As autoridades do Sri Lanka admitiram num documentário holandês que milhares de crianças foram vendidas a famílias estrangeiras durante a década de 80. Mais de 11 mil recém-nascidos foram entregues a casais europeus, que ficaram com documentos e informação falsa sobre a criança – assim como as próprias mães. Algumas, inclusive, nasceram em “quintas de bebés” que eram construídas de propósito para realizar este negócio ilegal com o ocidente.

O ministro da saúde do Sri Lanka garantiu ao programa holandês Zembla que vai criar uma base de dados de ADN para ajudar os agora adultos a encontrar as suas mães biológicas. O governo do país acredita que cerca de 4 mil bebés foram vendidos a pais holandeses, mas o negócio estendia-se à Suécia, Dinamarca, Alemanha e Reino Unido.

Os realizadores deste programa holandês ficaram interessados no caso em novembro de 2016, depois de o Conselho Holandês para a Administração da Justiça Criminal e Proteção dos Jovens ter aconselhado o governo daquele país a banir as adoções no estrangeiro, devido a práticas pouco éticas no que dizia respeito às origens das crianças.

Norbert Reinjens, um investigador do Zembla, disse à BBC que existem provas de que toda a documentação era falsificada pelas autoridades responsáveis pelas adoções – incluindo as certidões de nascimento, os nomes dos bebés e a identidade dos pais biológicos. “Em algumas instituições, existiam ‘mães atrizes’ que eram pagas para fingir que eram a mãe biológica quando chegava o momento de entregar a criança”, revela Reinjens.

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O documentário sugere ainda que muitos funcionários dos hospitais trabalhavam em conjunto com as organizações ilegais – era frequente, por exemplo, dizer-se às mães das crianças vendidas que o bebé tinha morrido no parto. O Zembla conseguiu encontrar uma mulher que admitiu ter recebido 2 mil rupias de alguém ligado a um hospital para fingir ser mãe de uma criança vendida.

Quando os jornalistas responsáveis pelo documentário chegaram a Negombo, na costa ocidental do país, muitas mães de todo o Sri Lanka apareceram naquela aldeia à procura de respostas. Quase não tinham documentos. Uma delas tinha apenas uma fotografia do bebé, tirada em 1989. Outra disse que verificou todas as informações que tinha e descobriu que todos os documentos eram falsos – foi um dos casos em que uma “mãe falsa” apareceu na altura da adoção. Só apareceram mães, nenhum pai. Muitas das mulheres contaram que tiveram de abandonar os filhos porque também elas foram abandonadas pelos maridos.

Em 1987, o Sri Lanka baniu temporariamente todas as adoções depois ter sido descoberta uma das “quintas de bebés” com 20 recém-nascidos lá dentro. Testemunhos da altura diziam que as mulheres estavam ali cativas, em condições semelhantes às de uma prisão, rodeadas por um muro de 3 metros de altura.

Nos jornais do país é habitual aparecerem histórias de reencontros entre mães e filhos. Mas depois deste documentário e das conversas com muitas das mães que perderam os bebés, confirma-se um escândalo massivo de adoção ilegal nos anos 80.