Indústria, João Vasconcelos, interveio e conseguiu dar o apoio necessário para que as edições de 2016 e 2017 se mantivessem em território nacional.