Decorre este sábado, no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, o 7º encontro anual da Fundação Francisco Manuel dos Santos, dedicado à discussão da Igualdade. O jornalista José Alberto de Carvalho, apresentador do evento, introduziu a temática com referências ao “espaço elitista” que sempre foi a ópera e o Teatro Nacional, sendo este, portanto, o cenário “perfeito” para falar de Igualdade.

Depois da mensagem de boas-vindas do presidente da Fundação, Jaime Gama, a conferência seguiu com a primeira preleção (em francês), honra atribuída a Pierre Rasanvallon, o historiador e pensador francês que criou em 2002 a “República das Ideias”.

Foi uma reflexão histórica sobre o conceito, fazendo a ponte para as diferentes formas de desigualdade que atualmente identifica na política e na sociedade, uma relação que, defende, não pode ser vista em separado. “A questão das desigualdades é uma questão relacionada com a qualidade da democracia”, uma palavra constante numa reflexão exigente, onde defendeu também o desenvolvimento de políticas que corrijam as desigualdades. O pensador francês identificou perigos e sugeriu soluções, nomeadamente a necessidade de “desenvolver uma ideia democrática de igualdade” para evitar o nacional-populismo.

Pierre Rasanvallon demonstrou ainda uma certa indignação pela forma como a sociedade aceita certas formas de desigualdade, tais como os “prémios e ordenados de desportistas de topo ou vencedores de lotaria”. Caminhar para a igualdade é um trabalho em curso, requer uma reflexão e discussão alargadas, porque está nas pequenas e nas grandes coisas, na igualdade social nas oportunidades, mas também nas igualdades de género.

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Os trabalhos da manhã seguiram com o painel “Globalização e Tecnologia”, moderado pela investigadora Ana Rute Cardoso. Nele participaram Branko Milanovic, economista e professor, e Richard Baldwin, professor no Graduate Institute de Genebra, presidente do CEPR e o fundador do portal VoxEU.org

Richard Baldwin destacou os efeitos da tecnologia na sociedade e os desafios da globalização. Entende que muitas pessoas continuam a tentar pensar a globalização com o mindset ultrapassado: “A globalização mudou no século XXI, mas os políticos e a sociedade ainda pensam nela com lentes do séc XXI.”

A globalização continua a ser vista como um meio evoluído de transação de bens, impulsionada pela industrialização, mas isso já não faz sentido. A evolução é rápida, por isso Richard Baldwin prevê que “em cinco ou dez anos a globalização vai ser uma coisa diferente” e não necessariamente negativa. O professor de economia não tem dúvidas que “a globalização é uma oportunidade”.

A evolução tecnológica da comunicação veio mudar tudo, o conhecimento dispersou-se e desequilibrou a concentração de conhecimento e meios, deslocalizando tarefas organizativas e produtivas. A “nova globalização” é mais repentina, pessoal, imprevisível e incontrolável e as certezas sobre o futuro são cada vez menos, importando cada vez menos o trabalho ou qualificações que cada um tem. As incertezas são muitas e assustadoras para alguns, mas Richard Baldwin é um otimista. Confia que o mundo se vai ajustar a esta nova realidade graças, precisamente, à tecnologia.

Branko Milanovic, numa apresentação mais técnica e focada nos grandes números, sublinhou a deslocalização de serviços e competências e na migração como uma expressão fundamental da globalização. A derradeira expressão do fenómeno está na redução da classe média no mundo Ocidental, contrabalançado com o aumento noutros países, como por exemplo a China.

O professor entende que, em termos globais, atravessamos uma época de redistribuição, o que é uma forma de fazer caminho para a igualdade, economicamente falando. A educação, garante, é a peça chave para evitar os desequilíbrios.

Este ano, o encontro da FFMS abriu mais espaço para a discussão. Na sessão de perguntas e respostas, Richard Baldwin teve oportunidade de reforçar que o impacto da tecnologia no mercado de trabalho está a entrar pela área dos serviços, já não são apenas as grandes máquinas industriais a retirar empregos. Esta nuance exige uma reação: “Devemos proteger as pessoas, não os empregos”.

Os trabalhos da conferência “Em que pé está a igualdade?” Prosseguem esta tarde, com o ponto alto reservado para o fecho. A ativista norte-americana Ruby Bridges, que ficou conhecida por ser a primeira criança afro-americana a frequentar uma escola de brancos no Sul dos Estados Unidos, contará a sua história no encerramento do encontro. Pode seguir o Encontro na página oficial da Fundação.