Um atirador fez 58 mortos e mais de 500 feridos durante um concerto de música country, ao ar livre, nas proximidades de um dos casinos de Las Vegas, o Mandalay Bay, nos EUA. Entre os mortos estão agentes da polícia, que estavam no concerto como civis. Outros dois polícias ficaram feridos, mas estão estáveis. O auto-proclamado Estado Islâmico já veio reivindicar a responsabilidade pelo atentado, alegando que Paddock se converteu ao islamismo há alguns meses. Entretanto, o FBI negou qualquer relação do atirador com grupos terroristas.

A polícia de Las Vegas já confirmou que um suspeito está morto e identificou-o como sendo Stephen Paddock, de 64 anos, e residente em Mesquite, uma terra perto de Vegas (Nevada). Houve notícias de que haveria mais do que um atirador — mas essa não é, contudo, a informação avançada pela polícia, que está convencida de que seria apenas um.

Quem era Stephen Paddock, o atirador de Las Vegas que tinha 64 anos?

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Segundo a polícia de Mesquite, citada pelo jornal inglês The Guardian, Paddock não tinha antecedentes criminais — mas era conhecido da polícia local — e a sua casa já foi revistada pela polícia. Segundo as autoridades de Las Vegas, o homem estava morto quando entraram no quarto de hotel de onde foram feitos os disparos, o que indica que este se terá suicidado.

A polícia conseguiu entrar em contacto com a companheira do suspeito, Marilou Danley. Inicialmente pensaram que Danley pudesse estar envolvida no incidente, mas essa hipótese foi entretanto afastada pelas autoridades, refere a CNN.

O Presidente dos Estados Unidos já reagiu ao ataque, enviando “condolências” às vítimas e às suas famílias. Donald Trump irá fazer novas declarações ainda hoje.

O vice-presidente Mike Pence descreveu o incidente como “uma violência sem sentido em Las Vegas”, acrescentando que “os corações e as orações” dos americanos estão com as vítimas e respetivos familiares.

O governador do Nevada também caracterizou o incidente como “um ataque cobarde, chocante e de uma violência sem sentido”. Num comunicado, citado pela CNN, Brian Sandoval referiu que passará a manhã de segunda-feira em Las Vegas para se encontrar com as autoridades e para consolar as vítimas e as suas famílias e amigos.

O atirador estava num quarto de hotel e terá disparado a partir da janela, para cima da multidão. Foram disparadas várias vagas de disparos, com dezenas de tiros disparados de cada vez, ao longo de mais de cinco minutos. A arma estaria fixa junto à janela.

Veja aqui o vídeo que mostra as imagens dos primeiro segundos do ataque.

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A polícia foi chamada a intervir e dirigiu-se a um quarto no 32º andar, onde o suspeito se encontrava morto. “O local está estático, o principal agressor está morto”, informou o responsável da polícia, indicando que poderá ter havido um suicídio. Ao contrário do que chegou a ser noticiado, não há evidências de que tenham sido usado explosivos neste incidente, mas a polícia encontrou dez armas no quarto de hotel.

Em filmagens captadas por cerca de 22 mil pessoas que estavam no concerto, ouvem-se dezenas de disparos do que parece ser uma arma automática de grande porte. Testemunhas dizem que o atirador descarregou dezenas de balas sobre a multidão. Corinne Lomas e Taylor Benge estavam perto do palco quando o tiroteio começou. “Eu conseguia ver um homem com um ferimento de bala no pescoço… As pessoas começaram a cair como moscas“, afirmou Lomas, citada pelo jornal inglês The Guardian. Disse ainda que viu várias pessoas a atirarem-se para o chão para se protegerem. “As pessoas tinham de cair umas em cima das outras, quer estivessem vivas ou não”.

Corinne Lomas até ficou com manchas de sangue nas pernas de pessoas feridas, tal como Desiree Price, que ficou com sangue na camisola e nas calças. “Os tiros pareciam fogo de artifício. Eu ajudei uma pessoa que estava a sangrar. Duas raparigas esconderam-se connosco atrás de um carro fora do concerto. Uma levou um tiro na perna, outra no ombro. Aquilo não parava então continuámos a correr“.

