Portugal pretende ter, em 2022, uma unidade de saúde capaz de tratar anualmente 700 doentes com cancro recorrendo à física de partículas de alta energia, tecnologia eficaz e com menos efeitos secundários do que a quimioterapia.

A informação foi avançada à Lusa pelo ministro da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior, Manuel Heitor, que participou esta terça-feira em Viena, Áustria, na abertura da 61.ª Conferência Geral da Agência Internacional de Energia Atómica.

Manuel Heitor aproveitou a deslocação a Viena para recolher apoio técnico para o projeto por parte da agência, cujo diretor-geral, Yukiya Amano, disse, virá a Portugal em abril. Portugal espera congregar ainda o apoio do CERN – Organização Europeia para a Investigação Nuclear, da qual faz parte, e da universidade norte-americana do Texas, com a qual reforçou a cooperação científica e tecnológica para as terapias oncológicas, adiantou, precisando que a cidade texana de Houston dispõe de uma unidade de tratamento de cancro com tecnologia nuclear de protões de alta energia.

Segundo o ministro, esta tecnologia, baseada em feixes de protões de “alta intensidade”, é também utilizada com aplicações na oncologia na Alemanha, no Reino Unido e na Suíça, estando a ser estudada em Espanha.

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É uma tecnologia que está a emergir no mundo (…), que permite o tratamento eficaz de cancros que não conseguem ser tratados com as tecnologias mais convencionais e reduz os efeitos secundários de tratamentos baseados na quimioterapia ou radioterapia”, assinalou.

A nova unidade de tratamento de doentes com cancro, do Serviço Nacional de Saúde, que o ministro espera possa estar instalada nos próximos cinco anos, poderá vir a funcionar no campus tecnológico e nuclear do Instituto Superior Técnico, em Bobadela, Loures, aproveitando a “maior concentração de técnicos em ciências e tecnologias nucleares”.

No fundo, é “reorientar muita dessa capacidade para as terapias oncológicas”, acentuou, lembrando que a “possibilidade de formar mais técnicos” surgiu este ano letivo com a abertura de mais vagas no ensino superior em física, a pensar na aplicação médica.

O projeto, para o qual foi criado um grupo de trabalho, formado nomeadamente por representantes do ministério, do Instituto Superior Técnico e do Instituto Português de Oncologia de Lisboa, implica um investimento de 100 milhões de euros, que Manuel Heitor pensa poder ser suportado por fundos comunitários e por fundos reembolsáveis do Banco Europeu de Investimento.

Esta terça-feira, na abertura da 61.ª Conferência Geral da Agência Internacional de Energia Atómica, o diretor-geral, Yukiya Amano, recordou que o uso das tecnologias nucleares na saúde humana “ajuda a salvar anualmente milhões de vidas”, realçando que a agência “trabalha com os governos para aumentar a experiência dos países em radioterapia e medicina nuclear”.