O espaço que se segue é da inteira e exclusiva responsabilidade dos intervenientes. Ou seja, a vitória ou a derrota é culpa dos candidatos. Mas é também culpa da arte de campanha, da propaganda que estes vencedores ou perdedores conseguiram levar para as ruas. Os cartazes recordados neste artigo estiveram entre os mais populares na corrida para estas autárquicas, fizeram fãs nas redes sociais e deixaram dúvidas: poderiam levar os protagonistas ao tão desejado lugar de presidente (de freguesia ou câmara)? A análise aqui publicada esclarece essa dúvida e explica o porquê dos resultados conseguidos (mais ou menos):

Águeda e Borralha

A candidata do CDS a esta freguesia de Águeda era Salomé Castanheira (perdeu com 4,4% dos votos). Mas ela disse que se chamava Cris. Eu quando era miúdo não gostava do meu primeiro nome e dizia a toda a gente que me chamava João, que é o meu segundo nome. Esta confusão terá sido a grande responsável pela minha miserável vida social durante toda a escola primária. Se eu conhecesse a Cris tinha-lhe deixado este aviso. Mas pensado bem, ela chama-se Salomé, por isso provavelmente nunca teria conseguido falar com ela.

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Agrobom, Saldanha e Valpereiro

Ganhou o PS (64,2%). E todos sabemos porquê. Porque somos todos o senhor da direita, livre, leve e solto. E quem não é gostava de ser. E quem diz o contrário é louco. Ou então não sabe o que é bom.

Albergaria-a-Velha

À volta de 2% para a candidatura do Bloco de Esquerda. Não, não teve nada a ver com o cartaz, absolutamente.

Alenquer

Frederico Rogeiro, o tal que perguntava “farto de partidos?” entrou na corrida com apoio a dobrar, do PSD e CDS. Como a pergunta e o perguntador não batiam certo, a resposta à questão foi pelo mesmo caminho (a derrota, com 22,2%). Ainda assim, boas patilhas, Frederico. A culpa da derrota deve ter sido do quadriculado da camisa, meio demodé.

Anadia

Este cartaz não devia estar aqui. Porque este é um cartaz de propaganda à direção do futuro canil de Anadia que será construído em 2018. O candidato é o cachorro da foto, por acaso não tem nome mas deve ser algo como Poochi, Snoopy, Malhado, Rambo ou Toy. Um destes, de certeza. (PSD, 28,6% na Anadia)

Angústias

José Bagaço ganhou na freguesia de Angústias, no Faial (45,3%). Porque o que faz falta é coerência e numa terra em que as dores de alma começam no nome, quem tem um copo no apelido é rei.

Castanheira de Pêra

Ágata era a candidata da coligação CDS/MPT. Conseguiu 90 votos (4,6%). Há uma série de canções da artista que encaixam neste resultado. Há aquela do “Sozinha” e a outra do “Tá Bonito”. Há “Maldito Amor” e “Livro de Reclamações”. Raios, pensemos bem nisto: Ágata tem uma canção chamada “Abandonada”. Como é que ninguém pensou nisto antes.

Branca

Custódio Aníbal concorreu pelo PSD à freguesia da Branca, em Coruche, e não ganhou (18%). As Pega Monstro têm aquela canção de título “Branca” que pode agora ser o hino oficial da derrota do senhor Aníbal. Começa assim:

“Vou pra casa
tens só dó de mim
chego à casa
já fiz o xixi
eu já chorei, já chorei já chorei por nada”

Chamusca

Paulo Queimado foi eleito presidente da câmara da Chamusca pelo PS (54,1%). Isso. Queimado na Chamusca. Podia ser um trocadilho fácil e manhoso mas não é. E o que interessa agora é tentar adivinhar se a primeira medida a tomar envolve fogo. Se Paulo vai manter a “chama acesa”. Se o espírito da terra vai ter “corações ardentes”. Caramba, tiremos a limpo se é na Chamusca que o amor é um fogo que arde sem se ver, vamos lá. Cha-mus-ca, Cha-mus-ca.

Espinho

O movimento Pela Minha Gente, de Espinho, não ganhou (9,4%). Até perdeu bastante bem, com apenas 9,4% dos votos. Uma rápida análise: diz a Wikipedia que “Carapau é a designação vulgar de várias espécies de peixes de pequeno tamanho da família Carangidae, caracterizados por um corpo fusiforme, uma linha lateral terminada por escamas em forma de escudo, e uma camada de músculo vermelho na parte lateral do corpo”. Cadê esse corpo fusiforme, Leonor Fonseca?

