Parecia uma ação de campanha, mas com mais gente do que é habitual na comitiva do PSD na corrida de Loures. Cerca de duas dezenas de pessoas foram até ao Campus de Justiça apoiar André Ventura, em quem vêem um “mártir” da liberdade de expressão. A cinco dias das eleições, o candidato do PSD à Câmara de Loures foi esta terça-feira prestar Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP), sobre as declarações que fez sobre a comunidade cigana e saiu — após uma hora de depoimento — sem ser constituído arguido. À saída tentou virar o jogo a seu favor: “Eu hoje não devia estar aqui. Devia estar na rua a fazer política a três dias das autárquicas, como os outros candidatos.”

André Ventura nega estar a vitimizar-se, uma vez que não foi ali por sua vontade. “Estou aqui porque me chamaram. Porque alguém fez queixa. Seria vitimização se tivesse vindo aqui dizer que queria prestar declarações”, afirmou após questionado pelos jornalistas. O candidato do PSD à câmara aproveitou a situação para criticar aquilo que considera ser a falta de espírito democrático dos seus opositores, dizendo que é “uma vergonha para a democracia” e “inacreditável que um ou vários partidos políticos utilizem a justiça para impedir um candidato de expressar valores, ideias e convicções.”

À espera de Ventura à porta do DIAP estavam mais pessoas do que as que habitualmente o costumam acompanhar nas ações de campanha. Algumas delas tinham no bolso das calças alguns panfletos dobrados da candidatura do PSD a Loures. Um dos fiéis de Ventura à porta do edifício E do Campus de Justiça era o candidato à Assembleia Municipal, Ricardo Andrade, que explicou ao Observador que não se tratava de uma ação de campanha, mas de uma “manifestação espontânea” de apoio a André Ventura e de “defesa da liberdade de expressão”. Nega que o grupo tenha combinado estar ali: “Este tipo de coisas não se combina”. Isto embora todos parecessem conhecer-se.

Ricardo Andrade defende que as declarações de Ventura são “legítimas nos termos da lei”, como já defenderam “constitucionalistas como Vital Moreira” e que é “absurdo” o candidato do PSD ter de ir prestar declarações ao DIAP. Ainda antes de se saber se Ventura seria constituído arguido, Ricardo Andrade estava convicto que não seria: “A lei tem de funcionar”.

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Quanto a Ventura, voltou a apontar aos opositores, esperando que seja dada uma “mensagem muito clara àqueles que acham que a política se faz nos tribunais, se faz na justiça.E espero que neste caso, a justiça dê uma mensagem muito clara aqueles senhoras que acham que é aqui que se faz política.”

Sobre o timing em que foi chamado ao DIAP, Ventura começa por dizer que foi “uma escolha da justiça, a justiça faz o seu trabalho”, mas acrescenta: “Sou um cidadão cumpridor, mesmo estando em campanha eleitoral, vim. Não fugi à minha responsabilidade, não disse que estava doente, não fugi à minha responsabilidade.” E acredita que não vai ser constituído arguido, já que “graças a Deus, a justiça portuguesa sabe distinguir a política da justiça“.

Ventura revelou ainda que deu “todos os esclarecimentos que tinha de prestar sobre as declarações que tinha feito” e reiterou que está “convicto” que o que disse é “a verdade”. Disse igualmente estar “convicto que numa democracia madura e moderna podem ser ditas e devem ser ditas quando queremos resolver os problemas.” Acrescentou ainda que vai sempre dizer o que pensa, “ao contrário de outros que preferem dizer no café que há, mas que depois não o dizem em público”.

André Ventura deu uma entrevista polémica ao jornal i a 17 de julho, onde disse que “os ciganos vivem quase exclusivamente de subsídios do Estado”, depois de já ter dado uma entrevista ao Notícias ao Minuto a dizer que “há minorias no nosso país que acham que estão acima da lei”.

Ventura foi a tribunal depois de o Bloco de Esquerda ter apresentado uma queixa-crime na PGR, na sequência das declarações de André Ventura sobre a comunidade cigana. Depois dessa polémica, André Ventura deixou de contar com o apoio do CDS.

Bloco apresenta queixa-crime na PGR contra André Ventura

A audição tinha sido inicialmente agendada para dia 19 de setembro, mas foi adiada para esta terça-feira, a cinco dias das eleições autárquicas.