A University College London (CL), uma das mais importantes universidades de Inglaterra, vendeu ilegalmente órgãos artificiais que foram utilizados em transplantes experimentais não autorizados. Uma investigação feita aos investigadores que desenvolveram os implantes descobriu que os órgãos — uma traqueia, um duto lacrimal e uma artéria — foram enviados para um laboratório e depois testados em humanos, que eram tratados como cobaias. Por detrás do caso está Paolo Macchiarini, um cirurgião no centro de vários escândalos de experiências letais não autorizados e eticamente reprováveis na Suécia.

A investigação a este caso começou quando as autoridades desconfiaram da relação entre a universidade e Paolo Macchiarini, há muito conhecido pela polícia. Quando pertencia ao Instituto Karolinska (Suécia), Macchiarini afirmou ter inventado uma técnica de medicina regenerativa que permitia refazer vias aéreas com recurso a células estaminais em pacientes que sofreram traumas. O estudo de Macchiarini foi aprovado e a técnica foi utilizada em pessoas em vários países ao longo de anos, mas veio a descobrir-se que a maior parte das 17 pessoas em que a técnica foi experimentada morreram.

Nesse caso, Paolo Macchiarini utilizou órgãos artificiais utilizadas por Alexander Seifalian. Enquanto ainda trabalhava na University College London, Seifalian construiu uma tranqueia que foi implantada num homem de 36 anos natural da Eritreia e residente na Irlanda que tinha um cancro havia muitos anos. Depois do aparente sucesso da operação, Seifalian continuou a construir órgãos e a vendê-los a Macchiarini. No entanto, o material vendido por Alexander Seifalian na UCL foi produzido num laboratório que não tinha licença legal para fazer esse tipo de órgãos.

Macchiarini também usou os implantes em Teerão e em Zurique. Na capital iraniana, Macchiarini colocou uma artéria artificial na perna de um homem que acabou por apanhar uma infeção. A perna teve de ser amputada e a cirurgia nunca foi reportada. Já na Suíça, o cirurgião contratado por Macchiarini colocou um tubo lacrimal falso no olho de uma paciente, mas o seu estado de saúde não é conhecido.

Alexander Seifalian, que havia produzido esses implantes, foi despedido da universidade por um caso que não está relacionado com este, afirma a UCL. Quando questionado pela polícia, o cientista afirmou não saber que os órgãos iriam ser experimentados em cobaias humanas e defende-se dizendo que o laboratório recebeu certificação oficial pouco tempo depois de a venda ter ocorrido. No mesmo ano em que Seifalian foi despedido, Macchiarini foi afastado do Instituto Karolinska por “múltiplas violações às regras”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR