A época mais crítica em incêndios florestais termina no sábado com mais de 230 mil hectares de área ardida, a maior da última década e a terceira desde que há registos, e a morte de 64 pessoas em Pedrógão Grande.

A fase ‘Charlie’, em que o dispositivo está na sua máxima força, começou a 1 de julho, mas os meios de combate tiveram que ser reforçados devido ao incêndio de Pedrógão Grande, que a 17 de junho provocou a morte de 64 pessoas e ferimentos em 200, além de ter afetado cerca de 500 habitações.

Este incêndio durou uma semana e alastrou aos concelhos vizinhos de Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Góis, tendo consumido mais de 27 mil hectares de floresta. Dos 64 mortos, 33 morreram a fugir do incêndio na Estrada Nacional 236-1, via que não foi cortada pela GNR.

Na justiça decorre um processo criminal e ainda não estão concluídos os vários estudos, pareceres e inquéritos, nomeadamente o relatório da comissão técnica independente, criada pelo parlamento e composta por 12 especialistas. No incêndio de Pedrógão Grande registaram-se falhas no funcionamento do SIRESP, interrupções que voltaram a acontecer este verão nos fogos de Alijó, Abrantes, Mealhada, Cantanhede e no distrito de Castelo Branco.

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A Autoridade Nacional de Proteção Civil falou sempre em “falhas pontuais”, mas a ministra da Administração Interna já anunciou que vai penalizar o consórcio SIRESP por “falhas de disponibilidade e de desempenho” durante o incêndio de Pedrógão Grande.

O fogo que provocou maior área ardida este ano registou-se no distrito de Castelo Branco, teve origem no concelho da Sertã e consumiu 29.758 hectares de espaços florestais.

Num ano em que a severidade meteorológica registou o segundo valor mais elevado desde 2003, os incêndios florestais consumiram 239 mil hectares, segundo o Sistema Europeu de Informação sobre Fogos Florestais, que indica também que Portugal é o país europeu com mais área ardida na última década.

As últimas estatísticas do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas dão conta de que as chamas queimaram quase 210 mil hectares, o valor mais elevado dos últimos dez anos e o terceiro desde que há registo, sendo apenas ultrapassado por 2003 (425.839 hectares) e 2005 (339.089).

Segundo o ICNF, entre 01 de janeiro e 15 de setembro, registaram-se um total de 13.346 ocorrências (2.827 incêndios florestais e 10.519 fogachos) que resultaram em 209.678 hectares de área florestal ardida.

Durante este verão, a ANPC decretou, até à data, 75 dias de alerta especial de nível amarelo ou superior do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais devido às condições meteorológicas adversas, além de o Governo ter declarado o estado de calamidade pública entre os dias 19 e 20 de agosto. Portugal recebeu também ajuda internacional durante este período, nomeadamente bombeiros espanhóis e aviões de Marrocos, Espanha, França e Itália.

Antes de terminar a época crítica em incêndios, o comandante operacional nacional da ANPC, Rui Esteves, pediu a demissão a 14 de setembro na sequência de denúncias sobre a obtenção da sua licenciatura e da acumulação de funções públicas.

Durante os incêndios foram várias as críticas a Rui Esteves quanto à forma como a ANPC coordenou os incêndios, como foi o caso da Câmara de Mação que avançou com uma participação à Inspeção Geral de Administração Interna para apuramento de responsabilidades no fogo de julho. Durante a fase ‘Charlie’ estiveram envolvidos 9.740 operacionais e 2.065 viaturas, apoiadas por 48 meios aéreos e 236 postos de vigia da responsabilidade da GNR.

Os meios de combate vão ser reduzidos a partir de domingo com a entrada da fase ‘Delta’, que termina a 31 de outubro, mobilizando 5.518 elementos e até 1.307 veículos. Nesta fase os meios aéreos são 22 até 05 de outubro, 18 até 15 de outubro, e dois até 31 de outubro, podendo ser reforçado até um máximo de oito, sendo seis da frota do Estado.