A frase feita

“Na bicicleta que eu quero pedalar para a Câmara cabe o Porto todo.” (Manuel Pizarro)

Em política, só há uma coisa pior do que não ter nenhuns apoios: é ter alguns apoios. Ou ter todos os apoios. Na “bicicleta” de Manuel Pizarro não devia caber toda a gente. O candidato do PS teve por estes dias, por exemplo, a infelicidade de receber a visita de Azeredo Lopes. Já seria mau ter ao seu lado um ministro da Defesa que não sabe se um roubo é um roubo — mas o desconforto assume dimensões estratosféricas quando esse ministro acumula no currículo o facto de ter sido chefe de gabinete de Rui Moreira e não sabe explicar porque é que agora ataca quem antes defendia. Azeredo Lopes usou a frase “Não sou um cata-vento” para explicar o apoio actual ao PS sem perceber que isso é o mesmo que ouvir Quim Barreiros jurar “Não sou um cantor pimba”.

Para Rui Moreira, foi uma dádiva. Quando confrontado com alguém que trocou a câmara do Porto pelo Ministério da Defesa, o candidato só precisa de sorrir e dizer: “Não recebemos telefonemas de Lisboa a dizer que o que estamos a dizer é inconveniente. Não vou receber ordens de ninguém, porque eu não vou embora daqui”. Podia ser o slogan da sua campanha. E se calhar vai ser.

A frase desfeita

“Em 2019! Em 2019 há eleições legislativas.” (Passos Coelho)

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Pedro Passos Coelho diz e repete, e repete, e repete: o seu grande objectivo é voltar a ser primeiro-ministro. Tratando-se do líder da oposição, essa ambição devia ser uma evidência sem necessidade de insistência. Ainda por cima, quando estamos a uma semana das autárquicas, e não das legislativas.

Porque é que o líder do PSD está a passar esta campanha a lembrar a todos os que se cruzam com ele que pretende concorrer a primeiro-ministro? Precisamente porque há o risco de que isso não aconteça. Passos sabe que no dia 1 de Outubro pode acordar bem cedo como líder do PSD e deitar-se bem tarde como o novo “ex” da política portuguesa. Insistir no ponto só aumenta a percepção da sua fraqueza.

A frase perfeita

“O almoço estava muito bom.” (João Ferreira)

Almoço a almoço, passo a passo, centímetro a centímetro. Em vez de lançar foguetes numa ostensiva precipitação, como o BE, o PCP gosta de fazer as coisas lentamente. O almoço da frase em cima aconteceu em Alvalade este domingo e mostra na perfeição como os comunistas fazem política: com um sentimento de tribo, com a noção de que para ganhar é preciso estar, e sem a pressa que pode deitar tudo a perder.

É esse sentido do tempo que ainda falta aos bloquistas — e é ele que dá uma enorme vantagem ao PCP nos combates à esquerda. Os comunistas perdem na agilidade mas ganham na estabilidade. O dia 1 de Outubro até pode não ser perfeito para o PCP, mas o partido sabe que há sempre uma nova eleição que vem a seguir.