As conferência de imprensa antes dos jogos podem ser sempre analisadas de diferentes formas. Pelo que se diz para fora e pelo que se quer dizer para dentro, pelo que se aponta aos outros para beneficiar os próprios, pelas análises às vezes incompreensíveis para quem ouve que são recados para quem quer ouvir. No caso do FC Porto-Portimonense (5-2), Sérgio Conceição e Vítor Oliveira só permitiram uma visão: explicaram antes o que iríamos ver depois (pelo menos quando abordaram em específico a partida do Estádio do Dragão). E cumpriram.

Ficha de jogo

Mostrar Esconder

FC Porto-Portimonense, 5-2

7.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Luís Ferreira (AF Braga)

FC Porto: Casillas; Ricardo, Felipe, Marcano, Alex Telles; Danilo (Reyes, 74’), Herrera; Corona (Óliver Torres, 66’), Brahimi, Marega e Aboubakar (Soares, 74’)

Suplentes não utilizados: José Sá, Maxi Pereira, Layún e Hernâni

Treinador: Sérgio Conceição

Portimonense: Ricardo Ferreira; Ricardo Pessoa (Hackman, 68’), Felipe Macedo, Rúben Fernandes, Lumor; Paulinho, Pedro Sá, Ewerton (Rosell, 68’); Whellington (Manafá, 46’), Fabrício e Nakajima

Suplentes não utilizados: Leo, Dener e Pires

Treinador: Vítor Oliveira

Golos: Marcano (20’), Aboubakar (23’), Marega (26’), Nakajima (36’), Brahimi (50’ e 68’) e Rúben Fernandes (73’)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Felipe Macedo (11’), Pedro Sá (47’), Herrera (59’) e Marcano (89’)

Bicadas, recados e avisos à parte, o treinador do FC Porto quis focar todas as atenções no encontro com os algarvios e cumpriu ao fazer apenas uma alteração na equipa e com tanto de estratégica como de obrigatória: Otávio, que acusou fadiga muscular, devolveu o lugar a Corona no flanco direito do ataque. De resto, jogaram os melhores. O que é louvável, tendo em conta o encontro da próxima terça-feira no Mónaco para a Liga dos Campeões à luz de um plantel onde Conceição recuperou muita qualidade mas continua refém da escassez de quantidade.

Já Vítor Oliveira, aquele mítico treinador nacional que deixou as subidas à Primeira Liga de parte para dar continuidade a um projeto futebolístico muito interessante no Portimonense que até às páginas do The Guardian chegou este Verão, vincou que, mais do que elogios à qualidade exibicional dos algarvios, queria era resultados. Por isso, deixou o aviso: “Vamos tentar chatear o FC Porto e complicar-lhes a vida”. E cumpriu. Ou, pelo menos, tentou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Tentou porque manteve o ADN do conjunto de Portimão, sem baixar em demasia as linhas e procurando sempre sair em transições rápidas para o ataque. No entanto, o FC Porto foi demasiado forte. E, logo nos primeiros 17 minutos, teve oportunidades claras para marcar através de Aboubakar (4′, ao lado), Marega (7′, defesa de Ricardo Ferreira) e Ricardo (17′, a rasar o poste). Com um ponto importante e que fez toda a diferença: o desposicionamento dos laterais contrários, arrastados pelos movimentos interiores que Corona e Brahimi iam fazendo para deixarem mais espaço para as deambulações de Marega e Aboubakar no ataque de dentro para fora.

Ainda assim, o primeiro golo acabaria apenas por surgir aos 20 minutos e de bola parada, através do central Marcano que, aproveitando um corte defeituoso da defesa do Portimonense, fuzilou Ricardo Ferreira com um remate que bateu no chão e saiu de forma picada como um míssil para a baliza. E a partir daí foi uma chatice.

Mas aquele não era apenas o primeiro golo, longe disso. E se aos 19.57 minutos os adeptos do FC Porto saltaram para comemorar, a verdade é que aquele era apenas o início de seis minutos infernais que colocaram os dragões na frente com três golos de avanço: primeiro foi Aboubakar, 129 segundos após o golo do espanhol, a receber de Corona que foi mais forte do que Lumor na direita para, à segunda, fazer o 2-0; depois foi Marega, 185 segundos após o golo do camaronês, a ser assistido de novo por Corona e a atirar fácil para o 3-0 isolado frente a Ricardo Ferreira.

Em seis minutos, toda a estratégia do Portimonense ruiu. E o descontrolo emocional dos algarvios foi mais do que evidente, ainda atarantados com uma avalanche ofensiva e eficácia dos azuis e brancos que, até este jogo, precisavam de oito remates e 40 minutos para marcar cada um dos golos na Primeira Liga (número que este noite baixou, como é fácil perceber). Queriam chatear o FC Porto, mas foi o FC Porto que se tornou uma chatice. E, depois de um bom remate que saiu perto do poste da baliza de Casillas por Pedro Sá, o máximo que os visitantes conseguiram foi reduzir a desvantagem aos 36′ por intermédio de Nakajima num grande lance individual (cuidado com este japonês ainda desconhecido que leva três golos noutros tantos encontros realizados neste Campeonato).

Na segunda parte, Vítor Oliveira ainda acreditava que era possível algo mais. E foi por isso que lançou Wilson Manafá na frente, tentando juntar mais velocidade ao nipónico voador. Mas se na frente as coisas até estavam a correr bem e a equipa mantinha a qualidade que se tem visto, lá atrás continuava o pesadelo. Um pesadelo que, na segunda parte, teve um nome: Brahimi. Aos 50′, o argelino concluiu da melhor forma na esquerda uma jogada que começou na direita com Corona e passou ainda por Marega e Aboubakar; aos 68′, começou e acabou uma bonita transição rápida que teve um calcanhar de Aboubakar e uma simulação de Herrera pelo meio.

O jogo estava praticamente fechado, mas o Portimonense conseguiu ainda reduzir a desvantagem para o 5-2 final com um golo de Rúben Fernandes, mas o mal já estava feito para os algarvios. E foi a partir desse momento que, ainda com pouco mais de 15 minutos para jogar, Sérgio Conceição poupou Danilo e Aboubakar tendo em vista o encontro no Mónaco. Herrera, aos 86′, deixou o último sinal de perigo com uma bola no poste, antes de Casillas conseguir também evitar mais um golo do conjunto de Vítor Oliveira.

O FC Porto venceu e venceu bem, pelo caudal ofensivo que apresentou. O Portimonense perdeu e perdeu bem, pelos sucessivos erros defensivos que foi cometendo. E tudo num jogo onde uns queriam chatear, outros foram uma chatice mas que teve pouco ou nada de chato. Antes, durante e até depois do apito final: zangado por “oito das dez perguntas da antevisão terem sido sobre o Benfica”, Sérgio Conceição esclareceu que nunca falou em crise do rival e saiu dizendo que “como ontem não me perguntaram sobre o Portimonense, hoje também não falo”.