Qual a hipótese de no frente a frente final do maior programa de talentos do mundo estarem duas crianças? Aconteceu à 12ª temporada do America Got Talent. Darci Lynne, uma ventríloqua de 12 anos, ganhou a Angelica Hale, de 10.

Mas entre os finalistas havia ainda outras grandes surpresas: uma cantora surda, a única sobrevivente da queda de um avião no Quénia, outra miúda que concorreu para fazer a vontade ao pai com cancro (acabaria por morrer durante as emissões), uma treinadora de cães (abandonados) e espetáculos de dança/ginástica completamente inovadores. Por isso, a final desta temporada, que teve a ex-modelo Tyra Banks como apresentadora e Simon Cowell, Howie Mandel, Mel B e Heidi Klum como jurados, bateu vários recordes de audiências na NBC e foi considerada épica. Tornou-se o programa mais visto da televisão americana nos últimos seis anos, com mais de 14 milhões de telespectadores.

Mas centremo-nos no duelo final. E como se chegou até ele.

Darci começou por surpreender logo na audição com Petúnia, uma coelha de peluche armada em diva. Os seus dotes de ventríloqua ficaram claros nas primeiras respostas sobre quem era e de onde vinha, mas depois veio a grande surpresa: ela conseguia cantar sem abrir a boca, e é preciso pôr cantar em letras maiúsculas. A voz que fazia sair pela boneca em “Summertime”, de Ella Fitzgerald, era absolutamente única, ao ponto de não deixar outra opção aos jurados: Mel B, a ex-Spice, carregou no botão dourado que dava passagem automática para as galas em direto.

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E o que fez depois Darci? Puxou do humor e homenageou Mel B, aparecendo com um segundo boneco, o coelho Oskar, apaixonado pela ex-Spice, a quem dedicou “Who’s Lovin’ You”, dos The Jackson 5’s.

https://www.youtube.com/watch?v=4ZlxuafIqp4

A terceira atuação, nas meias-finais, seria ainda mais surpreendente: sabendo que o jurado principal é Simon Cowell, também produtor do programa, Darci surgiu com a fantoche de uma velhota malandra, Edna, que se ‘atirou’ sem rodeios a Simon cantando-lhe (ao ouvido) “You Make me Feel Like” de Aretha Franklin como se fosse a própria.

Era por isso muita a expectativa sobre o que podia ainda fazer de melhor uma criança de doze anos na grande final para ganhar o prémio de um milhão de dólares e um espetáculo próprio em Las Vegas. Big deal, deve ter pensado Darci, que juntou Petúnia e Oskar para um dueto onde conseguiu alterar o tom de voz sem mexer os lábios ao entoar “With a Little Help From My Friends”, de Joe Cocker. Plateia e jurados de pé, a vitória parecia no ‘papo’.

https://www.youtube.com/watch?v=8ropWor8aAM

Mas havia um problema. É que entre os outros nove finalistas uma outra criança prometia dar luta: Angelica Hale. Na estreia, a menina então com nove anos, que tinha acabado de saber que ia ter uma irmãzinha, apareceu em palco com tanto de timidez como de doçura. Disse que queria ser a nova Witney Houston, uma super estrela e que estava ali para ganhar. Para o provar, modificou-se ao cantar “Rise Up”, de Andra Day.

https://www.youtube.com/watch?v=TddQEzW9MQM

Na segunda atuação, Angelica escolheu “Girl on Fire” de Alicia Keys, que lhe valeu o botão dourado do jurado convidado, Chris Hardwick: estava dado o passo definitivo rumo às galas em direto entre muitas, mas muitas lágrimas.

Depois Angelica cantou “Clarity”, de Zedd, “Without You”, de David Guetta, visitou hospitais, teve a honra de entoar o hino americano, andou em programas de televisão, fez dez anos e conheceu a nova mana até chegar à final do programa.

https://www.youtube.com/watch?v=VRjT1bDuYM4

https://www.youtube.com/watch?v=FfRGxN2zeWU

E foi na final que Angelica mais deslumbrou e confirmou a promessa que fez na edição inicial: não estava ali apenas (“in it”), estava ali para ganhar aquilo (“win it”). Escolheu “Symphony”, de Clean Bandit, e arrasou (a palavra, acredite, não é desproporcionada).

https://www.youtube.com/watch?v=Z-IH__81oyY

Entre os outros concorrentes estavam mais favoritos, como Kechi Awe, única sobrevivente da queda de um avião no Quénia que a obrigou a mais de 100 cirurgias; Mandy Harvey, uma cantora surda; mas também Evie Clair, 14 anos e a perda recente do pai durante a temporada, ou o ruivinho Chase Goehring, considerado já o sucessor de Ed Sheeran.

https://www.youtube.com/watch?v=7P1eWyKcaEY

https://www.youtube.com/watch?v=j2pKvrSxtKo

https://www.youtube.com/watch?v=kwjhBO8i4Xg

https://www.youtube.com/watch?v=HSjQCR34KyU

Havia ainda cães de rua treinados como verdadeiros artistas, danças malucas e até um humorista.

https://www.youtube.com/watch?v=WJ_QQAmnOF4

https://www.youtube.com/watch?v=Gay5OE0oTWY

https://www.youtube.com/watch?v=volBPH7dR5o

https://www.youtube.com/watch?v=qnXh15tgNuw

Mas acabariam apenas elas, Darci e Angelica, 12 e 10 anos de talento. Incrível final. Um concurso de adultos, com um frente a frente infantil. Levaria a melhor (e um milhão de dólares) a mais velha, cuja voz não lhe sai da boca, mas da dos fantoches que a rodeiam. Angelica tem seguramente também o futuro garantido. Promessa de Simon Cowell que, além de jurado, produtor e mais uma série de coisas, é também o mentor de muitas das grandes estrelas da atualidade.