Fajã Grande

O PS ganhou mais (57,6%). E agora a Fajã Grande é mais grande. Se daqui a mais quatro anos este resultado se repetir, a Fajã será mais maior grande. Mais oito anos e a Fajã promete ser mais maior ultra grande. Oito mais quatro dá 12, e em linguagem de Fajã é coisa para ser traduzida em mais maior ultra #quemtedera grande. A minha filha diz que “mais grande” sou eu. E o mundo é mais das crianças, porque é mais delas o reino dos céus. E a Maria Lídia sabe mais bem disto.

Faro

A campanha do amor teve 490 votos e ficou em último lugar (1,8%). Mas que ninguém faça pouco de Humberto Correia. O candidato independente conseguiu que 489 pessoas se apaixonassem por ele (partindo do princípio que Humberto votou na próprio candidatura). Quantos de nós já conseguiram deixar 489 enamorados em cima deste planeta? Sejamos realistas: quantos de nós colecionam, vá, mais de meia dúzia de paixões assim daquelas que, sim senhor. Alguém que está a ler estes textos sabe o que é o amor? Alguém sabe o que é dar e receber amor? Humberto Correia, o Zézé Camarinha da política autárquica.

Vila Nova de Gaia

Marisa Ribeiro ficou em último lugar (0,3%) e não merecia porque teve o melhor colar da campanha. Mas a minha camarada de profissão, aqui na secretária ao lado, diz-me que isto é uma gargantilha. Se isto é verdade, então Marisa Ribeiro fez o que Carlos Tê mandou já há muitos anos: “Vê se pões a gargantilha porque amanhã é domingo”. Foi domingo, aposto que Marisa pôs a gargantilha e mesmo assim não ganhou. Sempre achei que as canções explicavam tudo sobre o mundo, afinal não é bem assim. Ou então, como também escreveu Carlos Tê, “não se ama alguém que não ouve a mesma canção”.

Leiria

Fernando Costa deu tudo pelo fim de semana. Ora, o fim de semana são só dois dias. E Fernando perdeu ao segundo (27%). Se for fã de Morrissey, todos os dias serão domingo para o candidato. E todos os dias serão silenciosos e cinzentos. E podia continuar aqui a traçar paralelismos entre Fernando Costa e Morrissey, mas prefiro pôr a tocar as canções do deus de Manchester e parar de analisar este resultado porque, agora a sério, não há muito mais para analisar. Já agora: Morrissey tem disco novo em breve e essa sim, pode ser uma candidatura ganhadora.

Mesão Frio

Eduardo Miranda convidou os cidadãos de Mesão Frio para um casamento entre o candidato e a autarquia. Perdeu (20,4%), fugiu-lhe a noiva e os convidados crasharam outra farra. A razão está no próprio convite, que já explicava tudo: “O banquete decorrerá na casa de cada um quando entenderem por convidar os noivos”. Vamos lá a ver. O português não ajuda — “quando entenderem por”, lê-se — mas o pior é que ninguém vai a um casamento para fazer um almoço partilhado. Ou, noutra linguagem, beijinhos dou na minha mãe.

Moita

Vejamos… como analisar politicamente a derrota do MRPP (3,2%)… talvez nada disto faça sentido, parece ser essa a razão. Ou então a culpa é da camisola do candidato Leonel Coelho. Parece ser de malha. A malha diretamente na pele é coisa que incomoda e ninguém quer um presidente da câmara incomodado assim que sai de casa. Eu pelo menos nunca gostei de vestir este tipo de coisas com tamanho à vontade, mas eu tenho psoríase.

Montemor-o-Novo

Chiça, porra, Olímpio. O slogan do PS dizia “40 anos do mesmo” e agora é juntar mais quatro. Ganhou mais uma vez a CDU, mas o PS conseguiu mais votos face a 2013 (37,8%). E então? Aplicando as regras da matemática dá nisto: se nesta campanha havia duas palavras feias, da próxima vez tudo promete ser mais interessante e mal educado. E a bem da internet e da galhofa, o que interessa é manter o PS fora da liderança desta autarquia durante o maior número de anos possível. Só para perceber até onde a má língua pode chegar.

Oeiras

Sónia Amado Gonçalves não ganhou (1,1%) porque não fez o que Isaltino defendeu em todos os momentos: como sempre, como dantes. E esta frase não tem nada a ver com o verso cantado por Camané. É que Sónia mudou de penteado demasiadas vezes. Isaltino nunca mudou nada.

Oleiros

Carla Leitão mudou do PS para o PSD. Mudou e ganhou (50,2%). Mas não mudou de forma convicta, porque a fotografia é a mesma. E uma fotografia vale mais que mil palavras. E palavras leva-as o vento. E o vento nada me diz. E talvez diga pouco a Carla. Mas Carla ganhou. E esta, vento?

Orca

São Saraiva ganhou na freguesia da Orca (60,4%) porque de certeza que estudou Biologia. Já falámos aqui da Wikipedia mas nunca é de mais. Diz esta fonte que as orcas, também conhecidas como baleias assassinas, “têm uma vida social complexa, baseada na formação e manutenção de grupos familiares extensos. Comunicam através de sons e costumam viajar em formações que assomam ocasionalmente à superfície”. A Orca precisa de todos, nem mais.

