A frase feita

“Não tenho nenhuma apetência pela política. É uma coisa que não me apaixona, sinceramente” (Rui Moreira)

Rui Moreira sofre, lacrimeja e lamenta-se. Não gosta de política, não suporta política, odeia política. No entanto, veja-se a terrível ironia da vida: é candidato a um cargo político. No momento em que se prepara para um segundo mandato — nem sequer é o terceiro — Moreira já parece mais cansado do que um maratonista que se enganou a meio da prova e teve que correr o dobro dos adversários.

O actual presidente da Câmara do Porto pode achar que isto lhe dá uma patine suprapartidária, mas engana-se. Vamos lá ver: não são os candidatos que fazem o favor de aceitar o voto dos eleitores; são os eleitores que fazem o favor de votar nos candidatos. Se os portuenses se convencerem que Rui Moreira já só pensa na reforma, podem cair na irresistível tentação de o mandar para a reforma mais cedo — quatro anos mais cedo.

A frase desfeita

“O primeiro-ministro precisa de bons presidentes de câmara para governar bem o país” (António Costa)

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António Costa não está a fazer campanha – quem está a fazer campanha é o primeiro-ministro. E faz sentido. As autárquicas acontecem no melhor momento de sempre do governo e, por isso, é preciso aproveitar: o primeiro-ministro apoia os seus candidatos, e os seus candidatos apoiam-se no primeiro-ministro.

Antes do “irritante optimista” António Costa, as autárquicas eram usadas pelos eleitores para pregar um susto aos governos. Este ano, não. Enquanto no PSD deve haver candidatos autárquicos que pagavam para não serem fotografados com o líder, no PS António Costa deve estar a ser mais solicitado do que Elvis Presley em 1957.

A frase perfeita

“Não esperem que tenhamos pessoas atrás de nós aos gritos. Que haja comícios. Isso já não se usa, isso já não existe.” (Manuela Ferreira Leite, numa acção de apoio a Teresa Leal Coelho)

Como se sabe, Teresa Leal Coelho é uma refinada especialista em campanhas eleitorais modernas. E esta segunda-feira recebeu o apoio de que Manuela Ferreira Leite (outra especialista na matéria), que fez o favor de explicar que arruadas é coisa que não se usa; entradas em cafés para falar com eleitores, nunca; e comícios, então, nem pensar. “Isso já não se usa, isso já não existe”, garante.

Sendo assim, o que é que sobra para um candidato que não se queira fechar numa cave durante a campanha e pretenda, efectivamente, ganhar eleições? Olhando para o exemplo de Teresa Leal Coelho, percebe-se, melancolicamente, que só sobra uma coisa. Adivinhem o que é que a candidata do PSD e Manuela Ferreira Leite decidiram fazer juntas? Esperem, não adivinhem, nunca mais lá chegam, eu digo: decidiram tomar o pequeno-almoço na Versailles. Mais moderno era impossível.

Artigo corrigido às 19h30 para a correcta atribuição da frase a Manuela Ferreira Leite.