A filha do fundador da gigante de cosméticos L’Oréal, Liliane Bettencourt, morreu esta quinta-feira aos 94 anos, em casa. A notícia foi avançada pela filha, Françoise Bettencourt-Meyers, em comunicado. Aquela que a Forbes assegura ser a “mulher mais rica do mundo em 2017” — com uma fortuna avaliada em 33 mil milhões de euros — sofria de demência e há anos que não estava envolvida nos negócios de família. Já em 2015, Liliane foi uma das 10 pessoas mais ricas do planeta com 40,1 mil milhões de dólares (36 mil milhões de euros).

A vida de Bettencourt foi, nos últimos anos, equiparada a uma novela, dadas as acusações de aproveitamento da herdeira, o relato de uma família dividida e as notícias de políticos suspeitos de tráfico de influências que chegaram, inclusive, até aos calcanhares do ex-presidente Nicolas Sarkozy, tal como recorda o espanhol El País.

Liliane Bettencourt nasceu a 21 de outubro de 1922 na cidade das luzes, em Paris — faltava menos de um mês para completar 95 anos. Ficou órfã de mãe aos cinco anos e foi criada por freiras dominicanas e pelo pai, Eugène Schueller, o químico que fundou o império L’Oréal, que começou por se chamar Auréale, em 1909. A empresa desenvolveu-se a partir dos primeiros corantes capilares criados por Schueller e cresceu a alta velocidade, revolucionando a área de atuação. Escreve o Le Monde que a vida de Liliane desde cedo acompanhou esse ritmo alucinante.

A infância de Bettencourt foi pautada pela educação de um pai severo e muito trabalhador, que acordava todos às quatro da manhã. Aos 15 anos, em plena adolescência, começou a trabalhar numa das fábricas do pai a colar rótulos nas garrafas da marca. Escreve a Bloomberg que Eugène Schueller chegou a envergonhar a filha devido à suas ideologias políticas: antes e durante a Segunda Guerra Mundial, foi apoiante do grupo fascista La Cagoule, com ligações ao regime nazi. Recebeu, inclusive, reuniões desta organização na sede da L’Oréal, em Paris.

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A empresa que herdou, sempre com sede em Paris, cresceu de uma pequena fornecedora de tintas capilares para o maior fabricante de produtos de beleza com mais de 30 marcas no currículo, incluindo as muito conhecidas Lancôme e Garnier. Segundo a Bloomberg, a empresa teve uma receita de 25,8 mil milhões de euros em 2016.

A francesa deixou a administração da empresa em 2012, depois de 17 anos de liderança e de o tribunal declarar que já não estava apta mentalmente para cuidar de si própria. Até então, a sua participação esteve sob tutela de membros da família.

A demência que marcou os últimos anos de vida de Liliane serviu de pretexto para que amigos e outras pessoas próximas se aproveitassem dela e da sua fortuna, através de presentes e doações milionárias. Nesse grupo estariam incluídos o advogado e o administrador. Situação semelhante aconteceu com o amigo íntimo e fotógrafo François-Marie Banier, acusado pela filha da milionária de ter enriquecido de forma abusiva à sua custa. Uma batalha judicial que durou cerca de uma década e terminou em 2015, com o artista a ser condenado a três anos de cadeia (com seis meses de pena suspensa, além da obrigatória devolução de 15 milhões de euros).

Também Nicolas Sarkozy foi a tribunal, depois de ter sido acusado, em setembro de 2013, de tirar proveito da fraqueza de Liliane de modo a obter financiamento. O ex-presidente francês foi exonerado.

Bettencourt, que herdou o império do pai quando este morreu em 1957, chegou a definir-se assim: “Sou, antes de mais, uma filha do meu pai”.