A frase feita

“Eu hoje não devia estar aqui. Devia estar na rua a fazer política a três dias das autárquicas.” (André Ventura)

Os adversários de André Ventura não param de o ajudar. Esta terça-feira, e nunca é demais lembrar que estamos na última semana de campanha, o candidato do PSD teve que passar uma hora no Ministério Público por causa de uma queixa apresentada pelo BE depois das suas declarações sobre ciganos. E o que é que aconteceu no final dessa hora? Rigorosamente nada. André Ventura não foi constituído arguido, ao contrário do que poderiam pensar — e esperar — alguns dos seus adversários.

Quando um político em campanha não fica fragilizado é porque fica fortalecido. Este foi um dia em que André Ventura conseguiu sorrir. E a culpa disso fica inteirinha no colo do Bloco de Esquerda.

A frase desfeita

“Não ponho fora de hipótese a construção de um elevador panorâmico.” (Manuel Pizarro)

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Manuel Pizarro entrou na fase Danoninho: acha que “só falta um bocadinho ‘assim’!”. Depois de uma sondagem o ter colocado ombro a ombro com Rui Moreira, o candidato do PS convenceu-se que, para ganhar, já só precisa de fazer mais um sorriso — e mais uma promessa. Como se sabe, porém, quando alguém chega a esse ponto, não faz apenas mais uma promessa, faz qualquer promessa.

Quando uma potencial eleitora se queixou — “Veja isto, tenho de pagar 52,50€ aos bombeiros de cada vez que tenho de levar a minha mãezinha ao hospital. É um absurdo, sêutor. Têm de construir elevadores. Não há res-do-chão para tantos velhos!” — Pizarro foi mais rápido na resposta do que Usain Bolt nos 100 metros: “Olhe, não ponho fora de hipótese a construção de um elevador panorâmico. Prometo que vou estudar o assunto.” Dias antes, quando foi confrontado com uma situação semelhante, Rui Moreira preferiu a realidade à fantasia: “Oh minha querida, não há espaço para construir elevadores. Assim, em vez de ter um quarto tinha um elevador dentro de casa”.

Além das promessas de ficção científica, Manuel Pizarro também cedeu ao delírio político. Depois de receber o repetido apoio de Azeredo Lopes (algo que não se deseja ao pior inimigo), o candidato do PS acelerou sem travões. Primeiro, preveniu qualquer pergunta sobre Tancos: “Não vou comentar o trabalho de Azeredo Lopes enquanto ministro da Defesa”. Depois, indiferente à óbvia contradição, comentou na mesma o “trabalho” dele: “É um grande ministro da Defesa”. Não haja dúvida: um candidato em campanha sofre muito.

A frase perfeita

“Que PSD é este que perdeu o sentido de Estado?” (António Costa)

Em Loures, primeiro António Costa atacou o PSD. Depois, bombardeou o PSD. E, a seguir, estraçalhou o PSD. É normal: estamos em campanha eleitoral e, se o PS quer ganhar mais câmaras, tem mesmo que dirigir todo o seu arsenal retórico contra os adversários que pretende derrotar.

Sobra apenas uma dúvida suficientemente inquietante para nos deixar acordados à noite: em Loures, o PS quer derrotar o PSD? Tendo em conta que a presidência da câmara é do PCP e que os social-democratas aparecem, na última sondagem, num inescapável terceiro lugar, porque é que António Costa gasta os seus recursos políticos com eles? Precisamente porque a alternativa seria atacar quem está no poder, ou seja, atacar o PCP, ou seja, atacar um dos sustentáculos da “geringonça”, ou seja, atacar o partido que dá oxigénio ao primeiro-ministro. E isso, Deus nos livre, António Costa não fará nunca, jamais, em tempo algum.