Paredes

A Professora Raquel não estudou bem a lição (já era tarde quando chegamos a este comentário, pedimos desculpa incómodo causado). (2,9%)

Peso da Régua

Agostinho Santa, dos PS, tentou fazer uso de um argumento sacana: o tamanho. Porque dizia que a dele era maior que a dos outros. Perdeu (38,9%). Mas isso quer dizer que todos os que sempre defenderam que o tamanho não importa saíram vencedores. E o que interessa é que no meio da derrota alguém ganhe. Ainda assim, a verdadeira vitória é a de Paulo Costa, que integrava esta lista. Atentem no sorriso do homem (é o da direita), seguro de si e com a melhor dentição destas autárquicas. Paulo nunca sairia derrotado, é fácil de ver que este Costa é uma máquina de fiesta. Sube-lo!

Portalegre

O problema de Armando Varela foram as reticências (13,2%). Passo a explicar: em tempos tentei conquistar o coração de uma colega de carteira, devia andar no 10.º ano, mais coisa menos coisa. A minha técnica principal foi a escrita de cartas onde entornava as minhas emoções. Ela nunca me respondeu por escrito e o único comentário que fez foi “usas demasiadas vezes as reticências”. Ela depois mudou de escola e nunca mais a vi. Não sei se vamos voltar a ver o Armando.

Ratoeira

Aqui não há muito a dizer. O PS perdeu na Ratoeira (28,8%) e este cartaz está aqui porque é impecável, é só isso.

Roliça

Nelson Arraiolos não ganhou (1,5%) porque ele e Luis Montez, o candidato à câmara do Bombarral, são uma e a mesma pessoa. Atentem neste cartaz. É uma montagem extraordinária de duas fotos do mesmo homem, com leves mudanças na expressão facial, no vestuário e na careca, mais rapada numa das fotos quando comparada com a outra. O problema está nos óculos, o verdadeiro calcanhar de Aquiles deste candidato que decidiu #dartudo em nome da terra.

Redondo

Este cartaz de António Recto não tinha uma frase, um slogan, nada. Tinha um homem cuja expressão diz tudo. Mas diz mesmo tudo. Aqueles dentes cerrados dizem coisas como “se te apanho e descubro que não votaste em mim desfaço-te”; “espero estar bem nesta foto, vesti a minha melhor camisa, que até tem um ‘M’ de de MICRE”; “não sei se o homem do porco no espeto já chegou, se estiver atrasado isto vai dar merda”. E um homem assim merece tudo, inclusivamente ganhar com 36% dos votos.

Santa Maria, Salvador e Santiago & Sarilhos Grandes

Pedro Morte ganhou com este cartaz:

E Fernando Machado com este:

Ambos ganharam com mais de 40% dos votos. O que há em comum entre ambos? A palavras “somos”, óculos fora de moda e Benjamin Button.

Telhado

Enorme vitória (72,4%). Enorme:

Tropeço

Palavra chave da candidatura de Miguel Sousa nas eleições de há quatro anos, na freguesia de Arouca: “Destino”.

Primeira estrofe da canção “Ai Destino”, de Tony Carreira (enfim, podíamos agora discutir este tema de forma prolongada mas não temos tempo):

“O amor bateu à porta, e eu deixei-o entrar
Parecia tão diferente
Confiei e fui em frente
E com ela quis casar
Infortúnio do destino
Esse meu passo infeliz
Fui amante atraiçoado
Fui marido mal-amado,
Sem saber que mal eu fiz”

Miguel mudou e trouxe novidades este ano:

Mas ainda assim perdeu, foi derrotado em Tropeço (26,1%). Ai destino, ai Miguel…

Tramagal

Hélder Lopes, do CDS-PP, usou um penso rápido e três pontos de exclamação para dizer que ninguém o iria calar. Mas aparece com a boca tapada, que é mais ou menos o que acontece às pessoas que de facto não estão a falar. E na verdade quando falamos não usamos pontos de exclamação, ou pelo menos ninguém os vê — tendo isto como certo pode ser complicado usar três de uma vez. E no mesmo cartaz havia ainda a pergunta: “Querem-nos calar?”. Mas querem quem? Os eleitores? Os inimigos? Os bichos? Os coisinhos? Interpretar tudo isto é demasiado complexo, só não foi para as 42 pessoas que votaram em Hélder Lopes. Mas 42 é igual a zero mandatos e ao último lugar nas eleições. Hélder, senhor de uma semiótica complexa, dono de uma matemática simples. Tal e qual o resultado final: 2,4%.

Vila Franca de Xira

Consegue todos os dias e ganhou (39,1%). É este o comentário a fazer: