Durante as três semanas que antecederam as eleições autárquicas, o Observador publicou dez artigos relativos a promessas autárquicas que ficaram por cumprir em dez municípios de norte a sul do país, resultado de centenas de denúncias enviadas pelos leitores. No dia depois do ato eleitoral, fomos ver como ficaram os resultados nesses concelhos, para saber se o autarca em questão foi reeleito (✓) ou perdeu a câmara (✗). Os resultados são reveladores: em nove dos dez municípios, o presidente de câmara foi reeleito com maioria absoluta.

✓ – António Vilela, Vila Verde (PSD)

António Vilela, presidente da câmara de Vila Verde eleito pelo PSD em 2009 e reeleito em 2013, prometia desde o seu primeiro mandato fazer chegar o saneamento básico a 75% das casas do concelho. Adiou a promessa, uma e outra vez, até tornar a prometê-la para o mandato 2017-2021, a que se tornou a candidatar.

À terceira talvez seja de vez. É que António Vilela foi mesmo reeleito — e com maioria absoluta. Com 51,97% dos votos, conseguiu eleger quatro dos sete elementos da câmara de Vila Verde, partindo para o seu terceiro mandato com a mesma promessa que fez em 2009 e em 2013, e que ainda não cumpriu.

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Saneamento em 75% das casas de Vila Verde?

✓ – Fernanda Asseiceira, Alcanena (PS)

O edifício do futuro museu do Curtume está pronto desde 2008 e a promessa autárquica de o inaugurar, em cima da mesa desde duas semanas antes das eleições de 2013. A prometida abertura foi inaugurada uma série de vezes por falta de financiamento e a câmara já nem se compromete com prazos.

O projeto está “a ser avaliado no que diz respeito à sua implementação” e deverá avançar no próximo mandato, em que Fernanda Asseiceira (PS) vai continuar à frente da autarquia. Com 55,36% dos votos, a autarca conquistou cinco dos sete mandatos do executivo camarário de Alcanena e parte para os próximos quatro anos com maioria absoluta e um museu por abrir.

Museu do Curtume em Alcanena?

✓ – Álvaro Amaro, Guarda (PSD)

Álvaro Amaro (PSD) conseguiu, em 2013, conquistar a câmara da Guarda ao PS pela primeira vez. Uma das principais bandeiras da sua campanha, há quatro anos, tinha sido a reabertura do Hotel de Turismo da Guarda, um dos mais icónicos edifícios do centro da cidade. “Eu fiz tudo o que era possível”, disse ao Observador. Mas o hotel continua encerrado e a degradar-se no centro histórico da Guarda.

Os eleitores do concelho decidiram dar uma segunda oportunidade a Álvaro Amaro e o atual presidente da câmara foi reeleito com 61,20% dos votos, conquistando cinco dos sete mandatos do executivo e assegurando a maioria absoluta.

Reabrir o Hotel de Turismo da Guarda?

✓ – Paulo Cafôfo, Funchal (PS)

A promessa era demolir 71 habitações com amianto em quatro bairros sociais da autarquia e construir novas habitações sociais para realojar essas pessoas, aproveitando o projeto para aumentar o número de casas disponíveis para habitação social, num projeto orçamentado em 5 milhões de euros. Várias casas (mas menos de 71) estão em construção, e nenhuma foi para já demolida.

A dúvida — que a autarquia não esclareceu ao Observador — é se as novas casas são suficientes para alojar toda a gente que terá de sair das casas com amianto e se efetivamente haverá aumento do número de habitações sociais. Ainda assim, Paulo Cafôfo foi reeleito para um segundo mandato com maioria absoluta — 42,05% dos votos e seis dos 11 mandatos.

Demolição de casas com amianto no Funchal?

✓ – Luís Machado, Santa Marta de Penaguião (PS)

A promessa de Luís Machado, presidente da câmara de Santa Marta de Penaguião, era simples: reservar parte do orçamento municipal e implementar um Orçamento Participativo, “onde os penaguienses decidam através da sua participação qual o destino a dar a uma determinada percentagem do orçamento municipal”. Quatro anos depois, não foi dado início ao projeto.

Dificuldades financeiras, argumentou o autarca, impediram o arranque do projeto. Mas Luís Machado garante que a autarquia está pronta a implementar o Orçamento Participativo já no próximo mandato. E o socialista terá hipótese para o fazer, já que foi reeleito com maioria absoluta: com 62,2% dos votos, Luís Machado conseguiu eleger quatro dos cinco mandatos da câmara.

Orçamento Participativo em Santa Marta de Penaguião?

✓ – Adelino Soares, Vila do Bispo (PS)

Adelino Soares prometeu em 2013 requalificar a EN 268, única estrada que dá acesso à vila de Sagres. Muito movimentada por turistas e em más condições, o estado da estrada põe até em causa a segurança dos condutores. A autarquia argumenta que em curso o processo de transição da responsabilidade da EN 268 da Infraestruturas de Portugal para a autarquia.

Assim que a estrada passar para o poder da câmara, serão iniciadas obras para dotar a estrada “de novas infraestruturas, para o presente e futuro, como sejam passeios, iluminação pública, pluviais, saneamento, abastecimento de água, rede elétrica e telecomunicações, o que corresponde a um investimento total que será na ordem dos 2.500.000€“. E ainda será Adelino Soares a supervisionar a obra, uma vez que foi reeleito com maioria absoluta (54,94% dos votos e quatro dos cinco mandatos).

Requalificação da EN 268, a entrada de Sagres?

✓ – Amílcar Salvador, Trancoso (PS)

A Barragem da Teja, em Trancoso, tem desde 2013 uma intervenção prometida, com o objetivo de dotar o local de infraestruturas para a prática desportiva, mas a zona envolvente continua a degradar-se e não houve nenhuma obra nos últimos quatro anos. A autarquia nem começou projetos com vista ao cumprimento da promessa, e recusou prestar esclarecimentos ao Observador sobre se há ou não intenção de avançar com a requalificação.

No próximo mandato, o socialista Amílcar Salvador continua à frente da autarquia: foi reeleito com 56,21% dos votos, conquistando três dos cinco mandatos do executivo e ficando a governar o município com maioria absoluta.

Requalificação da Barragem da Teja em Trancoso?

✓ – Carlos Bernardes, Torres Vedras (PS)

Carlos Bernardes não é reeleito, na medida em que é a primeira vez que se apresenta a eleições. Mas já era presidente da câmara, uma vez que substituiu o anterior autarca, Carlos Miguel, quando este deixou a autarquia, em 2015, para ir para o Governo. A promessa já vem desde 2009 e foi repetida em 2013: construir um crematório no cemitério de S. Miguel, em Torres Vedras.

Ao Observador, Carlos Bernardes responsabilizou o mercado privado, que não viu “viabilidade financeira para o projeto”, e disse que já está em curso um novo modelo de construção e concessão da exploração do crematório. Bernardes foi eleito com 51,06% dos votos, elegendo seis dos nove mandatos que compõem a câmara e tendo maioria absoluta para decidir sobre a construção do crematório nos próximos quatro anos.

Construção de um crematório em Torres Vedras?

✗ – José Monteiro, Celorico da Beira (PS)

José Monteiro já não se candidatava — a lei de limitação de mandatos impedia-o –, mas no seu lugar concorria o seu chefe de gabinete, José Albano Marques. O PS governava o concelho confortavelmente e há anos que prometia reabrir as piscinas municipais. A polémica chegou a levar à demissão de uma vereadora, por não ter conseguido cumprir o que prometeu à população.

Este ano, os socialistas perderam a autarquia para o PSD, que conquistou 40,70% dos votos e dois dos cinco mandatos do executivo. Foi eleito presidente Carlos Manuel da Fonseca Ascensão.

Reabrir as Piscinas Municipais de Celorico da Beira?

✓ – José Calixto, Reguengos de Monsaraz (PS)

Reguengos de Monsaraz está desde 2009 para implementar um plano de salvaguarda da vila histórica de Monsaraz, que permita proteger os edifícios antigos e a cultura da vila. Mas, oito anos passados, continua sem haver um plano. A autarquia, liderada desde 2009 por José Calixto, diz que “este tipo de investimentos não tem tido financiamento comunitário, facto que tem atrasado a conclusão do plano”, mas garante que o plano será concluído nos próximos dois anos.

Será ainda José Calixto a liderar a câmara quando o plano vier a ser implementado, uma vez que o socialista foi reeleito para um terceiro mandato, com 63,11% dos votos e maioria absoluta (quatro dos cinco elementos do executivo).

Criar um plano de salvaguarda da vila de Monsaraz?