Tiroteios mais mortíferos dos EUA

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  1. 50 mortosLas Vegas (02.10.2017): é o tiroteio com mais mortos nos EUA. O autor já foi identificado como Stephen Paddock, mas ainda estão por apurar as causas do ataque.
  2. 49 mortosFlorida (12.06.2016): Omar Mateen matou 49 pessoas e feriu mais de 50, numa discoteca gay em Orlando, no estado da Florida. O atirador, de 29 anos, acabou por ser morto pela polícia.
  3. 32 mortosVirginia (16.04.2007): o estudante sul coreano Seung-Hui Cho, de 23 anos, matou 32 pessoas na Virginia Tech, em Blacksburg, no estado da Virginia. O incidente ficou conhecido como o Massacre de Virginia Tech e o autor do ataque suicidou-se.
  4. 27 mortosConnecticut (14.12.2012): 20 crianças e seis funcionários da escola Sandy Hook foram mortos a tiro por Adam Lanza, de 20 anos. O jovem, que se suicidou, matou ainda a sua mãe, Nancy Lanza.
  5. 23 mortosTexas (16.10.1991): George Hennard, de 35 anos, matou 23 pessoas depois de embater o seu carro contra a parede do restaurante Luby’s Cafeteria. Depois de disparar sobre as pessoas, suicidou-se.

Kevin Kropf disse que ficou na zona do concerto tempo suficiente para não estar mais ninguém por perto. “Eu vi uma equipa de SWATS entrar e uma equipa de SWATS sair. Não me queria levantar porque não queria que achassem que tinha sido eu e me dessem um tiro. Por isso, estava escondido atrás de uma mesa.”.

Outra testemunha disse que viu “ambulâncias atrás de ambulâncias atrás de ambulâncias” chegar ao sítio do tiroteio. O homem, que disse chamar-se Todd, descreveu “pessoas a correr para todos os lados dentro do casino”. “Nós conhecemos uma pessoa na bomba de gasolina, uma enfermeira, que estava no concerto e cuidou de alguém que tinha levado um tiro na cara, outro no peito e outro no fígado”.

Inicialmente o ruído foi confundido com a explosão de objetos pirotécnicos, mas rapidamente a multidão se apercebeu do que estava a acontecer e correu à procura de abrigo. Foi precisamente essa a descrição dada pela tenista Laura Robson, que estava a assistir ao concerto. A britânica recorreu às redes sociais para dizer que estava bem. “Estávamos mesmo ali… parecia fogo de artifício inicialmente e depois toda a gente começou a correr. Medo.”

“Quando [o barulho] não parou percebemos todos o que se estava a passar. Não consigo imaginar o que leva uma pessoa a fazer isto“, afirmou o locutor da rádio SiriusXM, Storme Warren, que estava no palco quando começou o ataque. Quando ouviu as balas a atingirem o palco, escondeu-se debaixo da infraestrutura.

As balas continuavam a saltar no palco por cima de nós. Quando finalmente pararam, tentei ajudar o maior número de pessoas que consegui.” Warren disse que viu muitas pessoas que estavam a tentar ajudar os feridos: “qualquer pessoa que tinha algum tipo de experiência estava a intrometer-se, a tentar ajudar…se há algo de bom a ver nisto é que toda a gente ajudou toda a gente”.

Mas houve quem percebesse logo que se tratavam de tiros. “Era muito óbvio que eram balas de uma arma de fogo a descer em direção à multidão”, disse Jackie Hoffing, citado pelo The Guardian. “Foi a histeria. Havia pessoas espezinhadas. Eu estava com o meu marido e ele ficou comigo. Saltámos muros, trepámos carros, corremos pelas nossas vidas. Nunca corri tanto nem tive tanto medo em toda a minha vida“.

https://twitter.com/LauraLoomer/status/914741860102533120

Michael Phelps, o atleta mais medalhado de sempre em Jogos Olímpicos, e a mulher também estiveram no festival, mas na sexta-feira. Quando acordaram, esta segunda-feira, tinham diversas mensagens de amigos preocupados por causa de uma fotografia do festival publicada no Instagram de Nicole Phelps.

As autoridades pediram às pessoas que não vão para a zona do casino e o aeroporto McCarran International avisou, através do Twitter, que o incidente iria afetar os voos e são previsíveis atrasos. Foram desviados alguns voos que deveriam ter aterrado naquele aeroporto e outros voos, que deveriam sair do McCarran International, não levantaram enquanto decorria a operação policial.

O festival Route 91 Harvest realiza-se ao longo de três dias perto do casino Mandalay Bay, que fica na zona sul de Las Vegas. Trata-se de uma zona em curva, já no final da Strip (a rua de todos os casinos), onde se realizam vários eventos. A forma da rua nesta zona permite quase um ângulo de 180 graus, o que terá potenciado os alvos do atacante.

