Constança Manuel sabia que não havia nada de inocente nos encontros que o marido, o Infante D. Pedro — descrito como “homem arrebatado, brutal e com seu quê de vesânico” — combinava na Quinta das Lágrimas com a dama de companhia Inês de Castro, uma jovem galega filha do poderoso fidalgo Pedro Fernandes de Castro. O amor que ambos nutriam, e que teimavam cada vez mais em expor, não era apenas um incómodo para o casamento de Constança com Pedro: era também um caminho para as influências políticas que Álvaro Pires de Castro e Fernando de Castro, irmãos de Inês, tinham sobre o infante.

Mas Constança tinha um plano. Quando o primeiro filho com Pedro nasceu, Luís de Portugal, primeiro varão de D. Pedro, Inês foi convidada para ser madrinha. E aceitou. Num país com pilares sólidos nos princípios católicos, se Pedro mantivesse um relacionamento amoroso com a madrinha do filho estaria a cometer um pecado tão condenável como o incesto. Mas a morte de Luís, com apenas uma semana de vida, veio aumentar as desconfianças do amor proibido entre Pedro e Inês. Por isso, D. Afonso IV interviu.

Em 1344, perante o ultraje da relação adúltera de Pedro com Inês, a dama galega foi enviada para Albuquerque na esperança que a distância esfriasse a paixão. Pelo contrário, ainda a inflamou mais: Pedro e Inês trocavam cartas enquanto Constança, ignorada pelo marido e em constante sofrimento durante os partos, caminhava lentamente para uma morte que nunca foi lamentada pelo reino. Em 1345, Constança acabaria mesmo por morrer depois de dar à luz em Coimbra o infante D. Fernando, herdeiro ao trono. Mas nem com Constança fora da equação o amor de Pedro e Inês teve um final feliz.

Assim que Constança foi enterrada, Pedro mandou Inês regressar e passou a morar com ela. D. Afonso IV, no entanto, repudiava a relação e semeou a sua reprovação na corte e no povo. Mesmo depois de lhe dar três netos, todos nascidos no Paços de Santa Clara, Afonso IV mandou assassinar Inês na Quinta das Lágrimas — onde, reza a lenda, os cursos de água ainda recordam esse sofrimento e as pedras vermelhas simbolizam o sangue da galega. Pedro nunca perdoou o pai: chegado ao trono, mandou arrancar o coração a todos os que estiveram envolvidos na morte da sua amada e passou a ser conhecido como Pedro, o Cruel.

Quase 700 anos depois, a Quinta das Lágrimas ainda é visitada por turistas que querem sentir a atmosfera trágica e apaixonada do amor proibido entre Pedro e Inês. É um exemplo em Portugal do chamado Turismo Negro, em que milhares de pessoas se dirigem a palcos de morte, sofrimento e tragédia para os visitar e estar mais perto de um ambiente que tem tanto de obscuro como de curioso para elas.

É o caso de Auschwitz, de Pompeia ou de Pripyat. Conheça-os na fotogaleria.

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