A frase feita

“Não estamos aqui como a campanha do CDS…” (Fernando Medina)

A frase resume o enorme — enormíssimo — problema do PSD em Lisboa. Depois de uma segunda sondagem que dá Assunção Cristas acima de Teresa Leal Coelho, o candidato socialista já nem se lembra que alguma vez existiu, na História de Portugal, um partido chamado PSD. Se se cruzasse com a candidata social-democrata na rua, Fernando Medina não a reconheceria, mesmo que ela levasse uma bandeira laranja vestida e um busto de Passos Coelho debaixo do braço. Por isso, concentra-se na líder do CDS.

O grande risco para Fernando Medina é ser apanhado no meio de uma pinça. À esquerda, não há muito a fazer, porque a mobilização é grande: o PCP daria o braço direito para manter a sua influência em Lisboa, e o BE daria o braço esquerdo para eleger um vereador. Mas, à direita, ainda é possível convencer os eleitores a ficarem em casa, o que serviria os propósitos do actual presidente da câmara. Se a gente do PSD achar que Teresa Leal Coelho os envergonha, e se a gente do CDS achar que o voto é inútil, Medina fica mais confortável. Mas, se algum eleitorado do PSD e todo o eleitorado do CDS se convencerem que a concentração do voto em Cristas pode fragilizar o PS (seja na câmara, seja no país, seja em ambos), então Medina fica num aperto. Daí os ataques diários ao CDS. Fernando Medina já percebeu tudo.

A frase desfeita

“Foi uma questão de reforçarmos a comunicação nesta reta final da campanha” (Teresa Leal Coelho)

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A frase em cima, usada por Teresa Leal Coelho para justificar a substituição do seu assessor de imprensa, é um enigma: afinal, se o objectivo é “reforçar a comunicação”, não seria preciso substituir ninguém, mas acrescentar. De qualquer forma, o ponto não é esse. Todas as campanhas que deixam de ser um problema para se transformarem num desastre, e depois deixam de ser um desastre para se tornarem numa comédia, acabam por desabar em cima das mesmas pessoas: os assessores.

É uma boa desculpa, mas um péssimo método. Os assessores de imprensa são seguramente importantes, mas não tão importantes que levem à implosão de um grande partido em Lisboa. De qualquer forma, compreende-se a escolha: a uma semana das eleições, não seria seguramente prudente mudar de candidato. Pedro Passos Coelho permitiu que o colocassem numa posição impossível em Lisboa e, agora, como costumam dizer as pessoas sem imaginação literária, terá que beber o cálice até ao fim.

A frase perfeita

“E não há papéis para eu distribuir? Até me sinto mal, carago. Sei que a sondagem de hoje é boa, mas tenho de continuar a fazer campanha” (Manuel Pizarro)

Há poucos dias, Manuel Pizarro corria o desagradável risco de se rirem dele quando saísse à rua para dizer que era candidato a presidente da Câmara do Porto. Mas a sondagem do JN mudou tudo. Subitamente, Rui Moreira treme e os socialistas agitam-se, com fé e fervor.

O actual presidente da câmara, que até agora se tem comportado como uma espécie de herdeiro inevitável de si próprio, vai ser obrigado a mostrar porque é que merece os votos que lhe dariam a vitória e a tranquilidade. Até ao momento, não se esforçou muito, o que já lhe está a custar caro e pode vir a custar caríssimo.

Nesta última semana, o Largo do Rato deve mudar-se para o Porto — em corpo ou, pelo menos, em espírito.