Há uma coisa que me acontece com frequência: um amigo apresenta-me outro amigo, cumprimentamo-nos, dizemos olá, conversamos e passados cinco segundos já não me lembro do nome da pessoa. Talvez não estivesse a prestar atenção ou talvez essa informação simplesmente voe demasiado rápido do meu cérebro. Mas a ciência diz que não sou a única.

Quantas vezes não se cruzou com alguém cujo nome não se lembra? É aquele momento embaraçoso em que temos de fazer toda uma conversa sem darmos a entender que não nos lembramos dos nome dessa pessoa. Não é um sinal da idade, como costumamos dizer. É mesmo até algo perfeitamente normal. David Ludden, professor de psicologia e autor do livro “The Psychology of Language”, escreveu no site Psychology Today que o ser humano é bastante bom a reconhecer rostos que já viu antes e esta é uma capacidade que nos foi dada pela evolução. E não só a nós. Muitos outros animais sociais reconhecem os seus companheiros de grupo pelos seus rostos e feições. O desafio está mesmo em lembrar os nomes que acompanham esses rostos.

E há uma explicação para isso.

Os nomes são arbitrários

A linguagem está relacionada com a memória. Muitas palavras comuns referem-se ao mesmo tipo de coisas. Se lhe falarem de uma maçã, consegue ter uma ideia de como a maçã se parece. Mas se um amigo lhe apresentar um colega de trabalho chamado, por exemplo, Pedro, não vai ter uma ideia de como ele se parece porque não sabe nada sobre o Pedro. A BBC explica que a nossa mente é associativa, ou seja, funciona a partir de padrões de informação conectados. O problema é que o colega de trabalho do seu amigo — o Pedro — é apenas uma informação arbitrária a que não conectou nenhuma outra informação e, para a sua memória, é uma informação desconectada de qualquer outra coisa que conheça.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Os nomes não têm sinónimos

Imagine aquela sensação de ter uma palavra na ponta da língua — sabe que há uma palavra especifica que quer usar mas parece que ela lhe está sempre a escapar. Felizmente, quase todas as palavras têm sinónimos e, quando isto acontece, conseguimos facilmente dar a volta à conversa usando uma outra palavra que se relacione com aquela que queríamos usar. Mas os nomes não têm sinónimos e o nosso cérebro não consegue associar qualquer outra palavra quando olhamos para o rosto de alguém.

A memória responde a associações

As nossas lembranças são surpreendentes mas, na verdade, elas respondem a quantas associações fazemos com novas informações. É por isso que nos lembramos de algumas coisas da nossa infância e de outras não. Uma boa forma de perceber esta analogia é o conceito de sonhar acordado: está a ler um livro que fala de Paris e por isso lembra-se da Torre Eiffel onde a sua irmã foi pedida em casamento no ano passado e, de repente, recorda o restaurante de pizzas onde foi com a mesma pessoa na semana passada e do livro que estava a ler. E as informações vão saltando umas por cima das outras porque cada uma se conecta à próxima, não por lógica, mas por coincidência de tempo, lugar e como essa informação chegou até si e o que ela significa. Enquanto não criamos associações com uma pessoa, é perfeitamente normal não nos lembrarmos do nome dela.

E os nomes são palavras que usamos com pouca frequência

Por exemplo, é mais fácil lembrar-se da palavra “transmitir” do que da palavra “disseminar” numa conversa. Está tudo relacionado com a frequência com que usamos as palavras. E o mesmo acontece com os nomes até quando as suas componentes são comuns, como Rita ou Cláudia. Mas Rita Pereira ou Cláudia Vieira já ocorrem com menos frequência e, por vezes, estamos a falar de um qualquer programa de televisão com uma destas atrizes mas não nos conseguimos lembrar exatamente do nome delas, ainda que estejamos a visualizar os seus rostos na nossa cabeça. Pergunta para queijinho: qual o nome do ator que protagonizou o filme “12 Anos Escravo”? De certeza que está a ver o rosto dele mas não se lembra do nome.

Em conclusão, esquecer o nome de alguém que conhecemos é tão banal quanto esquecer uma palavra que está mesmo, mesmo, mesmo na ponta da língua. Estes lapsos de memória são normais e não estão relacionados com qualquer sintoma de velhice ou falta de interesse pela outra pessoa.