O som de uma vara de bambu soava firmemente através dos vidros pelos quartos de Manchester. Nas primeiras horas da manhã, Inglaterra acordava para o alvoroço com a Revolução Industrial: o barulho das máquinas substituía a pouco e pouco os trabalhos manuais mais monótonos das fábricas, os motores a vapor invadiam a indústria e a economia crescia a pique. O dia, no entanto, já ia longo para os homens que andavam pelas ruas das cidades mais industrializadas a acordar a população batendo no chão com as suas varas. Para fazer o trabalho que um despertador faz hoje por nós, os acordadores levantavam-se às quatro da tarde do dia anterior. Faziam vida de corujas: dormiam de dia, trabalhavam à noite.

Os acordadores eram mais comuns nas cidades com trabalhos por turnos. Todos os dias, antes dos turnos começarem, batiam três ou quatro vezes nos vidros e só saíam da porta dos vizinhos quando eles se levantassem e abrissem as janelas. Faziam-no discretamente, no entanto: só batiam nas janelas de quem lhes desse uma moeda, por isso nunca gritavam para não acordarem quem não lhes pagava pelo serviço. Quando o dia de trabalho começava para toda a gente, os acordadores iam dormir.

Tudo viria a mudar no século XIX, quando os despertadores personalizados e automáticos foram inventados e patenteados em 1847 por Antoine Redier — antes, em 1787, Levi Hutchins havia inventado algo semelhante a um despertador mas que só ele usava: tocava às quatro da manhã para não se atrasar para o trabalho e a hora não podia ser alterada. Quando os relógios despertadores foram ganhando espaço nas cabeceiras da população, os acordadores deixaram de existir.

Esse foi o destino de muitas outras profissões, que a evolução tecnológica ou as mudanças socioculturais tornaram desnecessárias. O das carpideiras pagas para chorar nos funerais é outro dos casos, apesar de haver relatos de que ainda as há em alguns países, Portugal incluído (tal como os pagadores de promessas).

Na fotogaleria pode encontrar 24 exemplos de empregos que ficaram (quase todos) no passado (e que provavelmente nunca mais regressarão).

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