Propriedade do inventor James Dyson e mais conhecida pelos seus aspiradores e secadores de mãos e de cabelo, a britânica Dyson prepara-se para entrar num sector totalmente novo. Segundo anunciou o próprio bilionário inglês, num e-mail enviado aos seus funcionários, a empresa está a desenvolver um automóvel eléctrico a baterias, cujo lançamento no mercado deverá acontecer, à partida, já em 2020.

A agência noticiosa Bloomberg avança que tudo terá começado na década de 90 do século passado, ou seja, há quase 30 anos, quando Dyson decidiu tentar criar um “filtro ciclónico”, que pudesse ser aplicado no sistema de escape dos veículos, com o objectivo de reter os fumos dos diesel. Invenção que a indústria automóvel da altura terá, no entanto e ainda segundo o inventor, recusado, levando James Dyson a avançar, ele próprio, com a ideia – já não de um simples filtro, mas de todo um automóvel, embora movido a electricidade.

Não somos alguém que, simplesmente, chegou tarde à corrida dos carros eléctricos”, comenta o empresário. “É uma ambição minha [construir um automóvel eléctrico], desde que fui rejeitado em 1998 pela indústria automóvel. A qual continuou a fazer motores poluentes a gasóleo, com o beneplácito dos respectivos governos.”

O fracasso Sakti3

Já em 2015 surgiram as primeiras indicações de que a empresa de aspiradores não tinha, afinal, perdido o interesse na indústria automóvel. Com a Dyson a avançar para a compra, por 90 milhões de dólares (pouco mais de 76 milhões de euros, à cotação de hoje), da Sakti3, uma startup norte-americana focada no desenvolvimento de baterias sólidas.

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Na altura, a empresa chegou, segundo a Bloomberg, a anunciar ser capaz de produzir baterias com o dobro da capacidade de armazenagem das soluções em iões de lítio, e por apenas um terço do preço destas. Algo que, no entanto, acabou por não acontecer, devido a disputas de patentes, que levaram inclusivamente a Dyson a abandonar a ideia de licenciar algumas das evoluções conseguidas por esta empresa.

Investimento garantido de 2,2 milhões de euros

No entanto, o desaire não fez com que James Dyson baixasse os braços. O empresário manteve, até hoje, duas outras equipas a trabalhar no desenvolvimento da sua nova tecnologia de baterias, que serão do tipo sólido e não com electrólito líquido, ao mesmo tempo que procurava reforçar-se com alguns elementos oriundos da indústria automóvel. Como foi, aliás, o caso da contratação do antigo director de Comunicações da Tesla, Ricardo Reyes, além de alguns especialistas em desenvolvimento de produto e em cadeias de fornecedores, que o empresário foi buscar à Aston Martin.

Já em Março deste ano, o britânico anunciou a intenção de construir novas instalações para pesquisa e desenvolvimento, numa antiga base da Força Aérea britânica, perto da sede da sua empresa, em Malmesbury, Inglaterra. Local onde passará a estar o epicentro do desenvolvimento do seu futuro carro eléctrico, cuja chegada ao mercado deverá ter lugar em 2020.

A equipa [responsável pelo desenvolvimento do futuro carro eléctrico] já é composta por mais de 400 pessoas, mas nós continuamos a contratar de forma agressiva. Da minha parte, estou comprometido em investir cerca de 2,2 mil milhões de euros neste desafio”, anunciou, no e-mail enviado aos empregados, o bilionário. Assumindo que “a Dyson começou a trabalhar num veículo eléctrico a baterias, que deverá ser lançado no mercado em 2020”.

Eléctrico, mas não barato

Ainda segundo James Dyson, o seu futuro carro eléctrico será “radicalmente diferente” dos desenhados até aqui pelos fabricantes automóveis, Tesla incluída, com o britânico a acrescentar que “não será um desportivo, mas também não será um automóvel muito barato”.

Embora para já sem qualquer estudo de design ou chassi, Dyson reconhece que a companhia ainda tem de decidir onde irá fabricar o veículo. Descartando, por enquanto, a possibilidade de vir a construí-lo com o apoio dos grandes fabricantes automóveis.

“Vamos fazê-lo onde for melhor”, antecipa o britânico. Ora, como a Dyson produz em Singapura, na Malásia e nas Filipinas, o mais natural é que as instalações para o fabrico de baterias e carros provavelmente venham a localizar-se na Ásia. Tanto mais que é o próprio James Dyson a chamar a atenção para o facto de o Extremo Oriente se posicionar como o maior mercado para os novos automóveis elétricos.

O empresário assume também, desde já, o desejo de que o veículo a apresentar em 2020 seja apenas o primeiro de uma gama de propostas eléctricas. Contribuindo mesmo para que, dentro de alguns anos, esta seja a principal fonte de receita da companhia.

Só em 2016, a Dyson teve uma receita acima dos 2,8 mil milhões de euros. E a fortuna pessoal do seu fundador está estimada em qualquer coisa como 5,7 mil milhões de euros. Ou seja, mais do dobro do que aquilo que a Tesla investiu um pesquisa e desenvolvimento, nos últimos cinco anos (2,13 mil milhões de euros, dados da Bloomberg).