A zona do casino Mandalay Bay onde ocorreu o tiroteio

No momento em que começaram os disparos, estava a decorrer o concerto do cantor Jason Aldean. O artista escreveu num post no Instagram, descrevendo a noite como “para lá de horrível”: “Ainda não sei o que dizer, mas queria dizer a toda a gente que eu e a minha equipa estamos a salvo. Os meus pensamentos e orações vão para toda a gente envolvida esta noite. Magoa-me que isto aconteça a qualquer pessoa que só quis aproveitar aquilo que deveria ter sido uma noite divertida”.

Jake Owen, que atuou antes de Jason Aldean, disse estar “a rezar por toda a gente aqui em Vegas”. “Testemunhei o evento mais inimaginável esta noite. Nós estamos bem. Outros não estão. Por favor rezem”, lê-se no tweet.

Donald Trump: “Foi um ato de maldade pura”

O presidente dos Estados Unidos reagiu, consternado, ao massacre ocorrido esta segunda-feira em Las Vegas. “Estamos hoje unidos na tristeza, no choque e na raiva. Um homem abriu fogo sobre uma multidão e matou brutalmente mais de cinquenta pessoas, ferindo muitas outras. Foi um ato de maldade pura”, descreveu Donald Trump.

Depois, o agradecimento de Trump às autoridades. “Quero agradecer à polícia de Las Vegas e quero agradecer a quem primeiro acudiu os feridos, ajudando a salvar tantas vidas. A rapidez com que aturaram foi miraculosa a evitou perdas maiores. A rapidez com que a polícia abateu o atirador é algo que agradeceremos sempre. Mostra o profissionalismo desta”, lembrou.

“Centenas de cidadãos norte-americanos estão a chorar a perda de pais, filhos e irmãos. Não podemos sequer imaginar a dor que sentem. Mas rezaremos pelas famílias das vítimas. E esperamos que Deus esteja com elas neste período negro. Ao feridos nos hospitais, rezamos pela sua rápida recuperação.”, disse Donald Trump, concluído: “A nossa bandeira ficará a meia-haste. E visitarei Las Vegas para saber como estão as famílias das vítimas e os feridos. Os Estados Unidos unem-se na dor. A nossa unidade não será quebrada pelo mal. É o nosso amor que nos define e vai sempre definir.”

Irmão do atirador de Las Vegas: “Sinto-me como se ele tivesse matado um dos sobrinhos. Estou estupefacto!”

Eric é irmão de Stephen Paddock, o atirador de Las Vegas. À BBC, visivelmente incomodado e embaraçado, começou por lembrar que Stephen “não tinha qualquer cadastro policial” e que “não era de ter armas em casa nem tinha um passado militar”. E questinou-se, Eric: “Onde raio é que ele arranjou as armas automáticas?! Se tinha problemas de saúde mental? Não, não sabia que ele tinha problemas de todo…”

Na última mensagem que trocaram antes do massacre de Las Vegas, Stephen Paddock perguntou ao irmão como estaria a mãe de ambos. “Próximos? Vivíamos longe um do outro, falávamos um pouco por telefone sobre a minha mãe, mas não éramos próximos. Espero que alguém descubra o que se passou, queremos saber”, afirmou Eric.

O irmão do atirador, quando questionado sobre o que quereria dizer aos familiares das vítimas, atirou apenas: “Não há nada que lhes possa dizer agora. Sim, foi o meu irmão quem fez isto. Mas sinto-me como se ele tivesse disparado sobre nós, a família. Como se ele tivesse matado um dos sobrinhos. Não poderia ficar mais estupefacto do que estou agora. Saber que o meu irmão fez isto… não me ocorre dizer absolutamente nada. Não compreendemos.”

FBI nega relação com terrorismo

A polícia federal norte-americana (FBI) anunciou esta segunda-feira que o autor do tiroteio não tinha qualquer relação com grupos terroristas. O anúncio do responsável do FBI Aaron Rouse surge depois de o grupo extremista Estado Islâmico (EI) ter reivindicado o ataque, sem fornecer qualquer prova da sua alegação.

O grupo radical afirmou que o atirador era “um soldado” que se converteu ao Islão há alguns meses. O EI já fez declarações falsas ou exageradas no passado. As autoridades ainda não identificaram qual foi o motivo do ataque, mas acreditam que o homem agiu sozinho. O homem matou-se depois do tiroteio.

Entretanto, foi localizada a companheira de Stephen Paddock, que era procurada pela polícia.

Entretanto, o The New York Times avança que o atirador tinha 19 espingardas no seu quarto de hotel, dois tripés encostados à janela e centenas de munições.