A frase feita

“Esta entrevista é melhor fazer ao Manuel Pizarro. Está concluída.” (António Costa)

António Costa irritou-se e interrompeu uma entrevista a meio porque o jornalista lhe fez perguntas sobre o Porto? Porque lhe perguntou com quem é que Pizarro governaria caso ganhasse sem maioria absoluta? Porque lhe perguntou se a aliança na cidade seria com Moreira, com o PSD ou com os dois elementos restantes da “geringonça”?

Claro que não. António Costa irritou-se e interrompeu uma entrevista a meio porque tinha acabado de ser apanhado por manifestantes com vários jornalistas a assistir. A melhor decisão que Costa tomou nestas autárquicas foi fazer a campanha como primeiro-ministro, porque isso dá-lhe votos — mas não podia esperar que isso acontecesse inteiramente à borla.

A frase desfeita

“O único apelo que fizemos ao Governo foi para se manter imparcial” (Jerónimo de Sousa)

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Segundo o “Grande Dicionário Jerónimo de Sousa da Língua Portuguesa”, a palavra “imparcial” define-se da seguinte maneira:
“Im-par-ci-al
Adjectivo de dois géneros.
1. O PS não pode usar em campanha nenhuma medida popular tomada pelo Governo;
2. O PCP pode usar em campanha todas as medidas populares tomadas pelo Governo;
3. Longa vida ao PCP!”

Foi mais ou menos isto que Jerónimo de Sousa disse: a imparcialidade do Governo só existe se o PS não aproveitar os “avanços de reposição de rendimentos e direitos e todas aquelas promessas [de obras públicas] que os governos costumam fazer em vésperas de eleições”.

Não há maior fragilidade do que esta: o PCP convenceu-se de que só consegue ganhar eleições se o PS se fizer de morto.

A frase perfeita

“Para gente que não é de esquerda, e porventura gente de esquerda desiludida, Assunção Cristas é a melhor opção.” (Paulo Portas)

Aqui está a definição perfeita da campanha do CDS em Lisboa. O primeiro movimento foi feito por acção: pela pura força da sua candidata e pela manifesta fraqueza da candidata social-democrata, criar um movimento que juntasse o eleitorado de direita que nunca aceitou António Costa e se quer livrar de Fernando Medina, reduzindo o PSD à sua mais ínfima fração (um velho sonho dos centristas).

O segundo movimento foi feito por omissão: ao esquecer os temas duros que caracterizaram a antiga campanha de Paulo Portas (como a segurança), e ao concentrar-se na “política positiva” e na promessa de dar dinheiro às pessoas (contra a caça-multas EMEL, por exemplo), deixar aberto o espaço para que alguma esquerda se possa sentir à-vontade para votar em Cristas sem sentir que está a votar no CDS.

Se fossem eleições legislativas, isto não chegava e, acima de tudo, não resultava; mas, numas autárquicas em Lisboa, é mais do que suficiente.